Após novo revés no TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo, o futuro da carreira política do ex-juiz federal Sergio Moro está cada dia mais incerto. A volta ao domicílio ao Paraná também embaralha o jogo, principalmente se Moro decidir por disputar o Senado. O ex-ministro da Justiça também tem a possibilidade de concorrer a uma cadeira na Câmara de Deputados, mas independente do cargo que irá disputar, os analistas políticos ouvidos pela FOLHA avaliam que o ex-titular da Lava Jato sai com capital político ainda mais encolhido do novo episódio.

Para o cientista político e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Emerson Cervi, caso Moro defina por uma candidatura para o Senado pelo Paraná será mais uma afronta ao senador Alvaro Dias (Podemos), que foi o seu principal defensor no parlamento. "Seria a última fronteira que Moro cruzaria, de uma traição direta porque Alvaro Dias foi o político que mais o defendeu no Congresso Nacional desde a Lava Jato e depois. O Moro se voltar contra ele seria uma traição pessoal e seria muito desgastante." Antes dessa da ida de Moro ao União Brasil, Alvaro também foi o grande patrocinador do nome dele como presidenciável do Podemos.

Procurado pela reportagem sobre a hipótese, Alvaro Dias, que é candidato à reeleição no Senado, desconversou. "Não tenho informações a respeito de eventuais candidatos de outros partidos. Com relação ao meu partido, só em julho decidiremos. Como tenho mandato, estou aproveitando ao máximo o tempo para atuar no Senado, já que a campanha começa em agosto", respondeu por mensagem.

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IMPROVÁVEL

Já a possibilidade de Moro concorrer ao governo do Paraná é considerada bem improvável, segundo analistas. "É difícil Moro concorrer com chances ao governo do Estado, visto que o governador Ratinho Junior construiu uma infraestrutura de coligações partidárias muito ampla no Estado", avalia o professor de Ética e Filosofia Política na Universidade Estadual de Londrina, Clodomiro José Bannwart Júnior.

Bannwart considera que outro caminho seria concorrer à Câmara de Deputados, mas neste caso ele teria outro concorrente no mesmo nicho da bandeira lavajatistas: o ex-procurador da República, Deltan Dallagnol (Podemos). "É provável que Moro concorra a deputado federal, servindo de puxador de votos. Mesmo disputando votos com o Deltan, creio que haverá espaço para os dois serem eleitos. O antipetismo continua com adesão no Estado, o que ajuda, nesse caso, a pavimentar o discurso de ambos, fazendo, é claro, um remake do tripé de 2018: 'combate à corrupção, lavajatismo, antipetismo'. Pegarão uma faixa do eleitorado que, ao que aparece, ainda se vale dessa leitura."

Já Cervi ainda ressalta que Moro terá outros desafios no União Brasil no âmbito local. Isso porque a legenda é comandada pelo ex-deputado e delegado Fernando Francischini. "A família chegou a ficar mais distante do Bolsonaro em 2020, mas recentemente, por conta dessa cassação do mandato de deputado, houve uma reaproximação. Sem dúvida, uma candidatura do Moro passaria pela aprovação dos Francischini e, consequentemente, por Bolsonaro e não me parece que o presidente quer ter Moro no Senado em 2023, sendo reeleito ou não. Por outro lado, o ex-juiz será uma carta na manga para negociações com o governador ", aponta.

Já sobre o futuro de Alvaro Dias, o cientista político afirma que hoje a preocupação do senador está em ter o apoio do governador. "O Alvaro não pode escolher adversário, mas hoje ele também se preocupa em saber com quem o Ratinho Junior vai. Tudo gira em torno disso, se será um apoio explícito. ou não." O pré-candidato de Bolsonaro no Paraná ao Senado é o deputado federal Paulo Martins (PL), mas Ratinho Junior ainda não definiu esse nome. "Seriam três candidatos disputando o mesmo espectro político Moro, Alvaro e Paulo Martins."

DESGASTE

Da aposta de que ele seria uma opção para a terceira via na eleição presidencial até a impugnação de seu domicílio eleitoral em São Paulo, o capital político de Moro só tem encolhido. "Na verdade, sua imagem tem se desgastado politicamente desde que deixou a Magistratura para servir ao governo Bolsonaro. Num país polarizado entre Lula Bolsonaro, e com a terceira via inviabilizada, Moro sofre críticas dos dois grupos que disputam a política nacional, restando-lhe pouco espaço de ação. Sobra-lhe a bandeira no lavajatismo, também desgastada e muito criticada atualmente", diz Bannwart Junior.

Dirigentes do União Brasil encomendaram pesquisas para medir a temperatura da popularidade de Moro. Segundo Emerson Cervi, apesar das escolhas "erráticas" de Moro, o ex-juiz ainda pode ser considerado um ativo ao União Brasil. "Ele pode ser um ativo para partidos políticos, enquanto ele tiver base na opinião pública, ou como puxador de votos, o que daria visibilidade ao partido e isso compensaria o ônus de ser alguém que traz pautas que desagradam a elite política brasileira, independente do partido."

Cervi ainda diz que há entendimentos jurídicos que apontam que Moro também poderá ser questionado sobre o registro de candidatura no Paraná. "Como ele mudou de partido um dia antes de solicitar a transferência de domicílio e se filiou ao União de São Paulo, a há quem diga que se a domicílio não foi aceito a filiação não foi concluída e com isso, ele não poderia concorrer. "

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