Pela primeira vez desde que o Plano Real foi implementado no Brasil, em julho de 1994, a construção civil registrou crescimento por sete trimestres consecutivos. Mesmo com as incertezas geradas pela pandemia, há 21 meses o setor se mantém em expansão. O bom momento se confirma pelo número de lançamentos e também pelo nível de emprego. De julho de 2020 a abril deste ano, foram gerados 500 mil postos formais de trabalho. Somente no último mês de abril, foram 25.341 novas vagas com carteira assinada no país, conforme o Caged (Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Mais de 40% de toda essa mão de obra foi absorvida pelo segmento de construção de edifícios, gerando um impacto direto no mercado imobiliário.

A Região Sul se destaca nesse cenário promissor. Juntos, os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul representam 18,76% da construção nacional, atrás apenas da Região Sudeste, que detém a maior fatia. O levantamento foi feito pela Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a economista da entidade, Ieda Vasconcelos, o nível de atividade da construção na Região Sul em abril deste ano foi o maior para o mês desde 2010. Os dados fazem parte da Sondagem da Construção Civil realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). “O resultado superou, inclusive, o bom desempenho registrado em 2021”, destacou a economista.

Vasconcelos lembra que a Região Sul também acompanhou a alta no nível de empregabilidade no setor e foi responsável por 16,48% dos mais de 25 mil trabalhadores contratados no Brasil em abril. Mesmo com saldo negativo de 124 vagas no Paraná naquele mês, o que segundo a economista pode ser explicado pela retração no segmento de infraestrutura, que perdeu 358 vagas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão entre os dez maiores geradores de novos empregos na construção no primeiro quadrimestre deste ano. Santa Catarina é o quarto colocado, seguido por Rio Grande do Sul, em oitavo, e Paraná, em nono. Entre janeiro e abril de 2022, esses três estados criaram, respectivamente, 11 mil, 4.300 e 4.200 vagas.

Em 2021, o setor cresceu 9,7% e, neste ano, a expectativa é de um crescimento mais modesto, na ordem de 2,5%. “É um crescimento menor, mas crescemos 2,5% em cima de uma base muito elevada. E os 9,7% de crescimento foram em cima de uma base mais deprimida, que foi de 6,3% em 2020”, justificou Vasconcelos. “É importante ressaltar que, pelo segundo ano consecutivo, a construção civil no país vai crescer acima da economia nacional. No ano passado, a economia brasileira cresceu 4,1% e a construção civil, 9,7%. Neste ano, a economia não vai crescer mais do que 1,5%, em um cenário otimista. Isso não acontecia no setor desde 2013.”

LANÇAMENTOS

No primeiro trimestre de 2022, 18% do total de lançamentos imobiliários foram na Região Sul, que também contabilizou mais de 20% das vendas nacionais. “O nível de atividade dos empresários da Região Sul em 2022 é o maior desde abril de 2010”, apontou Vasconcelos. “As empresas de construção usaram 68% de sua capacidade total de produção em abril, o maior percentual para o mês desde abril de 2014”, completou. O índice está um pouco acima do registrado no país, que ficou em 67%.

Os indicadores positivos do Sul mantêm o otimismo dos empresários da construção civil para lançar novos empreendimentos e aumentar o nível de atividade, com a compra de insumos e contratação de mão de obra mesmo sob tendência de queda. “Os indicadores nacionais estão evidenciando uma queda tênue dos lançamentos no primeiro trimestre de 2022 ante o mesmo período de 2021 e uma queda mais forte ante o final de 2021, mas as vendas continuam se sustentando, com baixa dos estoques”, afirmou o sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Tadeu Araújo.

No Paraná, no entanto, houve uma redução de 29% nos lançamentos na comparação entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2022 e queda de 9% entre o primeiro trimestre deste ano ante igual período do ano passado.

No último trimestre de 2021, foram lançados 6.513 projetos de edifícios residenciais no Paraná contra 4.643 no primeiro trimestre deste ano. No primeiro trimestre de 2021, foram 5.090 empreendimentos desse tipo lançados no Estado.

De todas as unidades lançadas em Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre no primeiro trimestre deste ano, 59% se concentraram na capital paranaense, segundo a Cbic. As vendas em Curitiba colocaram no mercado o total de R$ 1,3 bilhão. “Em Curitiba, o mercado tem se recuperado muito”, disse Araújo.

A construtora londrinense A.Yoshii, conhecida por colocar no mercado de Londrina, Maringá e Curitiba imóveis de alto padrão, planeja para este ano o lançamento de oito empreendimentos, divididos entre os três municípios paranaenses e a contratação de 650 trabalhadores que irão se somar aos cerca de 350 já empregados desde janeiro deste ano, totalizando em dezembro em torno de mil novos funcionários. “Em 2020 e em 2021 aumentamos entre 20% e 25% o nosso quadro de funcionários e vamos aumentar ainda mais em 2022”, adiantou o diretor estatutário da A.Yoshii, Aparecido Siqueira. As vagas são para funções operacionais, administrativas e gestão. “O mercado está em ascensão, está aquecido. O que nós lançamos recentemente, vendeu 100%. Nossos imóveis são de alto padrão e o mercado não para.”

Elevação dos custos de produção preocupa o setor

Uma preocupação cada vez mais crescente entre os empresários da construção civil é a elevação dos custos de produção. De acordo com o INCC (Índice Nacional da Construção Civil), o custo de materiais e equipamentos aumentou quase 50% no período de julho de 2020 a abril de 2022. A inflação no preço dos insumos elevou o custo total da construção em quase 25%. Alguns itens chegaram a ser reajustados em 200%. Os custos com mão de obra subiram 11% e o de serviços, 16%.

Leia mais: https://www.folhadelondrina.com.br/economia/ibge-lanca-processo-seletivo-com-mais-de-4-mil-vagas-no-parana-3206643e.html

“A percepção dos empresários do setor no primeiro quadrimestre deste ano na Região Sul comparada com o Brasil é a mesma. Aumentos que nos rementem ao período pré-Real, com inflação maior. Mas todas as construtoras estão com aumento de preços de seus produtos inferior ao incremento de seus custos”, observou a economista da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Ieda Vasconcelos.

“Há um descasamento entre a inflação da construção civil e a inflação do Brasil. A nossa inflação são índices só compatíveis com o período anterior ao Plano Real. Estávamos totalmente despreparados. O aumento do custo acabou pegando cada obra em um estágio evolutivo e o aumento foi incorporado proporcionalmente ao que ainda precisava ser executado em cada projeto. Mas nos imóveis ainda não lançados, o impacto será sobre o valor total”, completou o presidente da Cbic, José Carlos Martins.

O sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Tadeu Araújo, aponta a preocupação de se manter medidas de aquecimento para o setor. Ele ressaltou os resultados da construção civil na geração de empregos e a importância da construção civil para a recuperação da economia brasileira durante a pandemia e avaliou que se a queda no volume de lançamentos que começa a se desenhar não for revertida, a geração de postos de trabalho pelo setor também poderá cair.”

Presidente do Sinduscon Paraná Norte, Sandro Nóbrega lembrou que a alta dos preços dos insumos forçou o adiamento de alguns projetos enquanto outros tiveram de ter seus valores reajustados. Aço, cimento, vidro, alumínio, cobre e outras matérias-primas que demandam energia elétrica para serem produzidas tiveram um aumento de preço muito elevado, com alta também no custo do frete. “Temos um viés de alta ainda. Temos oferta e temos demanda. Nossa demanda é de cerca de 5.500 unidades habitacionais por ano. Mas precisamos resolver o problema do custo da matéria-prima”, disse Nóbrega.

Uma solução já adotada pelos empresários associados ao Sinduscon foi a formação de consórcios para viabilizar as importações dos insumos. O aço utilizado pelas empresas do setor já é adquirido no mercado externo e o mesmo pode acontecer com outros itens, como o cimento. “Estamos preocupados com essa alta porque quem absorve é o consumidor final”, disse Nóbrega.

Reduzir o impacto do aumento dos preços dos materiais, porém, é apenas uma medida das medidas possíveis para manter as vendas do setor aquecidas. Qualificar mão de obra, negociar com os governos a redução de impostos, negociar com as instituições financeiras melhores condições de financiamento também estão entre o conjunto de decisões que precisam ser tomadas, apontou o presidente do Sinduscon.

“O estoque estava alto em 2020. Houve campanhas de liquidação, facilitação da compra e viabilizaram a comercialização desses imóveis. Agora, o estoque está extremamente baixo. O que estamos lançando, estamos vendendo. Temos a preocupação de suprimir todos os segmentos sociais com a quantidade adequada de unidades habitacionais.”

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