Era uma sexta-feira e eu precisei ir à agência bancária resolver um assunto. Estava há meia hora com a senha em mãos e, mesmo com poucos clientes a serem atendidos, percebi que a minha vez iria demorar. Sei que existe lei sobre o tempo de espera em filas de bancos, mas como ninguém a cumpre, tentei me concentrar em outros assuntos, até para fugir da sonoridade irritante do painel que anuncia as senhas.

Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA - Conversa de banco
| Foto: Marco Jacobsen

Quase não notei quando uma pessoa sentou-se perto de mim. Ela começou a falar alto ao celular, sendo impossível não percebê-la e, de modo involuntário, tomar parte da conversa. Logo soube que seu nome era Fátima, trabalhava na área imobiliária e estava falando com o jardineiro. A troca de chamadas era tão intensa que pensei em mudar de lugar, mas o assunto despertou minha atenção porque se tratava de árvores e flores. Depois de várias trocas de informações com o jardineiro no viva voz, ela ajustou a máscara sobre o nariz e, parecendo abstraída de tudo á sua volta, virou-se para mim, dizendo:

- Desculpe se lhe incomodei, mas tenho um assunto importante pra resolver.

Respondi que podia ficar à vontade. Logo o jardineiro voltou a ligar perguntando quais espécies de flores ela gostaria de plantar. Ela disse que precisava de um tempo para pensar. Dito isso, novamente me dirigiu a palavra:

- Estou numa correria maluca. Em consequência da pandemia, as pessoas que vivem em apartamentos desejam se mudar para casas e aquelas que moram em casas querem reformar seus imóveis para alugar. Atendo muita gente, mas não dou conta de cuidar de mim. E agora vem o jardineiro perguntando sobre quais plantas eu quero colocar no jardim!

Percebendo que ela tinha desligado o celular, puxei conversa indagando sobre o tamanho da casa, a área do jardim, gramado e calçadas, luminosidade e insolação, condições do solo e os tipos de plantas e flores que já existiam no lugar.

De acordo com as respostas, sugeri que plantasse um pé de guabiroba no quintal dos fundos e flores na frente da casa. Expliquei que a guabiroba é uma árvore nativa do Brasil, que fica linda na floração, produz frutos pequenos e saborosos que servem de alimento a diversas espécies de pássaros.

Quanto às flores, propus que fizesse um canteiro de ixoras misturando suas diversas cores, contornando a frente da casa. Falei que a ixora é um arbusto rústico e exótico, originário da Ásia, que não requer muitos cuidados e suas flores atraem borboletas e beija-flores. Como gosta bastante de sol, se adapta bem ao clima do norte do Paraná.

Nos últimos anos os paisagistas e jardineiros de Londrina descobriram e se encantaram pela planta. Basta dar uma volta pela cidade para ver canteiros de ixoras embelezando os jardins de residências, condomínios, casas comerciais e clínicas. Esclareci que nas floriculturas e viveiros de mudas podem ser encontradas ixoras anãs, médias e gigantes em várias tonalidades: vermelhas, amarelas, rosas, brancas e alaranjadas. E até azuis. Finalizei dizendo que as ixoras só precisam ser regadas de vez em quando, para darem flores o ano inteiro.

Ela agradeceu pelas dicas e ligou para o jardineiro:

- Já decidi. Pode comprar uma guabiroba e vários tipos de ixoras. Vamos colocar a árvore no fundo do quintal e as flores entre a garagem e a entrada da casa. Mas compre flores vermelhas, amarelas e brancas. E também azuis, caso encontre.

Ele respondeu:

- Acho que a ixoria vai dar certo. Tá usando bastante essa flor pela cidade. A guabiroba eu acho que é muito grande, mas a senhora é quem manda.

Poucos instantes depois fui chamado para o atendimento. Me despedi da Fátima dizendo que o jardim ficaria bonito. Sem perguntar qualquer coisa a meu respeito, ela agradeceu pela ajuda e me deu seu cartão de visitas, caso eu precisasse de alguma coisa no ramo imobiliário.

Resolvida com rapidez a pendência no banco, fui embora ciente de que a tecnologia traz um ganho significativo para o nosso dia a dia, serve para melhorar a comunicação e aproximar as pessoas, mas também pode atrapalhar a convivência humana quando é mal utilizada. Para minha sorte, nessa estória de ixoras prevaleceu a primeira hipótese.

Gerson Antonio Melatti, leitor da FOLHA!