Mesmo antes da pandemia, a carestia vinha crescendo no Brasil. Em 2013, as dificuldades econômicas do país encontraram forte acirramento e, de lá para cá, entre idas e vindas, o brasileiro se equilibra como pode. Em Londrina, basta passar de carro pela área central da cidade para perceber que vem aumentando o número de pessoas com cartazes pedindo ajuda nos semáforos.

Reportagem da Folha de Londrina deste fim de semana traz um retrato desta situação. Entre 2019 e 2021, o número de famílias vivendo na pobreza e na extrema pobreza em Londrina cresceu 34,83%. No período, houve um aumento gradual da condição de vulnerabilidade econômica e social da população, com impacto direto na condução das políticas públicas.

Imagem ilustrativa da imagem EDITORIAL - O aumento da pobreza extrema
| Foto: Roberto Custódio

Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Assistência Social, em 2019 havia no município 23.199 inscritos no CadÚnico (Cadastro Único) com renda familiar per capita entre R$ 0,00 e R$ 178. No ano seguinte, o número de famílias enquadradas nessa faixa de renda cresceu 19,28%, passando para 27.672 e, no ano passado, com o empobrecimento de mais de oito mil famílias, chegou a 31.281, o equivalente a 5,3% da população total do município.

Uma entrevista com a secretária municipal de Assistência Social, Jacqueline Micali, dá uma ideia do impacto que a crise econômica teve sobre a vida dos mais vulneráveis. Essa pasta é a porta de entrada para as demandas que surgem com a expansão da pobreza e da miséria.

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O aumento do número de cidadãos vivendo nessas condições amplia a necessidade de políticas públicas não só na área da assistência social, mas também na educação, saúde, habitação e segurança. “Não é uma demanda de uma ou de dez famílias. É uma demanda estrutural do município, Estado e União que se reflete no que estamos vendo no dia a dia”, afirmou Micali, em entrevista à FOLHA.

Ao longo dos últimos anos, a situação das famílias de baixa renda evoluiu a um ponto em que não há mais despesas supérfluas a serem cortadas do orçamento. Essa parcela da sociedade passou a ter de optar pelo que é indispensável entre os itens essenciais e se viu obrigada a escolher entre pagar a água e a luz, comprar remédios ou o botijão de gás. Um dilema triste que a reportagem mostra nesta edição.

É a história da dona de casa Aparecida Paulino Pereira José, 83 anos, moradora da ocupação do Aparecidinha, na zona norte de Londrina. Até um tempo atrás ela contou que era possível comer carne de uma a duas vezes na semana e usar o fogão a gás para preparar os alimentos. Duas coisas que hoje passaram a ser luxo na família de três pessoas.

Interromper esse linha crescente da pobreza no Brasil deve ser compromisso principal dos candidatos a ocupar a cadeira de presidente do país a partir de 2023. A miséria é um diagnóstico que exige medidas complexas que deve começar com a diminuição da desigualdade econômica e social. Não há tempo a perder.

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