Janeiro, o mês dos novos planos, novas metas e inúmeras expectativas para o ano que se inicia. Porém, para muitas pessoas, tantas oportunidades e intenções se tornam um grande peso. Afinal, esse é um período perfeito para as comparações e cobranças internas ganharem ainda mais força. “Por que a minha vida não vai para frente?”, “Por que eu não sou feliz como as pessoas que me cercam?” ou “Por que não consigo cumprir os meus planos?” são perguntas que costumam assombrar a mente de quem tem dificuldade em lidar com esses novos ciclos.

Imagem ilustrativa da imagem Janeiro Branco é um convite aos cuidados com a saúde mental
| Foto: iStock

Com objetivo de chamar a atenção da sociedade para a questão dos cuidados com a saúde mental, psicólogos de Uberlândia (MG) criaram o Janeiro Branco. A ideia principal da campanha é enfatizar o tema na vida da população, pois muitos ainda relacionam um bem-estar mental à ausência de distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade etc.

Psicanalista há 16 anos, Sylvio do Amaral Schreiner acredita que a pandemia da Covid-19 trouxe mais atenção à saúde mental como um todo, porém ele afirma que o assunto ainda é tabu. “O tema da saúde mental ficava restrito aos grupos considerados como "loucos", fracos e coisas assim. Agora já se admite pelo menos que todo mundo tem problemas de saúde mental. E quando eu digo que todo mundo tem problema de saúde mental, me refiro às dificuldades de lidar com o que sente, com as emoções e com os sentimentos”, analisa.

COMPARAÇÕES E EXPECTATIVAS

As festas do fim e começo do ano costumam causar muita angústia para uma parte da população – em especial para aqueles que lidam com algum tipo de distúrbio psicológico. De acordo com o psicanalista, os encontros em festas e comemorações desse período geram uma sobrecarga emocional de pessoas, que se comparam umas com outras, há brigas familiares, desentendimentos e um sentimento de fracasso. “Isso acaba sendo muito mais um peso e uma pressão do que algo como um caminho que se abre. Muitas pessoas já começam o ano estressadas, angustiadas, depressivas ou excessivamente preocupadas de como elas vão viver esse ano novo”, enfatiza.

Essa idealização de como a vida deveria ser afeta, em especial, pessoas com distúrbios psicológicos. Segundo o profissional, “as pessoas também acham que precisam ser perfeitas, acham que a vida tem que ser quase como uma vitrine, que muitas vezes a gente vê em filmes, novelas e principalmente nas redes sociais e a vida não é assim. Ela é feita de muitas dificuldades, muitas adversidades e isso faz parte, não tem nada errado”.

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‘BUSQUE AJUDA. NÃO ENFRENTE SOZINHO’

Em recente publicação nas suas redes sociais, o influencer digital e empresário Felipe Neto declarou estar enfrentando a depressão e contando com o auxílio de profissionais, amigos, família e medicamentos. Na postagem em seu Instagram, Felipe diz que está “no fundo do poço”. Ele também enfatizou que essa é uma batalha que não se vence sozinho e que toda ajuda é necessária. “A dor ensina. Eu sei q muitos q estão lendo isso estão com dores ainda maiores. E nesse momento, preciso que todos entendam: a gente não vence sozinho. Tentar enfrentar a depressão sozinho é como entrar em campo sozinho e sem goleiro e tentar vencer (...) Você não vai vencer. Eu só estou aqui, de pé, pq desde q afundei meus amigos organizaram um rodízio pra ficar sempre gente na minha casa 24h”, escreveu.

O influencer ainda falou sobre a necessidade de acompanhamento psiquiátrico e medicação e incentivou os seus seguidores a procurem ajuda nesses momentos difíceis.

Para Schreiner, figuras influentes e famosas que falam publicamente sobre a sua saúde mental criam um impacto positivo, pois o público reconhece que outras pessoas também passam por momentos difíceis, o que gera uma identificação e humanização do tema. “Uma pessoa pode até ter fama, dinheiro e reconhecimento e mesmo assim ela pode estar vivendo psiquicamente muito pobre. A pobreza na saúde mental não vê classe, condição financeira, escolaridade. Ela pega todo mundo”, afirma.

apoio emocional do cvv

Por se tratar de problemas subjetivos e não visíveis aos olhos, temas relacionados à saúde mental acabam sendo abordados de maneira errônea, segundo o psicanalista. “Se uma pessoa quebrar um braço, tem um raio X que mostra.. Mas uma pessoa com depressão ou com síndrome do pânico, por exemplo, não tem radiografia ou exame. E a gente tende a culpar quem sofre, dizendo ‘ah, a culpa é da pessoa, ela não sabe lidar com a vida, é fraca’, porque a gente sempre tende a trazer uma culpa para a pessoa como se aquilo lá não fosse algo real, não fosse algo sério”, explica.

O CVV (Centro de Valorização da Vida) de Londrina, assim como os outros postos do Brasil, atende através do telefone 188, web-chat, skype e e-mail. O porta-voz do CVV da cidade, Aparecido Carlos Beltrami, afirma que o número de ligações aumenta nesse período de fim e começo do ano. “O posto de Londrina atende, aproximadamente, 85 ligações por dia. Em dezembro esse número sobe para 98 e em janeiro continua no mesmo ritmo”, informa.

Perda de vontade de fazer coisas que antes eram prazerosas, irritabilidade e mudanças bruscas de comportamento são sinais que é hora de procurar ajuda profissional. "Se a vida está sendo mais um fardo do que um prazer, então é sinal de que algo não está bem nessa conta e a gente precisa rever então o que está acontecendo", observa o psicanalista.

Imagem ilustrativa da imagem Janeiro Branco é um convite aos cuidados com a saúde mental
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SAÚDE METAL E FÍSICA PRECISAM ESTAR ALINHADAS

Um dos meios de manter a saúde mental em dia é encontrar um equilíbrio com a saúde do corpo, que pode ser trabalhada através da alimentação e exercícios físicos. Nutricionista há mais de 16 anos, Sumaya Brandão explica que existe uma relação completa entre mente e corpo. Hidratação e uma boa alimentação desintoxicante são as bases para manter um funcionamento ideal das atividades corporais.

No dia a dia, de acordo com a profissional, o ideal é consumir menos alimentos industrializados, que têm conservantes, corantes e inflamatórios (que é o caso do excesso de glúten, leites e farinhas em geral). Já chás, legumes e verduras precisam estar na dieta de quem quer ter uma vida mais saudável.

“Uma boa rotina alimentar requer uma ótima hidratação, um consumo de diário, no almoço e na janta, de pelo menos meio prato de salada, mais carnes brancas, como peixes e frangos, além do consumo de ovos e castanhas. Isso é uma alimentação saudável que condiz com um bom comportamento tanto metabólico quanto mental”, detalha a nutricionista.

Além disso, o excesso de drogas, álcool e tabaco aumenta as cargas tóxica do corpo. A nutricionista ainda afirma que “através da alimentação eu mantenho, não só uma boa estrutura mental, raciocínio, inteligência, desenvolvimento adequado, como também uma adequação na prevenção de ansiedade, transtornos de alteração de neurotransmissores e também Parkinson, Alzheimer, trabalhando na parte neuro funcional”.

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