Na comunicação há a utilização de signos linguísticos, aqueles ligados aos significados das palavras, e ao pronunciá-las recorre-se ao conhecimento individual e detém o significado atrelado ao assunto. No ato de comunicar é importante utilizar formas linguísticas que se adequem ao contexto, para que não haja falha ou equívocos para se entender a mensagem.

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| Foto: Folha Arte

Segundo a professora Dircel Aparecida Krailer, doutora e chefe do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da UEL (Universidade Estadual de Londrina), nem sempre a nossa língua foi da forma e da maneira como é usada hoje em dia. Com o passar dos anos e com as mudanças no contexto, a língua portuguesa sofreu alterações nos modos de fala e escrita, mudou e se adaptou. "Com os meios digitais, as informações chegam e são disseminadas rapidamente. Na atualidade, o acesso ao conhecimento é viável independe da distância. Temos como ler textos de autores de diversos países, conhecer a cultura de diferentes povos, entrar em contato com pessoas do outro lado do mundo instantaneamente e isso, naturalmente, traz muitos benefícios sociais, culturais e econômicos. No entanto, essa rapidez, na transmissão e no acesso às informações, pode, também, causar prejuízos quando acreditamos em conteúdos falsos (lemos uma única fonte); quando não sabemos identificar a ideologia que se "esconde" na escolha do vocabulário, no uso da pontuação, ou seja, no que está dito nas entrelinhas; quando, por desconhecimento de algumas regras da língua (quanto à ortografia, à ortoépia, à prosódia, à pontuação, à concordância, regência, entre outras), não escrevemos ou falamos aquilo que tínhamos a intenção de comunicar", ensina.

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E assim como todas as outras línguas que existem, há regras e normas ligadas às práticas linguísticas, que se aprende nas escolas, nos livros, manuais, jornais, filmes, músicas, entre outros meios, que preservam a linguagem culta e garantem que os dialetos digitais não transformem a sociedade na famosa fábula bíblica da Torre de Babel. Essas normas estão ligadas a situações nas quais se faz necessário o uso formal de fala e escrita que podem ser tanto uma entrevista de emprego como uma conversa por aplicativos de mensagens. Krailer alerta que quando se escreve, em qualquer plataforma digital, seja SMS, WhatsApp, e-mails, chats, fóruns, blogs, jornal ou um simples bilhete, é preciso pensar em quem vai receber a mensagem e se o texto ficará exposto para outras pessoas. "Há empresas que, antes de contratar um funcionário, visitam a página pessoal do candidato para conhecê-lo melhor. Acredito que não avaliariam negativamente se encontrassem, em uma conversa informal, um kkk ou rsrs para risos, vlw para valeu, pois o ambiente é propício para essas abreviações, pela rapidez e informalidade. Por outro lado, penso que o candidato seria avaliado negativamente se, na mesma conversa, cometesse erros como: seje feliz em vez de seja feliz, meia cansada em vez de meio cansada; ouveram mortos no acidente em vez de houve mortos no acidente".

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Quando se trata da linguagem escrita, ocorre que uma grande parcela da sociedade tenha marcas dessa oralidade. A professora entende que é preciso identificar e adequar a linguagem para cada meio. "Há alguns usos que não são estigmatizados na fala, mas não podem ir para a escrita, como por exemplo o apagamento do erre em verbos no infinitivo (ver ~ vê), monotongação (beijo ~ bejo), alçamento das vogais (menino ~ mininu). Outros que mesmo na fala são marcados como o rotacismo (pobrema ~ problema), a metátese (percisa ~ precisa), entre outros. Há erros ortográficos, por exemplo, por conta da grafia do fonema /s/ em palavras como: impressionante e suspensão, que algumas pessoas, por desconhecerem ou ignorarem as regras ortográficas, escrevem “imprecionante” com c e “suspenção” com ç. O mesmo pode acontecer com a grafia do fonema /z/ em paralisação e casa, há quem escreva “paralização” e “caza” com z".

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Kraiser encontra em algumas dessas ocasiões marcas de conversa rápida, demonstram falta de conhecimento da ortografia e das regras básicas da língua portuguesa e, muitas vezes, serão estigmatizados em contexto formal. Conforme ocorreu com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que falou conge em vez de cônjuge, fazendo uso de um processo fonético-fonológico muito comum na língua portuguesa, a síncope das proparoxítona, como ocorre com xicra em vez de xícara, corgo em vez de córrego. Outro exemplo ocorreu com o ministro da Educação, Abraham Weintraub que cometeu, recentemente, em uma rede social (twitter), um erro ortográfico na escrita da palavra impressionante, usando c em vez de ss.

Esses dois exemplos chamam atenção pela representação social que os dois ministros têm devido aos cargos que ocupam. "Naturalmente, não acreditamos que a competência das pessoas deva ser julgada por um ou outro desvio/ erro no uso da língua. No entanto, em nossa sociedade, muitas vezes vemos pessoas sendo consideradas analfabetas por cometerem alguns erros ou desvios da norma culta, enquanto outras, com erros e desvios semelhantes, não sofrem o mesmo preconceito linguístico, considera-se que tiveram apenas um lapso no uso da língua".

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Cristina Valéria Bulhões Simon, professora doutora e coordenadora do Disque - Gramática da UEL, pontua que nas redes sociais são comuns publicações com inadequações em relação a linguagem padrão. “Nem sempre a normal culta é a norma praticada pelo falante, e esse é um tema pertinente”. Simon acredita que a norma culta é de extrema importância para a comunicação nos meios digitais, pois, de certa forma as informações precisam ser bem colocadas. “Há muita exposição nas redes sociais, por isso, é importante ter clareza nos instrumentos linguísticos para não virar motivo de deboches”. Outro ponto pertinente é a associação da imagem pessoal e profissional ao que escrevemos, os vocabulários imprecisos precisam ser corrigidos, as normas estão ligadas diretamente às questões culturais e políticas. Por mais que em determinados momentos estamos mais relaxados, e descuidemos da linguagem, é importante conhecer as formas adequadas e seus usos.

Ainda é preciso entender que as novas tecnologias e o meio digital surgem como novidades, diminuindo as barreiras sociais e culturais, criando novas interações por meio das redes, onde a velocidade da informação ganha um espaço surpreendente e junto a ela outra dinâmica linguística é criada e pode ocasionar problemas na comunicação e falsos entendimentos. Ao que a professora Kraiser acrescenta que um discurso nunca é neutro, é sempre carregado de ideologia, e depende muito de como se faz o uso da linguagem, pontuação, acentuação, concor- dância, regência e escolha vocabular. “A língua não piora nem melhora com o passar do tempo, apenas varia e, às vezes, muda refletindo os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos de um povo em uma determinada época”.

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