Imagem ilustrativa da imagem As pessoas por trás dos números
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Números muitas vezes podem mostrar frieza em relação a um determinado segmento. Mas não é o caso do agronegócio. Por trás do crescimento pujante expresso por meio de dados econômicos fantásticos em relação ao que o Paraná e o Brasil produzem, estão homens e mulheres protagonistas da terra, provando porque dos 399 municípios do Estado, 235 deles têm o campo como maior fonte de renda.

Em todas as regiões que se coloca uma lupa para análise, lá estão números latentes e produtores trabalhando pesado para que essas métricas se concretizem. São pessoas reais, que trabalham de sol a sol, que dão ao Brasil esse status de que “o agronegócio puxa a economia”. Na comemoração do Dia do Agricultor, neste domingo (28), a Folha Rural mostra como os produtores conseguem mostrar sua relevância em todos os segmentos que compõem a cadeia do agro: pesquisa, extensão, comercialização, meio ambiente, tecnologia, clima... Nada se desenvolve sem o braço forte de um produtor ou produtora.

A Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), durante esta semana, elencou motivos para celebrar a data, muitos deles sobre a relevância econômica. Só no ano passado as lavouras paranaenses renderam R$ 42 bilhões, sendo 840 mil pessoas empregadas na produção. No meio ambiente, 27% das propriedades rurais são destinadas à proteção ambiental, em torno de quatro milhões de hectares. Soja, milho, frango, leite e suínos são destaque, mas com tantas outras culturas importantes.

O presidente do Sistema Faep, Ágide Meneguette, faz uma questionamento provocativo para exaltar o agro e seus produtores: “O Brasil com todas essas crises econômicas, com 13 milhões de desempregados, 24 milhões de pessoas vivendo de bico, imagine se não tivéssemos o setor rural produzindo, com profissionalismo, com as exportações e a geração de riquezas nos estados? Se a expectativa do PIB caiu, imagine o que estaria acontecendo se o produtor não estivesse trabalhando no dia a dia, de sol a sol?”

Na concepção de Meneguette, para que o produtor consiga atuar em todas essas frentes do agro, a sociedade precisa estar engajada, inclusive com melhorias no ensino, que dependem do Estado. “Precisamos de uma geração de brasileiros e paranaenses com base melhor para enfrentar essa concorrência do Mercosul e da Europa. Temos desafios para o uso de tecnologias, insumos agrícolas, equipamentos, agricultura de precisão... No Paraná os produtores estão conscientes e atualizados, mas é um desafio sempre permanente essa atualização.”

Por outro lado, o presidente da Faep olha para o futuro, já que é preciso ações da iniciativa privada para que os produtores continuem se desenvolvendo. “Precisamos fazer investimentos pesados na área de distribuição de energia e também de comunicação, para ter sinal de internet e telefone. O Estado está sobrecarregado, não consegue lidar com a folha de pagamento e ainda fazer investimentos, por isso a iniciativa privada precisa contribuir e o produtor trabalhar. Fico com aquela máxima de que se os governos estadual e federal não nos atrapalhar, já está bom.”

HOMENAGEM

Em tom de homenagem aos produtores do Estado, o secretário da agricultura, Norberto Ortigara, dá dicas sobre atitudes que podem auxiliá-los a ter sucesso no campo. “Agricultura é sempre um desafio. Riscos climáticos, biológicos e de mercado. Perpetuar a capacidade de produzir, com adequado manejo de solos e água é fundamental. Um solo bem resolvido quimicamente, fisicamente e biologicamente é o mote do sucesso, sem erosão, sem compactação e cobertura permanente. Parcimônia no uso dos químicos faz bem ao ambiente, à saúde e aos custos. Sanidade como um ativo valioso. Atualização tecnológica, boas práticas. Só assim continuaremos a ser protagonistas no mundo do alimento. Parabéns aos nossos agricultores pela grande contribuição ao País.”

 “Temos prazer em trabalhar, é a única coisa que sabemos fazer, dar sustento para nossa família e nossos colaboradores”, resume Tião Inocente
“Temos prazer em trabalhar, é a única coisa que sabemos fazer, dar sustento para nossa família e nossos colaboradores”, resume Tião Inocente | Foto: Gustavo Carneiro

O checklist do produtor rural não é simples e envolve muitas variáveis até que a safra seja colhida e os resultados cheguem. E mesmo que o clima traga tanta dor de cabeça para o produtor, ele sabe que de forma geral a natureza está a favor dele, principalmente aqui na região de Londrina. Sebastião Luiz Inocente é um desses produtores que leva a propriedade como um negócio “na risca”, buscando produtividade e faturamento alicerçado a conhecimento e tecnologia. É graças a produtores como Tião, como é conhecido, que o saldo comercial do agro brasileiro está com superávit de US$ 33 bilhões em 2019, compensando o déficit de demais setores.

A família de Inocente está no agro há anos e o trato com a terra passa de geração para geração. Na propriedade localizada em Cambé, ele atua com grãos e tem muita expertise no assunto. São mais de 30 safras firmes no campo e já com a ajuda do filho, formado engenheiro agrônomo pela UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Tudo está na cabeça do produtor: tratos culturais, escolha dos melhores híbridos, análise completa do solo, tecnologias implacáveis para gerar resultados. “Estamos numa região privilegiada, com fertilidade de solo e tudo que a natureza nos oferece, muito mais coisas boas do que as intempéries que algumas vezes atrapalham a produção. A tecnologia está aí, ela custa caro, mas nos dá retorno.”

Hoje, para Inocente, o que tira o produtor do sério não é a agricultura, mas a forma como a comercialização é conduzida. “Hoje estamos vendendo um saco de soja R$ 16 mais barato do que em março. O nosso custo de produção cresce em PG (progressão geométrica) enquanto o valor do nosso produto também cai em PG. Estamos à mercê dos importadores, dos fundos de commodities, pessoas com muito dinheiro que nem fazem parte da agricultura. Existem mecanismos para correr menos riscos com a volatilidade de preços, mas há muita 'converseira' de economistas, porque há variáveis difíceis de acompanhar.”

Mesmo nas adversidades, o produtor fala sobre o prazer que a lavoura lhe traz. “Temos prazer em trabalhar, é a única coisa que sabemos fazer, dar sustento para nossa família e nossos colaboradores.” (V.L.)

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