BAURU, SP (FOLHAPRESS) - O dirigente da China, Xi Jinping, fez um alerta nesta segunda-feira (17) sobre "consequências catastróficas" de possíveis confrontos entre grandes potências.

O discurso foi transmitido por vídeo durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Um dos mais importantes encontros globais de líderes políticos, empresariais e da sociedade civil, o evento foi adiado devido ao agravamento da pandemia de coronavírus. Uma versão presencial está prevista para o próximo semestre, mas para esta semana foram mantidas algumas conferências virtuais, como a de Xi

"A história mostrou repetidamente que o confronto não resolve problemas, apenas provoca consequências catastróficas", disse ele, de acordo com a tradução oficial de seu pronunciamento.

O líder chinês também se posicionou como um defensor do multilateralismo e reforçou a percepção de aumento das tensões globais. "Precisamos descartar a mentalidade de Guerra Fria e buscar coexistência pacífica e resultados em que todos ganham", afirmou, descrevendo este como o quarto item de uma lista de prioridades que inclui cooperação internacional para enfrentar a pandemia, recuperação econômica pós-Covid e revitalização do desenvolvimento global.

"Nosso mundo atual está longe de ser pacífico. A retórica que desperta ódio e preconceito é abundante", acrescentou. Segundo ele, "atos de contenção, de repressão ou de confronto", bem como o protecionismo, o unilateralismo e a política de hegemonia são as causas de danos à paz e à segurança mundiais.

"Atos obstinados de construir 'quintais exclusivos com muros alto' ou 'sistemas paralelos', de entusiasticamente montar pequenos círculos ou blocos exclusivos que polarizam o mundo, de esticar o conceito de segurança nacional para conter avanços econômicos e tecnológicos de outros países, de fomentar o antagonismo ideológico e de politizar ou de usar questões econômicas, científicas e tecnológicas como armas reduzirão gravemente os esforços internacionais para enfrentar desafios comuns", acusou Xi, sem mencionar nenhum país ou liderança especificamente.

A fala do dirigente chinês mantém a linha de discursos que fez em outras conferências, como na Assembleia-Geral da ONU. Ecoa ainda a declaração dura que deu em 2017, durante sua primeira participação em Davos. Há cinco anos, Xi atacou vários pontos da política internacional defendidos por Donald Trump —à época, a três dias de assumir a Casa Branca. Naquela ocasião, Xi alfinetou os EUA sem, porém, mencionar o país ou o republicano. Ele também não abordou temas geopolíticos que opõem Washington e Pequim, buscando apresentar a China como o bom parceiro de um mundo turbulento.

O discurso deste ano não foi muito diferente. Assim como não houve menções a nenhum país em especial, ficaram de fora quaisquer referências às tensões no Mar do Sul da China e a assuntos sensíveis como a situação de Hong Kong e de Taiwan e as denúncias de violações de direitos humanos em Xinjiang.

Para tratar do combate à Covid, Xi usou uma metáfora de navegação para defender a cooperação internacional. Segundo ele, em meio à crise global, os países não estão viajando separadamente "em cerca de 190 pequenos barcos, mas num navio gigante do qual depende o destino de todos".

"Barcos pequenos podem não sobreviver a uma tormenta, mas um navio gigante é forte o suficiente para enfrentar uma tempestade", afirmou o líder chinês, acrescentando que procurar culpados pela pandemia de coronavírus "só causaria atrasos desnecessários e distrairia do objetivo geral".

A fala é uma nova alfinetada em países do Ocidente, em especial os EUA, que lançaram dúvidas sobre a conduta e a falta de transparência da China em relação à Covid. O presidente Joe Biden, por exemplo, chegou a dizer que o regime de Xi esconde deliberadamente informações sobre a origem da pandemia.

Para defender a globalização da economia, uma nova metáfora. "Embora as contracorrentes certamente existam em um rio, nada pode impedi-lo de fluir para o mar", disse ele, defendendo a globalização como uma solução "mais aberta, inclusiva, equilibrada e benéfica para todos".

No que diz respeito à China, especificamente, não faltaram autoelogios. Além de ressaltar os índices econômicos positivos do país, voltou a comemorar o centenário do Partido Comunista Chinês, citando a vitória na batalha contra a pobreza e a construção de um país socialista moderno em todos os aspectos.

"Primeiro aumentamos o bolo e depois o dividiremos adequadamente por meio de arranjos institucionais razoáveis. À medida que a maré alta levanta todos os barcos, todos receberão uma parte justa do desenvolvimento, e os ganhos beneficiarão todo o nosso povo de maneira mais substancial e equitativa."

O líder chinês encerrou sua fala defendendo a realização dos Jogos de Inverno de Pequim, previstos para começar em menos de duas semanas, apesar da alta de casos de Covid e do boicote diplomático de países como EUA, Reino Unido e Austrália. "Estamos confiantes de que a China apresentará ao mundo Jogos eficientes, seguros e esplêndidos. O lema de Pequim 2022 é 'juntos por um futuro compartilhado'. De fato, vamos dar as mãos com total confiança e trabalhar juntos por um futuro compartilhado."

Também em Davos, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que empresários ajudem países mais pobres a comprar vacinas contra a Covid-19, a combater as mudanças climáticas e a reformar o sistema financeiro global. "Em todas essas três áreas, precisamos do apoio, das ideias, do financiamento e da voz da comunidade empresarial global", disse ele.

Já o primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, pediu por um esforço coletivo global para lidar com os problemas trazidos pelas criptomoedas, como o bitcoin. "Com esse tipo de tecnologia, as decisões tomadas por um único país serão insuficientes para lidar com os desafios. Nós temos que pensar de maneira parecida", afirmou.

Espera-se que a Índia apresente em breve um projeto para regulamentar o uso de criptomoedas no país.