Votação da reforma da Previdência tem confusão e bombas na Câmara de SP (1)
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quarta-feira, 10 de novembro de 2021
ARTUR RODRIGUES E EDUARDO ANIZELLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A discussão para a votação da reforma da Previdência municipal enviada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) teve confusão e bombas nesta quarta-feira (10) em frente à Câmara Municipal de São Paulo.
Alguns manifestantes tentaram invadir a Casa e a GCM atirou bombas. Segundo servidores, ao menos uma pessoa ficou ferida.
O projeto prevê que, enquanto houver déficit no regime da Previdência, aposentados e pensionistas que ganhem acima do salário mínimo (hoje de R$ 1.100) e abaixo do teto do INSS (atualmente de R$ 6.433,57) deixem de contar com a isenção de contribuição.
A cobrança dos inativos será sobre os valores que superem o salário mínimo, incluindo servidores da administração indireta. Essa alíquota, de 14%, já incide sobre aposentados e pensionistas que ganham acima do teto do INSS.
Os servidores começaram a se concentrar em frente à Casa, que fica no centro da cidade, no começo da tarde. Conforme a sessão se desenrolava tensa do lado de dentro, do lado de fora houve confusão envolvendo servidores e a Guarda Civil Metropolitana.
Alguns manifestantes atiraram objetos e subiram no gradil da Câmara. A prefeitura afirmou que a GCM começou a agir para dispersar manifestantes que tentaram invadir a Casa.
Segundo o sindicato dos servidores, uma manifestante fraturou a perna no momento em que a GCM atirou bombas contra a multidão.
"A atuação da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, por meio da Guarda Civil Metropolitana, tem por objetivo garantir a segurança do local, dos manifestantes e servidores do legislativo municipal. Os agentes sofreram investidas dos manifestantes, que buscavam adentrar o prédio. Os protocolos de uso progressivo da força foram utilizados para conter a situação e evitar danos", afirma a prefeitura.
Em nota, a gestão Nunes também afirmou que "mantém diálogo permanente com todas as entidades sindicais e reafirma a preocupação com a sustentabilidade do sistema previdenciário municipal e com a responsabilidade fiscal". "O déficit atuarial estimado para longo prazo atualmente é de R$ 171 bilhões, um dos principais riscos fiscais do município. Com a proposta, a estimativa é que esse rombo seja reduzido em R$ 111 bilhões, ou seja, queda de 65% no déficit", afirmou a gestão.
O vereador Antonio Donato (PT) criticou o uso das bombas contra a multidão. "Achamos que meia dúzia de infiltrados que tenham atacado a Câmara deveriam ser presos e não se revidar com bomba em todos os professores", disse.
O presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), também mandou a segurança retirar pessoas que teriam entrado em uma confusão nas galerias.
Durante a sessão, houve diversas discussões entre vereadores de esquerda, Rubinho Nunes (PSL), membro do MBL (Movimento Brasil Livre).
Rubinho foi acusado de estimular as galerias a interromper a fala da vereadora Silvia da Bancada Feminista, do PSOL, uma vez que havia vários militantes do MBL dentro da Casa. Na ocasião, Elaine do Quilombo Periférico apontou o dedo para o rosto do deputado, e a sessão ficou suspensa por dois minutos.
Em outro momento, a vereadora Erika Hilton (PSOL) cobrou respeito devido a interrupções da militância do MBL, chamados de "gentalha criada a danoninho". "Seus moleques mimados", ela disse.
Rubinho rebateu: "Você vai respeitar o MBL". "Não vou, seus bostas, bando de moleque mimado, seu merda", disse Erika.
Vereadores do PSOL acusaram o governo de compra de votos e de ameaçar membros da base com a retirada de cargos. "Parem de patifaria, isso aí se chama sim compra de voto. Compra de voto, não é só com dinheiro não, compra de forma se faz de várias maneiras, cargo na prefeitura, cargo no governo", disse Toninho Véspoli (PSOL).
João Jorge (PSDB), líder do governo, defendeu o projeto. "Eu sou pai de quatro. Muitas vezes, eu tive que oferecer o remédio e a injeção para um filho meu, que o médico receitou. Para que aquele remédio fosse um mal menor, para que uma doença depois, mais grave, não viesse vitimá-lo", disse. "O prefeito Ricardo Nunes é responsável, é sério e teve coragem de mandar um projeto impopular para cá para que um mal maior não acontecesse no futuro com o próprio servidor".
Fabio Riva, também do PSDB, disse que fez a mesma analogia ao dizer que se trata de um "remédio amargo".
Em dezembro de 2018, o então prefeito Bruno Covas (PSDB), que morreu vítima de câncer, aprovou na Câmara outra reforma da Previdência, enfrentando forte oposição. Ele precisou ceder em alguns pontos e abrandar as medidas para conseguir o apoio dos vereadores, mesmo tendo maioria na Casa.
Agora, o novo projeto também fixa a idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, equiparando aos servidores federais. Para os professores, porém, essa regra é de cinco anos a menos.
As regras de transição são as mesmas previstas na reforma da Previdência federal.
Segundo o site da prefeitura, atualmente a idade mínima para os servidores se aposentarem com rendimentos integrais é de 60 anos (e 35 anos de contribuição) para homens e de 55 anos (e 30 anos de contribuição se for mulher).
Atualmente, segundo a prefeitura, a idade média que a base atual entrou na inatividade é de 56 anos e 10 meses (sendo 56 anos e 5 meses para mulheres e 57 anos e 11 meses para os homens).
A proposta também traz outra mudança, que é a chamada segmentação de massas. Agora, novos servidores não terão suas contribuições usadas para pagar aposentadoria dos servidores que já estão aposentados.
Dessa maneira, há um sistema para os antigos servidores e outro para os novos.
Sobre a segmentação de massas, ele diz que se trata de um sistema para deixar o sistema previdenciário antigo propositalmente deficitário, com objetivo de aumentar as alíquotas sobre os servidores ativos.