SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O procurador Juan Francisco Sandoval, principal ator no combate à corrupção na Guatemala, deixou o país na madrugada deste sábado (24) por temer represálias, após acusar a procuradora-geral de dificultar investigações envolvendo funcionários do governo e o presidente Alejandro Giammattei.

Consuelo Porras, procuradora-geral da Guatemala, exonerou Sandoval, chefe da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI) na tarde desta sexta (23), em uma decisão que provocou críticas do Departamento do Estado dos Estados Unidos, que o considerava um "herói anticorrupção", bem como questionamentos de organizações sociais, empresariais e humanitárias.

Sob comando de Sandoval, a FECI foi responsável nos últimos anos por processos contra políticos, funcionários públicos e empresários supostamente envolvidos em esquemas de corrupção, entre eles as acusações de fraude que levaram à renúncia do presidente Otto Pérez (2012-15) e à prisão da vice-presidente Roxana Baldetti.

Pouco tempo depois de ser demitido, o ex-procurador convocou uma coletiva de imprensa, em que declarou que a procuradora-geral colocou obstáculos em seu trabalho de investigação e atentou contra a autonomia da unidade investigava e do Ministério Público, ao não permitir que a força-tarefa avançasse em apurações que envolviam o presidente Giammattei.

"Eu sou apenas o último de uma série de procuradores que sofreram as consequências por buscarem a verdade e a justiça", afimou Sandolval, em referência a um episódio de abril, quando o Congresso rejeitou a nomeação ao tribunal superior do país da juíza Gloria Porras, cuja trajetória é reconhecida pelo combate à corrupção.

Para especialistas ouvidos pelo jornal La Hora, as declarações de Sandoval são um golpe duro tanto na credibilidade do Ministério Público quanto no trabalho de Porras, que até o momento não veio a público desmentir as acusações do ex-procurador sobre sua gestão.

Na noite de sábado, centenas de pessoas se reuniram em frente ao palácio presidencial para protestar contra o afastamento do procurador e pediram a renúncia de Porras da procuradoria-geral e a do presidente Giammattei.

Alguns dos principais líderes camponeses do país anunciaram uma greve geral para esta segunda-feira (26).

O destino de Sandoval é desconhecido. Segundo autoridades da área de direitos humanos da Guatemala, para deixar o país o ex-procurador atravessou a fronteira de El Salvador.

Nos Estados Unidos, a subsecretária do Departamento de Estado, Julie Chung, afirmou que a demissão de Sandoval "é um retrocesso para o estado de direito na Guatemala" e "contribui para a percepção de que há um esforço sistemático para minar aqueles que lutam contra a corrupção" no país.

Chung também afirmou, em publicação nas suas redes sociais, que a decisão de Porras foi "ultrajante". "O povo da Guatemala merece mais", completou.