RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - O vice-governador da Bahia, João Leão (PP), oficializou nesta segunda-feira (14) o rompimento com o PT, partido do governador Rui Costa. A decisão do PP se deu por unanimidade na Executiva estadual do partido.

Agora, a expectativa é que João Leão seja candidato ao Senado na chapa do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil).

"Quero ressaltar que nos 14 anos de aliança com os governos do PT, jamais faltou da nossa parte lealdade, dedicação, apoio parlamentar e espírito público. Após amplo debate e consultas às lideranças progressistas, decidimos, por unanimidade, nos afastar da aliança atual e buscar outros caminhos onde possamos continuar trabalhando pelo povo baiano", afirmou João Leão.

Apesar de ter deixado a base do governo petista na Bahia, o vice ainda poderá manter seu apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial de 2022, na contramão da posição nacional de seu partido.

Com isso, João Leão poderia ajudar ACM Neto a conquistar eleitores lulistas na Bahia e dificultar a transferência de votos do eleitorado do ex-presidente para o pré-candidato do PT a governador, o secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues --indicado para a disputa após a desistência do senador Jaques Wagner (PT).

João Leão se reuniu com Rui Costa para comunicar a decisão do rompimento na tarde desta segunda-feira no Palácio de Ondina, sede do governo estadual.

O PP é o partido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL), que, na disputa ao Planalto, deverá apoiar oficialmente a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O desembarque do PP da base governista na Bahia acontece três dias depois da definição do nome do PT para a buscar a sucessão de Rui Costa.

O movimento foi oficializado na tarde desta segunda por meio de uma carta enviada por João Leão a Rui Costa, na qual o vice-governador pede a exoneração do posto de secretário de Planejamento da Bahia, cargo que ele acumulava além da vice-governadoria.

"Venho solicitar a Vossa Excelência que se digne a conceder-me exoneração do cargo que exerci com abnegação, lealdade e parceria, pautado nas diretrizes do serviço público estadual que cuida de pessoas. O pedido ocorre em razão do afastamento do PP da base aliada, pelas razões já explicitadas e do conhecimento de Vossa Excelência", escreveu João Leão em trecho da carta destinada a Rui Costa.

Outros secretários ligados ao PP e ocupantes de cargos de primeiro escalão, como em estatais do governo baiano, também se desvincularam das funções diante da debandada. Os cargos vagos devem ser usados por Rui Costa como moeda de troca para atrair outros partidos para compensar a saída do PP.

O partido comandado na Bahia pelo vice-governador João Leão, começou a se afastar do governo Rui Costa na semana passada. Na quarta (9), o movimento já era iminente, após Leão divulgar uma nota cogitando lançar uma candidatura própria ao governo à revelia ao PT ou apoiar ACM Neto.

João Leão ficou chateado porque soube via imprensa, por meio de declarações do senador Jaques Wagner, que Rui Costa ficaria no governo até dezembro. Até então, segundo líderes do PP, havia um acordo de que o governador renunciaria e disputaria o Senado, o que abriria caminho para João Leão governar a Bahia por nove meses. Nesse cenário, Otto Alencar (PSD) seria o candidato a governador.

"Depois de muitas reuniões sob a coordenação do senador Jaques Wagner, foi atribuída ao partido a responsabilidade de assumir o governo durante os nove meses finais do atual mandato. O governador Rui Costa se afastaria do cargo para concorrer ao senado federal e o senador Otto Alencar ao Governo do Estado. Mesmo não concorrendo a um mandato popular, Leão aceitou o convite com a convicção de poder trabalhar muito mais pelo povo baiano", afirma nota divulgada pelo PP.

O PP da Bahia também disse que o ex-presidente Lula estava ciente do acordo que teria sido feito. "Logo após aceitar o honroso convite, Leão participou de um encontro em São Paulo com o ex-presidente Lula, acompanhado do governador Rui Costa que, na oportunidade, deu conhecimento do acordo a Lula", diz o comunicado do partido.

No entanto, a sinalização de que isso poderia acontecer provocou uma rebelião interna no PT, mesmo após o aval do ex-presidente Lula. Em paralelo, Otto indicou a aliados que prefere disputar a reeleição de senador.

"Além de considerar inaceitável a quebra do acordo, a indelicada comunicação da decisão pela imprensa causou uma imensa decepção e a constatação de que o PP não era mais desejado e não tinha espaço na aliança que nos trouxe até aqui. O PP é um dos maiores partidos da Bahia e do Brasil e a nossa história não foi reconhecida na decisão dos líderes petistas", frisou o PP.

O PT, desde que lançou Jerônimo Rodrigues, pretendia oferecer a vaga de vice novamente ao PP. Dessa vez, o mais cotado era o deputado federal Ronaldo Carleto.

Horas após a ameaça inicial de Leão de romper com o PT, Jaques Wagner pediu desculpas ao vice-governador. O pedido não surtiu efeito, o que culminou com o rompimento entre PP e PT.

Com o lançamento de Jerônimo, o governador Rui Costa vai seguir no cargo até dezembro. Assegura, assim, o controle da máquina pública em meio à campanha eleitoral.

Em nota, Rui Costa disse que foi opção de João Leão seguir um caminho diferente. "A nossa maior aliança foi construída em bases sólidas com o povo da Bahia. Nosso ritmo de correria, de cuidar de gente e trabalhar pelas pessoas que mais precisam vai continuar até o último dia do meu governo", afirmou.

"Nós já temos candidatos a governador e a senador. Nossa chapa está sendo formada e ficando bastante forte para chegarmos a mais uma vitória, pois são nomes que verdadeiramente representam um projeto liderado pelo presidente Lula. E o nosso grupo está ao lado do povo que deseja Lula para reconstruir o Brasil", acrescentou.

Um dos temores de setores do PT com a hipótese de Rui sair do cargo para disputar o Senado era de que João Leão, sentado na cadeira de governador, rompesse com os petistas e trabalhasse em busca da sua reeleição, com o uso da máquina em seu favor.

A expectativa é que o ex-presidente Lula vá à Bahia ainda nesta semana para oficializar a chapa governista, com Jerônimo Rodrigues para o governo e Otto Alencar para a disputa do Senado.

Com a saída do PP da base aliada, a vaga de vice na chapa fica em aberto. Além disso, o governo Rui Costa perde aliados na Assembleia Legislativa da Bahia e corre o risco de não ter mais a maioria na Casa.

O PT governa a Bahia desde 2007, com dois mandatos de Jaques Wagner e depois dois de Rui Costa, que está no último ano de governo.

João Leão é vice de Rui desde que o petista assumiu o Palácio de Ondina, em 2015. Já Otto Alencar foi vice-governador no segundo mandato de Jaques Wagner e foi eleito senador em 2014 na mesma chapa de Rui e Leão.