Vendedores continuam a vender frutas sem exibir preços no Mercado Municipal
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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022
MARIANA ZYLBERKAN E ZANONE FRAISSAT
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os vendedores de frutas no Mercado Municipal Paulistano, localizado na região central de São Paulo, vendiam itens sem expor os preços nesta quarta-feira (16), um dia após o Procon afirmar que a prática é abusiva e, por isso, passível de multa.
Na terça-feira (15), a concessionária que administra o Mercadão, a Mercado SP SPE, interditou três boxes de venda de frutas após novas denúncias do chamado "golpe da fruta".
A empresa já havia multado donos de bancas acusados de cobrar valores abusivos por bandejas de frutas que chegam a R$ 800, segundo relatos nas redes sociais.
A prática é antiga no Mercado Municipal e começa com as abordagens insistentes de vendedores para convencer os clientes que andam pelos corredores a se aproximarem das barracas. Alguns chegam a andar alguns metros atrás dos clientes.
A reportagem esteve no local nesta quarta e presenciou várias vezes o ritual seguido pelos vendedores para atrair os visitantes e vender frutas muito acima do preço.
A abordagem é feita com uma série de elogios e perguntas sobre a origem do visitante enquanto pedaços de frutas são oferecidos. Quase sempre, a estratégia de convencimento se baseia no argumento sobre a raridade das frutas presenteadas. Mas o método mais usado é estender uma tâmara recheada de morango embrulhada em um guardanapo a quem passa pela barraca.
As duas frutas combinadas acentuam o doce da tâmara, um dos itens mais caros por ser importado. Segundo os vendedores, as caixas vêm de Israel e eles costumam mostrá-las como prova da origem do produto. As embalagens também ficam expostas.
Depois do combo tâmara e morango que funciona como isca, a degustação inclui pedaços de achachairu, uma fruta nativa da Bolívia e vendida como afrodisíaca. Na verdade, a espécie é abundante no Mercadão por ser resistente e permanecer conservada por mais tempo.
A estratégia é não deixar o cliente pensar e bombardeá-lo com explicações rápidas sobre as propriedades enquanto o vendedor fatia outras frutas com uma faca de plástico e as oferece umas atrás das outras.
Os preços não são informados em nenhum momento, e muitas vezes nem ficam expostos na barraca. Se o cliente gostar de alguma fruta, o vendedor junta algumas unidades em uma bandeja de isopor e continua a enchê-la com outros tipos.
Para convencer o cliente a levar a bandeja personalizada, o vendedor cobra o valor por 100 gramas, dito mais barato do que o quilo. Enquanto explica isso, a bandeja de isopor é rapidamente envolta em um filme plástico.
O valor só é informado na hora de passar o cartão na máquina. Se o cliente reclama do preço, é iniciada uma negociação que nem sempre termina bem. Há relatos de discussões e brigas entre vendedores e clientes.
Os preços cobrados pelas frutas no Mercado Municipal chegam a ser o dobro do praticado no Mercado Municipal Kenji Yamato, localizado na calçada oposta.
O quilo da cereja, por exemplo, é cobrado R$ 100 no Mercadão e R$ 50 no outro lado da rua. A mesma discrepância existe em relação à lichia branca, vendida a R$ 40 meio quilo em um mercado municipal e mais de R$ 100 no outro.
Os vendedores argumentam que mantêm uma margem de lucro de 30% em cima das frutas importadas, já que estão embutidos gastos de transporte do porto de Santos até o centro de São Paulo.
A maioria das frutas comercializadas, porém, é nacional. Elas são adquiridas pelos donos de barracas a preço de atacado na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), a poucos quilômetros do Mercado Municipal.
Em nota, a Mercado SP SPE S.A. afirmou que orienta todos os lojistas a exibirem sempre os preços nos produtos. "Alguns, inclusive, foram advertidos", diz a empresa.
Desde a última segunda (14), agentes descaracterizados do Procon têm visitado o Mercado Municipal em busca de flagrantes das práticas abusivas. Ainda não foi registrada nenhuma ocorrência.
A Polícia Civil também abriu inquérito para verificar as irregularidades.
Para o psicanalista Enrique Mandelbaum, a estratégia dos vendedores cria uma espécie de sedução em que o cliente se sente bajulado e escolhido entre tantas pessoas que passam pelos corredores. Por isso, é difícil para a maioria recusar os preços e aceitar pagar caro pelas frutas. "Isso tudo acontece a níveis inconscientes e, muitas vezes, a pessoa só percebe o engodo depois", diz.
Mandelbaum faz referência à fábula de João e Maria que trata da suscetibilidade do ser humano diante dos seus desejos. "De repente, a pessoa se vê diante de uma refeição inesperada e é invadida por alguma sensação de prazer."
O fato de os vendedores oferecerem as melhores e mais caras frutas da barraca faz com que mantenham os clientes reféns de alguma forma. "A pessoa fica constrangida, como se estivesse abusando da generosidade alheia", diz o psicanalista.
Como não cair no 'golpe da fruta':
- Pesquise o preço médio das frutas antes de sair de casa no site da Ceagesp
- Evite aceitar as frutas oferecidas. Se quiser experimentar, aponte a escolhida e peça para o vendedor lhe servir um pedaço
- Pergunte o preço de tudo antes de se decidir pela compra
- Peça sacos plásticos ou bandejas e escolha você mesmo as frutas
- Faça questão de verificar a pesagem
- Confira o valor final e reclame caso for maior que o informado previamente
- Verifique o valor total da compra antes de inserir a senha ou aproximar o cartão da máquina
- Em caso de ameaça ou agressão caso desista da compra, entre em contato com a Mercado SP SPE ([email protected]) e com o Procon (www.procon.sp.gov.br)

