SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto o governo Jair Bolsonaro (PL) bate cabeça e não se alinha em um discurso unificado sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, os principais presidenciáveis e partidos brasileiros se manifestaram contrários à incursão militar que agravou a crise geopolítica na Europa.

O conflito teve início na quinta-feira (24), quando o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou o envio de tropas ao país vizinho. A ação foi tomada depois de quatro meses de embate diplomático na região.

Veja o que os principais pré-candidatos ao Planalto nas eleições deste ano já disseram sobre o assunto.

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BOLSONARO E ALIADOS

O presidente Jair Bolsonaro evitou manifestações enfáticas sobre a guerra na Ucrânia e não deu declarações para condenar a invasão do país pela Rússia.

Em suas redes sociais, o chefe do Executivo brasileiro se restringiu a dizer que o governo federal está "empenhado no esforço de proteger os brasileiros que estão na Ucrânia".

Em sua live semanal, na noite de quinta-feira (24), Bolsonaro desautorizou as críticas feitas pelo seu vice, Hamilton Mourão, e disse que ele é a única autoridade do governo federal que pode se posicionar sobre os ataques.

"Quem fala sobre o assunto é o presidente da República, e chama-se Jair Bolsonaro. Com todo respeito a essa pessoa que falou isso, está falando algo que não deve, não é de competência dela", disse o mandatário durante transmissão nas redes sociais.

Na mesma transmissão, Bolsonaro afirmou que defende a paz e minimizou sua visita a Putin dias antes do ataque da Rússia. "Tudo o que estiver no nosso alcance, nós faremos pela paz", afirmou. "Viajamos em paz para a Rússia. Fizemos contato excepcional com o presidente Putin. Acertamos a questão de fertilizantes", disse.

Mais cedo, Mourão havia comparado a situação atual da incursão russa em território ucraniano com a expansão militarista da Alemanha nazista comandada por Adolf Hitler. "O mundo ocidental está igual ficou em 1938 com o Hitler, a base do apaziguamento. E o Putin não respeita o apaziguamento, essa é a realidade", disse ele.

O presidente brasileiro se reuniu com Putin no dia 15 deste mês. Na ocasião, disse que o Brasil é solidário à Rússia. A reunião ocorreu no mesmo dia em que o governo russo anunciou a retirada de parte das tropas que estavam posicionadas perto da fronteira com a Ucrânia. O governo federal brasileiro —e militantes bolsonaristas— tentaram relacionar a coincidência a uma suposta influência de Bolsonaro sobre Putin.

LULA E PT

O ex-presidente Lula, líder nas principais pesquisas de intenção de voto ao Planalto, lamentou a guerra na Ucrânia.

Em entrevista na quinta (24), o petista disse ser "lamentável que, na segunda década do século 21, a gente tenha países tentando resolver suas divergências, sejam territoriais, políticas ou comerciais, através de bombas, tiros e ataques". Ele comparou a atual movimentação russa com a invasão americana ao Afeganistão e ao Iraque.

Lula também criticou Bolsonaro. "Um presidente da República precisa conversar, ser um maestro da orquestra chamada Brasil para ela viver em harmonia. Se você tem um presidente que briga com todo mundo, ele serve para que? Até em coisas sérias, ele mente, disse que tinha conseguido a paz ao viajar para a Rússia", escreveu Lula, referindo-se à visita de Bolsonaro a Putin.

O PT, por sua vez, emitiu uma nota oficial com o posicionamento do partido. Nela, a legenda afirma que "sempre defendeu que as relações internacionais sejam pautadas pelo respeito à autodeterminação dos povos e no diálogo democrático entre países, visando a construção da paz, progresso e justiça social para todos".

"Entendemos que a solução do contencioso entre Rússia e Ucrânia deve se dar de forma pacífica", segue a agremiação no documento.

O texto assinado pela presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, foi veiculado depois de a bancada do PT no Senado ter publicado uma manifestação no Twitter afirmando que o grupo condenava o que chamou de "política de longo prazo dos EUA de agressão à Rússia". A postagem foi apagada depois.

Discurso semelhante a esse posicionamento inicial da bancada do PT no Senado, de responsabilização dos EUA pela guerra, chegou a ser replicado por integrantes de alguns partidos de esquerda, como do PSOL e do PC do B.

MORO E PODEMOS

O ex-ministro Sergio Moro, pré-candidato a presidente da República pelo Podemos, disse repudiar "a guerra e a violação da soberania da Ucrânia". O também ex-juiz da Lava Jato criticou o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro na crise.

Em entrevista concedida na quinta (24), Moro reforçou o seu "repúdio à guerra".

"Não é ser contra a Rússia. É a gente ser contra, aqui, à invasão da soberania de um país, a Ucrânia, que tem uma conexão forte com o Brasil, tem uma grande comunidade, aqui, de ucranianos no Brasil. Mas não só por isso. Qualquer outro país que tenha a sua soberania violada, temos que ver esse tipo de atitude com repúdio", disse ele.

As falas de Moro foram replicadas pelo Podemos em suas redes sociais.

CIRO GOMES E PDT

O também ex-ministro Ciro Gomes, presidenciável pelo PDT, foi outro pré-candidato que se manifestou sobre o conflito na Ucrânia.

"No mundo atual, não existe mais guerra distante e de consequências limitadas. Precisamos nos preparar, portanto, para os reflexos do conflito entre Rússia e Ucrânia. Muito especialmente por termos um governo frágil, despreparado e perdido ", escreveu Ciro.

A sua mensagem foi replicada pelo PDT, que também não emitiu nota oficial.

DORIA E PSDB

O governador de São Paulo, João Doria, que pleiteia o Planalto pelo PSDB, também utilizou as suas redes sociais para falar sobre o assunto. Na quinta (24), ele chamou a ação militar russa de "condenável" e disse que a "guerra nunca é resposta a nada".

Na sexta (25), o tucano voltou a tratar do tema, dizendo-se revoltado com cenas de tropas russas atingindo civis ucranianos. "Vergonhoso também os que apoiam esse ditador!", emendou ele, referindo-se a Putin.

O PSDB usou as suas redes sociais para replicar publicações de filiados sobre o assunto, como mensagens do próprio Doria e do presidente do diretório nacional da legenda, Bruno Araújo —que atacou a manifestação da bancada do PT no Senado.

SIMONE TEBET, RODRIGO PACHECO E FELIPE D'AVILA

A pré-candidata Simone Tebet, do MDB, chamou a atenção para os impactos econômicos que a guerra pode gerar no Brasil e em outros países do mundo.

"O governo federal precisa deixar claro que nosso respeito é à soberania e aos princípios de não intervenção territorial, e que estaremos lutando por uma solução de paz", postou ela.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que pode concorrer à Presidência da República pelo seu partido, publicou nota oficial em que diz acompanhar "com crescente preocupação o agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia". Ele defende um diálogo amplo, pacífico e democrático para a solução do embate.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), lembrou o ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill ao criticar a ofensiva russa.

"Churchill ensinava que não adianta tentar negociar com um tigre quando ele já tem a sua cabeça na boca. Aparentemente, retomamos um ciclo histórico onde tigres ocupam o comando de grandes potências. As consequências para o mundo podem ser dramáticas. Solidariedade aos ucranianos", postou ele, que é líder do seu partido no Senado.

Vieira ainda ironizou a importância da opinião de Bolsonaro sobre o conflito em um contexto global. "[A opinião do presidente brasileiro] é cada vez mais irrelevante aqui dentro também, pois quem manda é o Centrão", disse o senador.

Provável postulante pelo Novo, Felipe D'Avila afirmou que "Putin é um populista autoritário" que "há anos busca uma guerra sem sentido para chamar de sua". Segundo ele, "as democracias do Ocidente precisam agir e conter essa ameaça".

O pré-candidato também criticou o "silêncio" de Bolsonaro "dez dias após confraternizar com Putin em Moscou". "É para disfarçar o apoio à barbárie da agressão russa? Vai colocar o Brasil ao lado da Venezuela no pódio de vergonha do continente?", questionou ele em uma rede social.