SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Ucrânia acusou a Rússia de bombardear nesta quarta (9) uma maternidade e hospital infantil em Mariupol, porto no sul do país que está sob cerco, durante o cessar-fogo acertado entre os dois lados para permitir a saída de civis da cidade.

Segundo o governo local, 17 mulheres e crianças ficaram feridas no ataque. As imagens disponíveis sugerem que a área ao lado do prédio foi atingida por artilharia ou por aviões. Mulheres grávidas foram removidas no meio do entulho fumegante do lado de fora do edifício, gerando imagens emblemáticas do drama da guerra.

O incidente foi imediatamente usado por Kiev em sua campanha em favor da instauração de uma zona de exclusão aérea sobre o país. A Otan (aliança militar ocidental) se recusa a fazê-lo, porque isso significaria decretar guerra aos russos, que já têm relativa dominância dos céus ucranianos.

"A destruição é colossal. Ataque direto de tropas russas à maternidade. Pessoas, crianças estão sob os escombros", escreveu no Twitter o presidente Volodimir Zelenski, embora as imagens até aqui disponíveis não indicassem essa condição das vítimas.

Notas de repúdio à ação vieram de Washington, Londres e do Vaticano. A ONU e a Organização Mundial da Saúde exigiram "o fim imediato dos ataques a instalações de saúde".

A Ucrânia diz que 1.207 dos mais de 400 mil habitantes de Mairupol antes da guerra já morreram após a invasão. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, voltou a dizer que as forças russas não miram alvos civis nessa campanha. Horas antes da ação, a chancelaria de Moscou havia acusado batalhões ucranianos de expulsarem funcionários de uma maternidade na cidade e montarem posições de combate no local.

O Ministério da Defesa atualizou alguns números sobre o que diz ter destruído no país vizinho: 90% das pistas de pouso com uso militar, 974 tanques e blindados, 97 drones. Como em toda guerra ativa, não há como checar a acurácia dessas informações ou daquelas divulgadas em Kiev.

Mariupol é um ponto central da frente sul da guerra de Vladimir Putin. É o último bastião a resistir contra os russos naquilo que se estabelece como uma área ligando o Donbass, o leste separatista étnico russo da Ucrânia, à península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Se cair, Moscou assume controle militar da região, o que naturalmente não significa que a administre com facilidade. Ao contrário, no porto de Kherson, mais a leste, a cidade tomada vive protestos diários contra os invasores.

Desde o fim de semana, os russos passaram a empregar sua aviação tática de forma mais intensa no país. Talvez menosprezando a grande quantidade de mísseis antiaéreos portáteis dados pelo Ocidente aos ucranianos ou forçada pelo mau tempo, que obriga a voar baixo para ter visão dos alvos, a Força Aérea tem tido perdas.

Os EUA a acusaram nesta quarta de usar bombas "burras", sem guiagem a laser ou por satélite, na campanha militar. De fato, imagens de um caça-bombardeiro Su-34 derrubado no sábado (5) mostravam bombas de queda livre FAB-500, o que pode facilitar danos a civis.

Mais de 2 milhões de habitantes deixaram a Ucrânia para países vizinhos, principalmente Polônia e Hungria. Muitos, talvez 200 mil, ainda se concentram em Lviv, a "capital do oeste" do país, perto da fronteira polonesa.