SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um tribunal espanhol autorizou a extradição para os Estados Unidos do ex-chefe da unidade de inteligência militar da Venezuela Hugo Carvajal, 61 -preso no país desde setembro e acusado pelos americanos de ter relações com o narcotráfico. "El Pollo", como é conhecido, atuou na gestão de Hugo Chávez, de 2002 a 2013.

Nesta quarta-feira (20), a jurisdição espanhola responsável por julgar pedidos de extradição ordenou a entrega do militar chavista para os EUA, depois que o pedido de asilo feito por Carvajal foi negado.

Ainda não há data para que a extradição seja concretizada, mas, segundo um porta-voz do tribunal, ela pode ocorrer nos próximos dias, dependendo de acertos entre as polícias espanhola e americana.

Carvajal, porém, ainda pode recorrer da decisão que negou o asilo. Caso o recurso seja aceito, o processo de extradição será paralisado.

Seu advogado, Nielson Vilela, disse à agência Reuters que não esperava uma extradição imediata, já que o militar foi testemunha em outras apurações na Espanha, nas quais não é investigado. No próximo dia 27, ele deve voltar a um tribunal para depor em um desses casos.

Aliado próximo do ditador venezuelano Hugo Chávez -morto em 2013-, o militar foi preso pela polícia espanhola no mês passado, depois de se esconder por quase dois anos.

Em 2019, ele rompeu com a ditadura de Nicolás Maduro, ao apoiar em público o opositor do regime, Juan Guaidó, que havia se proclamado presidente interino da Venezuela. Ameaçado de prisão, o militar fugiu de barco para a República Dominicana, de onde voou para a Espanha.

Ao chegar ao país europeu, em abril daquele ano, Carvajal foi detido, sob pedido dos EUA, mas liberado cinco meses depois. No entanto, desde novembro de 2019, quando a Justiça espanhola já havia autorizado sua extradição, seu paradeiro era desconhecido.

Para despistar as autoridades, o militar fez cirurgias plásticas e usava bigodes postiços e perucas. Além disso, mudava de domicílio a cada três meses, segundo a polícia espanhola.

Os americanos acusam El Pollo de pertencer ao Cartel de los Soles (cartel dos sóis), organização criminosa que os americanos acreditam ser composta por altos membros da cúpula venezuelana. Há 10 anos, um tribunal de Nova York acusou Carvajal de ter, em 2006, coordenado o envio de 5,6 toneladas de cocaína da Venezuela para o México -a droga teria chegado aos EUA.O cartel também teria tido relações com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Caso seja extraditado, Carvajal pode ser condenado a, no mínimo, 20 anos de prisão.

O episódio envolvendo o militar se dá poucos dias depois de Alex Saab, um empresário colombiano ligado a Maduro, que estava foragido em Cabo Verde, ser extraditado para os EUA. O anúncio pegou Caracas de surpresa, e o regime venezuelano suspendeu as negociações com a oposição como forma de protesto.

O empresário e seu sócio Álvaro Pulido, cujo paradeiro é desconhecido, são acusados pelos americanos de dirigir uma rede que explorava um programa de distribuição de comida na Venezuela. Eles são suspeitos de transferir cerca de US$ 350 milhões (R$ 1,9 bilhão) para contas nos EUA e em outros países e podem ser condenados a até 20 anos de prisão.

O processo de extradição foi elogiado pelo presidente colombiano, Iván Duque, em entrevista à Folha, nesta quarta. "Devem estar com muito medo de tudo o que Saab vai revelar. Porque ele conhece todos os segredos de como movimentaram dinheiro sujo dentro do regime e fora dele", disse.

Duque ainda comentou as suspeitas de que o regime venezuelano arrecadaria recursos por meio do tráfico de drogas. "[O Saab conhece] o conluio que [o regime] mantém com o narcotráfico e com o terrorismo internacional. Por isso vimos [os chavistas] muito desesperados e dando declarações nervosas, eles sabem que depois de Saab vai cair o castelo de cartas do financiamento sujo do socialismo do século 21."