SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na última quarta-feira (16), a comunidade russa de jogadores de "The Sims 4" conseguiu que a EA, estúdio que produz o game, liberasse um conteúdo extra com casamento de um casal LGBTQIA+ no país. Na semana anterior, a empresa havia afirmado, em nota oficial, que o pacote de conteúdo "Histórias de Casamento" não chegaria à Rússia porque a "narrativa estaria sujeita a mudanças por causa de leis federais".

No país, é ilegal na Rússia "promover" a homossexualidade para menores desde 2013, fazendo com que obras com esse tipo de conteúdo sejam classificadas para maiores de 18 anos --o que aconteceu com "The Sims 4", que permite esse tipo de relação entre as personagens.

Até mesmo por isso a declaração da EA não convenceu os jogadores que ansiavam pela expansão e descobriram, às vésperas do lançamento mundial, que não teriam acesso à nova história, que estrela um casal formado por duas mulheres, Dominique e Camille.

Desde então, a comunidade lançou a hashtag #weddingsforrussia, que chegou aos assuntos de maior repercussão no Twitter, entre as notícias do mundo gamer. Também foi lançado uma petição pelo site Change.org, que reuniu quase 11 mil assinaturas.

Visto que o jogo já era classificado para maiores de idade, a comunidade não viu sentido no bloqueio, mas sim uma atitude censora da EA, que estaria marginalizando ainda mais a comunidade LGBTQIA+ do país.

Para respeitar a inclusão do país na agenda de lançamentos, o conteúdo só chegará ao mundo na quarta (23), e sem quaisquer alterações ou adaptações para a Rússia.

Especula-se que, afinal, o temor da EA em lançar o conteúdo no país teria a ver com uma lei firmada em 2021, partindo de uma emenda constitucional proposta pelo presidente Vladimir Putin em 2020, que define o casamento como algo entre homem e mulher.

Em reportagem do britânico The Guardian nesta terça (22), o youtuber russo HoboGivili, um dos principais do círculo de "The Sims" reforçou que esse retrocesso só vale para o mundo real. "Desde 2021, nosso país tem uma emenda constitucional afirmando que o casamento é uma união entre um homem e uma mulher, mas isso não afeta o espaço da mídia e se aplica apenas a pessoas vivas e cerimônias de casamento reais", afirmou.

Outra suposição é de que a EA não quisesse ter outra indisposição com a Rússia, já que em 2016 criou polêmicas com os políticos do país ao distribuir uniformes arco-íris durante uma campanha contra a homofobia dentro do jogo "Fifa 17".

Produtoras como a Square Enix também tiveram problemas no país quando o game "Tell Me Why", com uma protagonista trans, foi removida da loja virtual Steam em 2020.