Temor de apagão de vacinas trava planejamento de imunização em SP
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 06 de maio de 2021
IGOR GIELOW
<p>SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo de São Paulo já trabalha com a hipótese de um apagão no fornecimento de vacinas contra a Covid-19 em junho, o que tem travado o planejamento para as próximas etapas da imunização.
</p><p>Segundo autoridades de saúde, não é possível estimar quando será possível começar a vacinar os adultos com 59 anos ou menos após o fim da inoculação dos grupos prioritários e com comorbidades.
</p><p>Concorrem para o cenário sombrio problemas de fornecimento das duas principais vacinas em uso no Brasil, a Coronavac e a de Oxford.
</p><p>No caso do imunizante chinês que é formulado pelo Instituto Butantan, a questão principal é política. O governo da China está represando a entrega do insumo para a fabricação da vacina há meses, interrompendo a política de adiantar ao máximo a entrega das primeiras 46 milhões de doses do fármaco.
</p><p>Elas deveriam estar prontas até abril, mas ainda faltam cerca de 3 milhões de doses. Logo na sequência viria a segunda leva, de 54 milhões de doses até setembro.
</p><p>A Sinovac, fabricante da vacina, informou ao governo paulista que os 6.000 litros do insumo esperados para este mês estão prontos, mas a China já avisou que só permitirá o embarque de um terço dessa quantidade.
</p><p>As 5 milhões de doses que estão em processamento no Butantan acabam na semana que vem. O embarque da carga reduzida teria sua autorização emitida por Pequim no dia 10, mas já foi informado um novo atraso de três dias.
</p><p>Um dos nós, além da vontade do regime comunista de aumentar o ritmo interno de vacinação em seu país, se chama Jair Bolsonaro.
</p><p>O presidente, com grande histórico de atritos com Pequim, voltou à carga na quarta (5) ao sugerir que os chineses criaram o vírus como parte de uma guerra biológica para poder superar o Ocidente economicamente.
</p><p>A teoria conspiratória caiu mal na diplomacia chinesa, que ainda não se pronunciou -à espera da previsível ação como bombeiro do novo chanceler, Carlos França, que não aderia a esse tipo de discurso como seu antecessor, Ernesto Araújo.
</p><p>Embora o governo chinês alegue apenas questões aduaneiras, a explicação não é vista como real nem no Itamaraty, nem no governo João Doria (PSDB-SP).
</p><p>Já no caso do imunizante da AstraZeneca/Universidade de Oxford, a questão é de ritmo. Embora a Fiocruz, que a exemplo do Butantan formula o insumo chinês da vacina no Brasil, tenha estabelecido uma produção mais constante, há problemas.
</p><p>Segundo pessoas do sistema de saúde paulista, no mês passado faltaram 500 mil doses da vacina. Neste mês, a previsão de 1,5 milhão de entregas também não foi atingida.
</p><p>Com tudo isso, contas estão sendo feitas e serão discutidas em reunião na noite desta quinta (6). Mas tanto na área técnica quanto no Palácio dos Bandeirantes o clima é de pessimismo, salvo alguma novidade inesperada -alguma chegada inaudita de mais doses de outro imunizante, como o da Pfizer.
</p><p>A pandemia já matou quase 100 mil paulistas, entre cerca de 3 milhões de infectados desde o começo da crise sanitária, em março de 2020.
</p><p>Na quarta, o governo paulista estabeleceu a vacinação da faixa de 60 a 62 anos, comorbidades e grupos prioritários. Só a faixa de pessoas com doenças que agravam a condição de quem tem Covid-19 soma 5 milhões de pessoas, e sua imunização começa no dia 12.
</p><p>Na programação apresentada, os grupos começam a ser atendidos de forma escalonada até 18 de maio. Num mundo ideal, com vacinas sobrando e todos os elegíveis a recebê-las sendo inoculados, seria previsível o início da imunização das pessoas com menos de 59 anos em junho.
</p><p>Ninguém arrisca dizer isso hoje. Nem tudo é má notícia, contudo. Desde que a vacinação no estado começou, 7,9 milhões dos 8,3 milhões de convocados tomaram a primeira dose, indicando que o protocolo de segurar vacinas para a segunda dose tem sido respeitado.
</p><p>A imunização, como se sabe, só se dá de forma efetiva após o curso das duas aplicações. Estados como o Rio Grande do Sul tem apresentado um número alto, de cerca de 20%, de vacinação, mas a análise da divisão entre as doses indica que foram distribuídas mais imunizações para a primeira.
</p><p>No começo da vacinação, em 17 de janeiro, São Paulo especulou fazer o mesmo, já que a primeira dose confere algum grau de proteção e poderia ser aplicada a uma base populacional maior. Mas aquele cenário contava com um fluxo constante de vacinas, o que não se mostrou realista.
</p><p>O governo paulista ainda aposta fichas na Butanvac, uma nova vacina feita com insumos nacionais no Butantan, mas até agora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não liberou os testes em humanos. Doria, contudo, ordenou o início de sua fabricação.</p>