RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Com o impacto da reabertura da economia, a taxa média de desemprego no Brasil recuou para 13,2% em 2021, informou nesta quinta-feira (24) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Apesar da baixa frente a 2020, quando a taxa média subiu para 13,8% com os efeitos da chegada da pandemia, o indicador ainda continua acima do pré-coronavírus --era de 12% em 2019.

Conforme o IBGE, o número médio de desocupados foi estimado em 13,9 milhões em 2021.

Os dados integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A série foi iniciada em 2012.

A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, afirma que a taxa média de desocupação de 13,2%, a segunda maior da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012, reflete a situação do mercado de trabalho em um momento em que a ocupação voltou a crescer após um ano de perdas intensas.

"Muitas pessoas ao longo dos dois anos perderam suas ocupações e várias delas interromperam a busca por trabalho no início de 2020 por causa da pandemia. Depois houve uma retomada dessa busca, ainda que o panorama econômico estivesse bastante desfavorável, ou seja, não havia uma resposta elevada na geração de ocupação. Em 2021, com o avanço da vacinação e a melhora no cenário, houve crescimento do número de trabalhadores, mas ainda persiste um elevado contingente de pessoas em busca de ocupação", diz.

TAXA TRIMESTRAL RECUA PARA 11,1%

O levantamento também traz recorte trimestral. Nesse caso, a taxa de desemprego recuou para 11,1% no quarto trimestre de 2021. O indicador estava em 12,6% no terceiro trimestre. Entre outubro e dezembro de 2020, era de 14,2%.

Com a nova redução, o número de desempregados foi estimado em 12 milhões no quarto trimestre de 2021.

Pelas estatísticas oficiais, uma pessoa está desocupada quando não tem trabalho e segue à procura de novas oportunidades. O levantamento do IBGE considera tanto o mercado formal quanto o informal.

Em 2021, a baixa do desemprego ocorreu em meio à reabertura de atividades econômicas, o que estimulou a volta ao trabalho. A criação de vagas, contudo, tem sido acompanhada pela queda na renda média real.

Em parte, o rendimento menor reflete a escalada da inflação no Brasil. Outros fatores que ajudam a explicar o quadro são a abertura de postos de trabalho com salários inferiores e o retorno de informais ao mercado, segundo analistas.

"No começo da pandemia, quem mais sofreu foram os trabalhadores de menor qualificação. Agora, eles voltam ao mercado, mas os salários estão menores. Isso puxa a renda média para baixo", afirma o professor de economia Sergio Firpo, do Insper.

"A inflação bateu de maneira pesada em itens básicos para o consumo da população. Entre ficar sem receber ou ganhar menos, parte das pessoas está se inserindo no mercado com uma renda menor. Elas precisam pagar suas contas no curto prazo", diz o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

A diarista Andreia Pereira de Moura, 44, sentiu os reflexos da crise no mercado de trabalho. Com a chegada da pandemia, a moradora de Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, ficou sem trabalho ao longo de 2020.

À época, passou a depender do auxílio emergencial e da ajuda da mãe, que é aposentada, para conseguir pagar as contas.

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e o menor nível de restrições a atividades, Andreia relata que voltou a trabalhar em 2021, mas ganhando menos do que no pré-pandemia.

A demanda pelos serviços de limpeza ainda é inferior à metade da verificada antes da Covid-19, segundo a trabalhadora.

"Perdi muito trabalho com a pandemia. Foi horrível. A situação até deu uma amenizada, mas segue difícil", conta.

Andreia, que é informal, deseja encontrar um emprego em uma nova área. Gostaria de migrar para profissões como merendeira de escola ou babá, embora evite fechar a porta para outras oportunidades.

"A gente não está podendo escolher."

Segundo analistas, a reação do mercado de trabalho em 2022 é ameaçada pelo cenário de baixo desempenho da economia como um todo.

Economistas e instituições financeiras projetam PIB (Produto Interno Bruto) com variação próxima de 0% neste ano, sob efeito da inflação persistente, dos juros mais altos e das incertezas eleitorais.