BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) fechou acerto para se filiar ao Republicanos para disputar o Governo de São Paulo.

A ideia inicial era que ele fosse para o PL, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), que gostaria que ele usasse o número 22. O mandatário cedeu ao final, porém, numa estratégia para assegurar a permanência do Republicanos na sua base.

A ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) também vai se filiar ao Republicanos. Não está definido, porém, a que cargo ela se candidatará e nem por qual estado.

Nas negociações, ainda ficou acertado que o ministro João Roma (Cidadania) migrará do Republicanos para o PL para concorrer ao Governo da Bahia.

As definições a respeito do futuro político de Roma e Tarcísio resolvem dois palanques considerados prioritários para Bolsonaro e amarram o trio de partidos que o presidente desejava manter no seu entorno: PP, PL e Republicanos.

A ida do ministro da Cidadania para o PL garante a Bolsonaro um palanque na Bahia, onde ele estava sem nenhum representante. Apesar de estar no seu entorno, o Republicanos no estado tende a apoiar a candidatura de ACM Neto (União Brasil).

O Nordeste é onde o presidente tem mais dificuldade de crescer, já que é um reduto onde o ex-presidente Lula (PT) tem os maiores índices de intenção de votos. Por isso, garantir palanques na região é algo estratégico para o mandatário.

Já a migração de Tarcísio no Republicanos teve como principal função contemplar o partido, que até aqui reclamava de ser preterido nas negociações por filiações de puxadores de voto e candidaturas expressivas.

À Folha o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, chegou a dizer que ao priorizar só PL e PP, Bolsonaro "atrapalhava" a permanência do partido na base que apoiará a sua reeleição.

Como mostrou a Folha, a candidatura de Tarcísio preocupa rivais, já que ele pode crescer embalado pela polarização e pelo apoio de Bolsonaro. Além disso, há a avaliação de que o ministro, por ser visto como técnico e menos afeito aos arroubos do presidente, é capaz de furar o teto de votos bolsonarista.

Tarcísio tem sido alvo de críticas até de grupos empresariais e sua fama de realizador é contestada pelos gastos da pasta, que mostram que o Ministério da Infraestrutura investe menos do que no passado.

Reportagem da Folha desta semana mostrou que Tarcísio é vendido por seu grupo político como um entregador de obras e concessões.

Levantamento feito pela Folha, porém, mostra que os investimentos da pasta caíram em relação a gestões anteriores.

Além disso, em São Paulo, estado que Tarcísio pretende administrar, há entregas tímidas na comparação com outras unidades da federação e até obras importantes travadas pelo Ministério da Infraestrutura.

Tarcísio, diante disso, aposta nas grandes concessões, como a do Porto de Santos e a da rodovia Presidente Dutra, como marcas para sua gestão. Ele chegou a ser apelidado de "Thorcízio" por aliados, em uma brincadeira com a força com que usa o martelo durante leilões de ativos públicos.

A média de investimento anual nos últimos três anos foi de R$ 8,5 bilhões, em valores executados e corrigidos, de acordo com o site Siga Brasil, do Senado.

Na última gestão, durante as administrações Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), esse valor médio foi de R$ 10,5 bilhões, contabilizando pasta equivalente, a de Transportes, Portos e Aviação Civil.

Sob outra realidade econômica e no auge do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o investimento da primeira gestão de Dilma chegava ao dobro disso.

O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), por exemplo, que fica sob o guarda-chuva da pasta de Tarcísio, tem R$ 6,2 bilhões em investimentos previstos para este ano. Em 2012, o órgão investiu R$ 21 bilhões.

Os números em queda têm reflexos na qualidade das estradas. Levantamento da CNT (Confederação Nacional do Transporte) mostra que o investimento público em rodovias federais, que em 2018 foi de R$ 156 mil por km, caiu para R$ 143 mil em 2020 e teve previsão de R$ 109 mil em 2021.

No estado de São Paulo, o Republicanos compõe o governo João Doria (PSDB). Aildo Rodrigues, membro do partido, é secretário de Esportes. A sigla deve deixar os cargos no governo estadual.

O assunto vinha sendo tratado pela direção nacional, mas foi discutido com membros da sigla em São Paulo.

Embora houvesse negociações para o apoio a Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa ao Palácio dos Bandeirantes, havia alguns desgastes na esfera estadual com o PSDB.

Entre outros pontos, houve no Republicanos um entendimento de que tucanos articularam para que um deputado de outro partido não fosse para a sigla. Também não pegou bem uma suposta pressão que integrantes do PSDB teriam feito para que o apresentador José Luiz Datena não se candidatasse ao Senado pelo Republicanos.

O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, postou sobre o assunto dando a entender que a parceria com o PSDB acaba com a chegada de Tarcísio.

"Agradeço ao governador João Doria e ao vice-governador Rodrigo Garcia o trabalho destes últimos três anos, fruto da parceria da eleição de 2018, mas é chegada a hora do Republicanos seguir seu propósito", afirmou.

Ele ainda afirmou que a candidatura de Tarcísio ao governo de São Paulo é um "salto ousado". Também citou que a chegada do ministro faz parte de "projeto partidário sólido orgânico e focado nos resultados".