SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A abertura comercial do país poderia impulsionar o crescimento da economia e a diversificação da pauta exportadora nos próximos anos, mas o Brasil precisa avançar também em algumas agendas, entre elas, questões educacionais, de sustentabilidade e combate à corrupção.

Essa é a avaliação de especialistas e empresários que participaram nesta segunda (27) do 4º Encontro O Brasil Quer Mais - O Lugar do Brasil no Mundo, realizado pelo ICC Brasil, entidade que reúne os membros brasileiros da Câmara de Comércio Internacional.

O argumento de que o custo Brasil não permite uma abertura mais rápida foi atacado pelos debatedores e citado como uma falácia.

Edmar Bacha, sócio-fundador e diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, afirmou que, de acordo com dados de 2018, o Brasil representava 3% do PIB (Produto Interno Bruto) e 1% das exportações mundiais, era a 25ª maior economia exportadora e 8ª maior em termos de PIB. O país tem um comércio internacional que representa 25% do PIB, ante uma média mundial de 60%.

Segundo Bacha, é necessário pensar em um Plano Real para a indústria como uma maneira de reindustrializar o país.

Para ele, o modelo de substituição de importações e proteção industrial foi importante até meados do século passado, mas hoje contribui no sentido contrário, para desindustrializar o país.

"O normal seria termos uma participação no comércio internacional de 50% do PIB. Não tem porque a gente prosseguiu muito além do razoável em uma estratégia de substituição de importações. As empresas vêm para o Brasil mirando o mercado interno, incapazes de exportar, com raras e honrosas exceções", afirmou Bacha, que defendeu uma redução substancial de tarifas.

Tânia Cosentino, presidente-executiva da Microsoft e presidente do Conselho de CEOs da ICC Brasil, afirmou que o Brasil é um país protecionista demais e que uma taxa de abertura comercial passando de 25% para 50% do PIB pode elevar o crescimento do país em dois pontos percentuais.

"Temos aquela visão ainda protecionista, e isso é o que impede ganhos de produtividade e o crescimento", afirmou.

A executiva disse que questões como infraestrutura, desburocratização e educação são críticas, mas que também é necessário determinar qual a vocação do Brasil, para ir além do agro e do setor mineral, além de trabalhar a marca Brasil para recuperar a credibilidade na questão da corrupção e de sustentabilidade.

"A gente está vivendo um retrocesso na nossa pauta ambiental, e isso está impactando na nossa credibilidade. Até a nossa pauta agrícola sofre pressões e embargos."

Vera Thorstensen, professora da Escola de Economia de SP na FGV, disse que o Brasil possui as tarifas alfandegárias mais altas do setor industrial entre países emergentes. Afirmou também que o Mercosul não está garantindo proteção à indústria brasileira dentro do bloco.

"Estamos trabalhando com a invasão da China na América do Sul, principalmente na Argentina. A China está jantando a parte industrial do Brasil. O Mercosul não está segurando mais nada", afirmou.

Ela também falou que a questão ambiental colocou o Brasil como "o menino feio do baile" e ameaça acordos já estabelecidos.

"A gente está conseguindo melar um acordo glorioso, com a União Europeia. Algum outro país tem interesse em fazer acordo com o Brasil? Esqueçam".

Pedro Passos, conselheiro e fundador da Natura, afirmou que o lobby dos setores favoráveis à proteção é muito forte no país, com entidades que não representam as indústrias inovadoras e que usam o argumento do Custo Brasil e do aumento do desemprego de forma distorcida.

"Setorialmente pode perder aqui ou acolá, mas no agregado da sociedade vamos gerar mais empregos e, se não fizermos essa modificação, vamos continuar a assistir esse filme de terror em que a indústria brasileira perde participação não só no mercado externo, mas também no próprio país."

Francisco Gomes, presidente-executivo da Embraer, afirmou que a empresa é uma exceção em relação à participação do país no comércio exterior, com mais de 80% da receita vinda das vendas ao exterior.

Ele citou dois exemplos que afetam a competitividade da companhia: a tributação pela contratação de serviços que não estão disponíveis no Brasil e a importação de máquinas de alta tecnologia.

"Nesses serviços, temos de pagar cerca de 45% de impostos. Os nossos concorrentes de outros países não pagam. Quando precisa importar um maquinário para nossas fábricas, temos de pagar também um imposto de importação importante e que os nossos concorrentes não precisam. Essas duas coisas afetam nossa competitividade, apesar de ser um mercado muito aberto."