SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Descoberto recentemente, um sítio arqueológico nos jardins do Palácio de Cristal, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, faz parte do patrimônio histórico e cultural afetado pelo forte temporal que atingiu a cidade no dia 15 de fevereiro. Mais de 200 pessoas morreram na tragédia.

Localizado na região central da cidade imperial, o Palácio de Cristal é um dos principais pontos turísticos de Petrópolis. O trabalho de pesquisa arqueológica investigava a existência de material histórico no terreno e fazia parte da reforma do palácio, construído no século 19 para cultivo e exposições de horticultura.

A reforma começou em outubro de 2019, mas os serviços na área dos jardins foram paralisados em fevereiro de 2020 por determinação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que pediu acompanhamento arqueológico.

Após aprovação do órgão federal, o trabalho arqueológico começou em maio de 2021 e, antes do temporal, estava na fase final de monitoramento da obra de engenharia.

Ainda não é possível dimensionar os danos ao sítio arqueológico. Técnicos do Iphan realizam vistorias para avaliar o impacto das chuvas no patrimônio cultural local.

"Teremos informações mais precisas nos próximos dias e semanas, conforme as vistorias se encaminharem", informou o órgão federal, por meio de nota.

Até o momento, as vistorias não foram conclusivas devido aos destroços e lama nas ruas da cidade.

A Grifo Arqueologia, contratada para o trabalho nos jardins do palácio, aguarda a possibilidade de retorno com segurança para avaliar a situação.

"Acreditamos que a parte escavada não tenha sofrido dano", disse à reportagem o diretor da empresa, Giovani Scaramella.

Segundo ele, os vestígios estruturais encontrados estavam na parte mais baixa das áreas escavadas, apoiados diretamente no solo. "Por estarem em áreas escavadas, a ação da correnteza foi menor", disse. "As áreas abertas foram pequenas e por isso a possibilidade de dano é menor".

Entre os vestígios do antigo jardim estão divisórias de canteiros e passeios e encanamentos de ferro fundido.

Em uma outra etapa da pesquisa arqueológica foram encontradas peças como pedaços de louças inglesas usadas pela elite do século 19, ferraduras, vidros e um cachimbo de porcelana.

Inaugurado em 1884 pela Princesa Isabel, o Palácio de Cristal é tombado pelo Iphan. Foi construído nas oficinas de St. Sauver-les-Arras, na França, por encomenda do Conde D´Eu, marido da Princesa Isabel e presidente da Sociedade Agrícola de Petrópolis. O espaço de exposições foi montado na praça Koblenz e inaugurado em um baile com a presença da corte imperial brasileira.

Segundo o Iphan, Petrópolis possui cerca de mil imóveis tombados e outros dez mil em áreas nos entornos, que também são acompanhados pelo órgão para que intervenções não interfiram na visibilidade ou volumetria dos bens preservados.

Fundada por Dom Pedro 1º e urbanizada por Dom Pedro 2º, Petrópolis é chamada de "museu a céu aberto" pelo Iphan. A cidade era a sede da corte imperial nas temporadas de verão e é considerada um dos principais patrimônios culturais do país.

A Casa da Princesa Isabel e o Palácio Rio Negro estão entre os prédios históricos afetados pelo forte temporal. Localizada às margens do rio Quitandinha, a Casa da Princesa Isabel é o bem histórico que mais sofreu estragos aparentes. Um muro caiu e atingiu uma exposição sobre a colonização germânica na cidade. Levado pela correnteza, um carro invadiu o jardim.

No Palácio Rio Negro, no Centro Histórico, o piso térreo foi inundado e deslizamentos atingiram a parte superior do terreno, mas sem danificar o prédio principal.