BRASÍLIA, DF, RIO DE JANEIRO, RJ, RECIFE, PE, RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Após entregas de cargos e redução no ritmo de atividades, servidores públicos federais foram às ruas na tentativa de elevar a pressão sobre o governo e conseguir abrir as negociações por reajustes salariais.

Diante do silêncio do governo Jair Bolsonaro (PL) perante os atos, algumas categorias já planejam deflagrar greve na segunda quinzena de fevereiro.

As manifestações em Brasília ocorreram nesta terça-feira (18) em frente às sedes do Banco Central e do Ministério da Economia. A mobilização teve baixa adesão em outros estados, como nos atos do Rio de Janeiro e de Recife.

A adesão contida já era esperada pelos sindicatos, devido ao aumento da taxa de transmissão de Covid-19 no Distrito Federal e às férias de muitos servidores. Mesmo assim, alimentou críticas dos poucos governistas que comentaram a mobilização.

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse que o movimento foi "bem fraquinho". "Não [assustou o governo]. Achei fraco", disse à reportagem.

Em uma tentativa de não ampliar a visibilidade dos atos e suas repercussões, inclusive políticas, membros da área econômica evitaram, inclusive nos bastidores, comentar as ações dos servidores. Oficialmente, o Ministério da Economia disse que não irá se manifestar.

Procurado, o Palácio do Planalto também não comentou o protesto.

A briga por reajustes salariais começou no fim de dezembro, após Bolsonaro acenar com aumentos apenas para policiais federais. A pedido do governo, o Congresso reservou R$ 1,7 bilhão no Orçamento de 2022 para bancar a despesa extra com o reajuste.

Os auditores fiscais da Receita Federal foram os primeiros a reagir, com a entrega de cargos comissionados e o início da operação-padrão, que já afeta alguns portos e fronteiras.

Os atos desta terça-feira começaram com uma paralisação de servidores do Banco Central, seguida de ato em frente ao prédio da instituição. O sindicato da categoria afirma que 50% dos servidores pararam suas atividades por um período de duas horas, pela manhã.

À tarde, os servidores realizaram novo ato, dessa vez em frente ao prédio principal do Ministério da Economia, onde despacha o ministro Paulo Guedes.

Os líderes sindicais afirmam que participaram servidores de cerca de 40 categorias e que os atos reuniram de 500 a 600 pessoas. Os representantes afirmam que esse número de manifestantes já era esperado, tendo em vista o recrudescimento da variante ômicron, que aumentou a quantidade de casos de infecção pelo novo coronavírus.

Guedes foi o principal alvo dos manifestantes. Um boneco com a sua imagem trazia um cartaz no pescoço, fazendo menção ao fato de o ministro possuir conta em uma offshore. Em outro momento, esse mesmo boneco segurava uma granada, em referência à frase dita por ele, em reunião ministerial de abril de 2020, de que a suspensão de reajustes seria uma "granada no bolso do inimigo".

À época, a suspensão dos reajustes por dois anos foi incluída pelo Congresso como contrapartida ao socorro dado pela União a estados e municípios devido à crise da Covid-19. A vedação, porém, acabou em 31 de janeiro de 2021.

Participaram da manifestação servidores da Receita Federal, da Controladoria-Geral da União, do Legislativo, Banco Central, do Poder Judiciário, entre outros.

Também estiveram no ato em frente ao Ministério da Economia parlamentares da oposição, como os deputados Erika Kokay (PT-DF) e Professor Israel Batista (PV-DF).

"É uma sinalização. Acho que o recado foi dado para o governo: é hora de sentar e negociar com os servidores públicos federais", afirma o presidente do Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado), Rudinei Marques.

"Essa mobilização começa agora, mas não tem data para encerrar. Só encerra com a reposição ao menos das perdas inflacionárias que tivemos desde janeiro de 2017 até aqui, que já chegam a mais de 28%."

O Fonacate defende o reajuste de 28% porque é o tamanho da perda inflacionária nos últimos cinco anos. Outros fóruns que representam os servidores querem reposição de 19,9% (variação da inflação de 2019 até hoje), como o Fonasefe (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais), que representa leque mais amplo de carreiras, inclusive aquelas com menores salários.

A entidade entregou um ofício ao Ministério da Economia, no qual pedem uma audiência com Paulo Guedes para discutir a questão. Rudinei Marques afirma que o procedimento tem o intuito de sinalizar oficialmente que a categoria está aberta a negociação, para evitar questionamentos judiciais em eventual greve.

"Vamos agora preparar aí o terreno para que no começo de fevereiro nós possamos deliberar sobre uma greve por tempo indeterminado", afirmou o presidente do fórum, que diz que são necessários alguns ritos e assembleias, antes da determinação da paralisação.

"Na nossa avaliação, no início de fevereiro, na primeira semana, na primeira quinzena, para encaminhar todas as formalidades e depois então, se for o caso, entrar com um movimento paredista mais incisivo", completou.

As lideranças acreditam que uma greve não poderia começar muito mais tarde que a segunda quinzena, pois consideram a janela orçamentária "muito curta", indo até o fim de março.

"Nós vamos fazer uma tentativa de abertura do processo de negociação, de diálogo. Hoje foi só um dia, semana que vem serão dois dias e gradativamente a gente vai apertando as coisas do lado de cá, quando o outro lado não quer dialogar. E aí pode culminar na questão da greve, que está construindo aí em fevereiro e março", afirma Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Condisef (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal) e do Fonasefe.

As lideranças sindicais afirmam que a paralisação e os atos desta terça-feira não tinham o intuito de afetar a execução dos serviços. No caso do Banco Central, os servidores paralisaram as suas atividades entre 10h e 12h. De acordo com o presidente do Sinal (Sindicato Nacional dos Servidores do Banco Central), Fábio Faiad, 50% dos funcionários do órgão cruzaram os braços nesse período.

Apesar da paralisação, Faiad afirma que os serviços do BC não foram afetados.

"Hoje, a ideia não era impactar, todos os serviços foram mantidos. O impacto é mais político, mostrar a indignação dos servidores com a situação", disse.

O Banco Central não comentou o ato, que faz parte da mobilização nacional do funcionalismo público por recomposição salarial.

Mobilização tem baixa adesão em outros estados A mobilização teve baixa adesão fora de Brasília. Cidades como Rio de Janeiro e Recife registraram atos com poucos participantes nesta terça e, na avaliação de lideranças, o recente avanço de casos de Covid-19 dificultou adesão maior.

Um dos protestos no centro do Rio ocorreu nas imediações da Superintendência Estadual do Ministério da Saúde. Por volta das 11h, em torno de 40 pessoas se reuniam no local.

Em uma faixa, manifestantes pediram reajuste para todos os servidores federais da saúde. O ato teve críticas a Bolsonaro e ao ministro Paulo Guedes.

"Estamos há oito anos sem reajuste. A inflação chegou a dois dígitos, e o poder aquisitivo diminuiu", disse José Ribamar de Lima, diretor do SintSaúde-RJ (Sindicato dos Trabalhadores no Combate às Endemias e Saúde Preventiva no Estado do Rio de Janeiro).

"O governo tem dinheiro para outras áreas, para militares, para Orçamento secreto, para policiais, mas diz não ter para a saúde, que foi vitimada na pandemia", criticou.

Outro ato ocorreu em frente ao edifício do Ministério da Economia no centro da capital fluminense. Por volta das 12h, havia em torno de dez manifestantes.

"Estamos reivindicando a reposição das perdas salariais. Se uma carreira vai ter aumento, todas precisam ter. É preciso isonomia", relatou Ana Maria Balthar, presidente do Unacon Sindical-RJ (Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle no Rio de Janeiro).

Em Recife (PE), funcionários públicos federais realizaram ato pela manhã no centro da cidade. O protesto pediu reajuste para todos os servidores.

Desde segunda-feira (17), carros de som circulam em frente aos locais de trabalho das categorias em defesa do aumento dos salários.

Às vésperas dos protestos, lideranças não descartavam a realização de atos de servidores da Receita Federal em aeroportos do país. O Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, no Rio, não registrou impacto, segundo a concessionária RIOgaleão. O Santos Dumont, outro terminal carioca, opera apenas voos domésticos, e, por isso, não há área de alfândega com atuação da Receita Federal.