Sarkozy, ex-presidente da França, é condenado por financiamento ilegal de campanha
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quinta-feira, 30 de setembro de 2021
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Justiça francesa declarou o ex-presidente do país Nicolas Sarkozy, 66, culpado de financiamento ilegal de campanha durante sua tentativa fracassada de reeleição em 2012.
Trata-se do segundo revés judicial para o conservador neste ano --em março, ele foi condenado à prisão por corrupção e tráfico de influência envolvendo sua campanha eleitoral de 2007. O julgamento representou a primeira vez que um ex-presidente do país foi declarado culpado por um caso de corrupção realizado enquanto estava no cargo. Sarkozy recorreu e a sentença de um ano foi suspensa.
Na condenação desta quinta (30), pesaram contra o ex-chefe de Estado acusações do caso conhecido como Bygmalion, em referência ao nome da empresa que organizava os comícios da corrida presidencial de 2012 e superfaturava prestações junto ao partido do ex-presidente, o União por um Movimento Popular (hoje intitulado Republicanos).
De acordo com a lei eleitoral francesa, gastos com campanhas são limitados para assegurar que os candidatos concorram em condições de igualdade. Em 2012, o limite para campanhas presidenciais por candidato era de cerca de 16,8 milhões de euros (R$ 105,2 milhões) no primeiro turno e cerca de 5,7 euros (R$ 35,7 milhões) no segundo.
Investigações iniciadas em 2014 revelaram que a campanha de Sarkozy desembolsou pelo menos 42 milhões de euros --quase o dobro do limite legal. Com isso, promotores do caso argumentaram que o objetivo da fraude era ocultar gastos excessivos das autoridades eleitorais.
A experiência política do ex-presidente, que governou a França de 2007 a 2012, pesou nos argumentos da acusação. Os promotores afirmaram que Sarkozy negligenciou avisos de seus assessores sobre um volume incompatível de eventos de campanha, algo inaceitável para um veterano da arena política.
"Não era a sua primeira campanha, e ele já tinha experiência como candidato", disse a presidente do tribunal, Caroline Viguier, que determinou um ano de prisão ao conservador, que poderia ser cumprido em regime domiciliar, com tornozeleira eletrônica. Ainda cabe recurso à sentença.
Sarkozy negou quaisquer irregularidades. Ele disse ao tribunal que não esteve envolvido na logística de sua campanha para um segundo mandato como presidente, nem na forma como o dinheiro foi gasto durante a corrida eleitoral. Em 2012, ele perdeu a chance de reeleição para o socialista François Hollande.
Apesar de uma tentativa de retorno fracassada em 2016 e das derrotas judiciais em sequência, Sarkozy ainda é popular e sustenta base entre os conservadores. Sua legenda, Republicanos, ainda não definiu um candidato para as eleições presidenciais de 2022.
Outras 13 pessoas também foram acusadas de envolvimento na fraude, incluindo ex-membros da equipe de campanha, funcionários do partido, assessores próximos a Sarkozy e ex-executivos da Bygmalion. Os promotores, no entanto, concluíram que não havia evidências suficientes para determinar quem planejou o esquema de faturamento falso em primeiro lugar.
Em meio ao emaranhado de casos legais que pesam sob o ex-presidente, estão acusações de que sua campanha recebeu recursos da ditadura líbia de Muammar Gaddafi para financiar a campanha eleitoral de 2007, na qual foi eleito presidente da França --esse caso ainda não foi julgado.
Durante o começo de seu mandato, Sarkozy teve proximidade com Gaddafi. O ditador chegou a ser recebido em Paris, em 2007. No entanto, em 2011, a França ajudou a retirá-lo do poder durante a Primavera Árabe, inclusive com apoio militar aos rebeldes. O ditador foi morto enquanto tentava fugir.
Outro caso, que envolveu a herdeira da empresa de cosméticos L'Oréal, Liliane Bettencourt, foi descartado. Sarkozy havia sido acusado de ter se aproveitado da sanidade mental dela para obter doações acima do teto legal e financiar sua campanha presidencial de 2007.

