RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A rotina no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (região metropolitana do Rio), foi interrompida no final de semana por uma operação da Polícia Militar que terminou com nove pessoas mortas.

Testemunhas disseram ao jornal Folha de S.Paulo que os policiais fizeram um churrasco na comunidade, torturaram parte das vítimas e depois levaram duas mochilas de dinheiro, fuzis e pistolas que não estão entre as apreensões divulgadas oficialmente.

Questionada sobre os relatos, a PM respondeu com uma nota da Polícia Civil informando que os resultados da autopsia apontam que as mortes foram provocadas por arma de fogo, sem indícios de facadas ou outro tipo de arma com ação cortante.

Os confrontos no Complexo do Salgueiro começaram no sábado (20), quando o sargento Leandro da Silva foi morto durante um patrulhamento. A PM diz que a equipe em que o agente estava foi atacada a tiros por criminosos.

Os moradores, porém, contestam essa versão e dizem que não foram criminosos os responsáveis pelo ataque.

No domingo (21), dia seguinte à morte de Leandro, o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) entrou na comunidade para capturar os responsáveis pelo crime. A PM diz que os agentes receberam informação de que um dos envolvidos no ataque estava ferido na comunidade.

Durante a operação, uma idosa de 71 foi baleada no braço. Ela foi liberada após ser encaminhada ao hospital Estadual Alberto Torres.

Ao todo, morrerem nove pessoas durante os confrontos. Apontado pela polícia como um dos envolvidos na morte do PM, Igor da Costa Coutinho foi baleado no domingo, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

Na segunda-feira (22), oito corpos foram retirados de um manguezal pelos moradores, que cobriam os cadáveres com lençóis brancos. A operação que resultou nas nove mortes é alvo de investigações do Ministério Público e das polícias civil e militar.

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QUEM SÃO AS NOVE VÍTIMAS

Elio da Silva Araújo, 52

Trabalhava como eletricista. Um vizinho que carregou o corpo disse que Araújo estava com a garganta "raspada de faca". O eletricista teria sido o primeiro a ser morto durante a operação. Segundo relatos, ele não tinha envolvimento com o crime.

Douglas Vinicius Medeiros da Silva, 27

Não tinha passagem pela polícia.

Igor da Costa Coutinho

Foi baleado na tarde de domingo. Por volta das 15h, uma equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionada para socorrê-lo, mas ele não resistiu aos ferimentos. Igor não tinha passagens pela polícia. Segundo a PM, ele seria um dos envolvidos na morte do sargento Leandro.

Ítalo George Barbosa de Souza Gouvêa Ros, 33

Familiares dizem que o corpo também apresentava sinais de tortura. Não era casado e deixa um filho. Foi enterrado nesta terça-feira (23). Tem passagens pela polícia por porte ilegal de arma de fogo, associação para o tráfico, corrupção ativa e homicídio qualificado.

David Wilson Oliveira Antunes, 23

Não tinha passagem pela polícia.

Jhonata Klando Pacheco, 26

Tinha passagens pela polícia por roubos e tráfico no Pará. Familiares disseram ao jornal O Globo que ele foi retirado de dentro de casa pelos policiais.

Carlos Eduardo Curado de Almeida, 33

Tinha passagem pela polícia por tráfico, ameaça, receptação, uso de documento falso e desobediência.

Rafael Menezes Alves, 28

Tinha passagem pela polícia e foi citado em investigação de tráfico de drogas e corrupção de menores.

Kauã Brenner Gonçalves Miranda, 17

Não tinha passagens pela polícia.