BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O servidor público e engenheiro Rodrigo Cruz assumiu provisoriamente o comando do Ministério da Saúde durante o período no qual o titular da pasta, Marcelo Queiroga, estiver isolado em Nova York --ele atualmente faz quarentena na cidade americana após ser diagnosticado com Covid-19.

Cruz é o secretário-executivo, ou seja, o "número dois" do ministério. Ele foi nomeado para esta função em 30 de maio deste ano.

Tido como discreto por gestores do SUS, Cruz entrou no serviço público federal em 2012, na função de analista de infraestrutura.

Ele exerceu cargos comissionados no governo Dilma Rousseff (PT) e se tornou nome de confiança do ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura). A indicação à Saúde foi de Tarcísio, que já havia recomendado seu auxiliar para a equipe de transição na pasta depois da saída do general Eduardo Pazuello.

O servidor assume o comando provisório da Saúde no momento de fragilidade de Queiroga, que faz sucessivos agrados ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para se agarrar ao cargo.

Cruz ganhou projeção no governo por coordenar uma operação para trazer 960 toneladas de máscaras, testes e insumos da China no início da pandemia, em 44 voos realizados a partir de abril do ano passado.

Segundo integrantes da Saúde, a principal tarefa do engenheiro na pasta é, sem causar tumulto, organizar a aquisição e entrega das vacinas para a campanha de imunização da Covid-19. Conforme publicou a Folha de S.Paulo, a gestão de Pazuello abriu as portas para ofertas improváveis de vacinas enquanto negava diálogos com fabricantes como a Pfizer.

O ministro provisório da Saúde é mestre e doutor em engenharia de transportes pela UnB, mesma universidade em que completou, em 2005, a graduação de engenheiro civil e ambiental. Ele também se formou em direito pelo Uniceub em 2007.

Em crise com Queiroga, secretários de estados e municípios consideram mais fácil lidar com Cruz --alguns chegaram a dizer que a licença do ministro facilitaria os trabalhos.

Gestores da rede pública de Saúde procuraram o secretário-executivo na última semana para entender a razão de Queiroga ter excluído a recomendação de vacinar adolescentes sem comorbidades do Programa Nacional de Imunização (PNI).

O governo recuou e voltou a incluir estes jovens na campanha de vacinação na quarta-feira (22). Coube a Cruz, titular provisório da Saúde, dar a notícia à imprensa.

Integrantes da Saúde dizem que Cruz não quer ampliar divergências com estados e municípios na passagem pelo comando da pasta enquanto Queiroga está isolado.

O ministério, já com Cruz no comando, porém, abriu nova disputa com o governo de João Doria (PSDB) nesta quarta (22). A pasta ameaçou multar o Butantan por uma suposta quebra de contrato na venda de Coronavac que o instituto paulista fez para cinco estados.

A Saúde argumentou que o Butantan ainda precisa repor ao governo federal um lote de 12 milhões de vacinas interditadas para concluir as entregas previstas em contrato, e só depois pode vender a Coronavac a outros estados ou países.

Já o instituto afirmou que cumpriu com o contrato e tem até 30 de setembro para enviar as novas doses ao ministério.

Além de comandar a burocracia da pasta, Cruz ainda pode ocupar o cargo de ministro em agendas que teriam Queiroga como protagonista.

O governo prepara atualmente comemorações de mil dias da gestão Bolsonaro em diversas cidades e o titular da pasta seria uma das estrelas do evento em João Pessoa (PB), onde nasceu.

Além disso, o ministério planeja em breve fazer o anúncio da compra de novas vacinas para a campanha contra a Covid-19 de 2022. Com Queiroga fora, as duas cerimônias podem ser encabeçadas pelo "número 2".

Decisões sobre o andamento da vacinação contra a Covid também devem acontecer sem a presença do ministro. Na sexta-feira (24) será discutido com os conselhos de secretários estaduais (Conass) e municipais (Conasems) a dose de reforço em profissionais de saúde.

O ministro titular recebeu o diagnóstico de Covid na terça-feira (21) --ele fazia parte da comitiva do presidente que viajou a Nova York para participar da abertura da Assembleia-Geral da ONU.

Queiroga deve ficar pelo menos 14 dias isolado nos Estados Unidos. Apenas as diárias do hotel neste período devem custar ao menos R$ 30 mil.

O ministro esteve em vários eventos ao lado do presidente em Nova York, como o jantar na noite de segunda (20) que terminou em confusão. Na ocasião, ele mostrou o dedo do meio a ativistas que protestavam contra o governo brasileiro.

Na segunda, Queiroga esteve também no encontro com o premiê britânico, Boris Johnson, 57 --que depois se reuniu com o presidente dos EUA, Joe Biden, 78. Ao ser questionado sobre o primeiro caso de Covid na comitiva, o ministro disse: "Estamos em pandemia, e coisas assim [contaminações] podem acontecer".

Ele também foi à parte externa do memorial dos ataques de 11 de Setembro, no World Trade Center, na tarde de terça. No local houve uma aglomeração em torno de Bolsonaro, que foi cercado por turistas.