SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Foi cantando sobre sua experiência de parar de beber, em "Liquor Store" que Remi Wolf deu início ao seu show no Lollapalooza. Ela se apresentou no palco Adidas, um pouco antes das 17h deste sábado.

Mas apesar de tratar de um assunto um tanto sério, a americana não dispensa o bom humor. Esse é o clima do show de Wolf, que mostrou aos brasileiros seu universo bastante particular, cheio de cores, dando um tom lisérgico a um clima leve de descontração.

A pista não estava tão cheia. Pabllo Vittar, que cantou no mesmo espaço e no mesmo horário no dia anterior, teve um público muito maior. Mas os fãs já gritavam o nome de Wolf na segunda música, "Wyd".

Remi Wolf tem apenas um disco, "Juno", lançado em junho do ano passado, mas a música já está na sua vida há muito tempo. A cantora de 26 anos toca e canta há 15 e chegou até a participar do reality "American Idol", em 2014, sem muito sucesso.

Ela chega ao Brasil como uma espécie de revelação da música indie, mas sua música vai muito além. Ela faz uma mistura de R&B e soul com refrões chiclete, levadas dançantes e uma psicodelia que transcende as roupas e o cenário colorido e se espalha pela música da cantora.

No Lolla, ela cantou com uma camisa azul listrada, uma gravata rosa e uma saia longa de retalhos, no estilo riponga, além dos cabelos com as pontas vermelhas, da mesma cor das lentes dos óculos escuros. É um espelho da sua postura no palco, entregando vocais potentes e rimas de rap numa mesma música, como em "Monte Carlo" e "Quiet on Set".

Ela perguntou se a plateia sabia como era se sentir uma mulher confiante e ao mesmo tempo uma pessoa chata e cruel. Esses são os sentimentos que guiam "Sexy Villain", espécie de ode aos vilões, em que ela se define como "Robert DeNiro da Costa Oeste".

Também diz na música que é uma "garota super emo de aquário com ascendente em leão" --possivelmente a frase mais millennial de todo o festival.

Wolf faz um tipo de música intimista que pode ser caracterizado como bedroom pop, ou "pop de quarto". Ela não esconde o caráter lo-fi das produções, incluindo os clipes divertidos e capas de disco e EPs que parecem -propositalmente- montagens toscas, como as que apareceram no telão do Lolla.

Não é à toa que o álbum com que despontou, "Juno", foi feito durante a pandemia e exala um pouco do sentimento de estar em quarentena.

No palco, contudo, essa música que cabe em um quartinho consegue se expandir ao longo do gramado do Autódromo. Isso porque o repertório de Wolf apela à dança -não as reboladas acrobáticas de Anitta, mas um balanço descontraído com a cara de um fim de tarde tranquilo, exatamente o clima que ela encontrou no Brasil.

Ela também conseguiu segurar um show dessa proporção com muita inquietação --não ficou parada no palco-- e um vozeirão afiado, que ficou ainda mais evidente nos covers. Ela cantou versões suingadas de dois hits dos anos 2000, "Crazy", do Gnarls Barkley, e "Electric Feel", do MGMT.

De certa forma, Wolf também conseguiu transportar o conforto de seu quarto para o show no Lolla --não havia filas para o banheiro ou para comprar bebida, nem empurra-empurra quando ela tocou. Até o sol, que castigou o público nas horas anteriores, se retirou para relaxar ao som da californiana.

A fatia mais reflexiva e psicodélica do setlist ficou para o final, com "Shawty", "Woo!" e a romântica "Street You Live On". O maior hit dela, "Photo ID", espécie de sátira do momento pandêmico --"por dentro é onde somos livres", ela canta--, fechou o show da maneira mais adequada. Afinal, pelo menos para o público, o Lollapalooza marca um momento de retorno aos grandes eventos.