Relógio do Juízo Final não acelera, mas continua a 100 segundos da meia-noite
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Desinformação, ameaças à segurança global, lacunas em políticas públicas eficientes contra a mudança climática, tecnologia disruptiva e resposta mundial insuficiente à Covid-19. Apesar de todos esses motores estarem em plena marcha, o apocalipse não está necessariamente mais próximo --ao menos na interpretação do prestigioso Boletim dos Cientistas Atômicos.
O grupo de acadêmicos americanos divulgou nesta quinta-feira (20) a atualização de seu Relógio do Juízo Final, criado em 1947, mantendo os ponteiros a 100 segundos para a meia-noite. O índice é o mesmo adotado nos últimos dois anos, mas o fato de o tempo ter, por assim dizer, parado não indica alívio.
"A decisão não sugere, de forma alguma, que a situação da segurança internacional tenha se estabilizado", disseram os cientistas em comunicado. Pelo contrário: "O relógio permanece o mais próximo que já esteve do fim da civilização, porque o mundo continua preso em um momento extremamente perigoso".
Para reverter o quadro, o relatório incita os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin, a firmarem, até o final de 2022, acordos mais ambiciosos e abrangentes para diminuir o acesso a armas nucleares. "Ambos devem concordar em reduzir a dependência de armas nucleares, limitando seus papéis, missões e plataformas, além diminuir os orçamentos [voltados para a área]."
A eleição de Biden, um ano atrás, não custa lembrar, foi um dos fatores que ajudaram a manter os ponteiros fixos em 2021.
O pedido vem em meio ao aumento das tensões entre Rússia e países-membros da Otan (a aliança militar do Ocidente), ligado a uma possível entrada da Ucrânia na organização. O Kremlin teme que seus adversários geopolíticos cheguem ainda mais perto de suas fronteiras e ameaça invadir o país vizinho caso ele se junte às potências ocidentais.
Ainda no tema, os cientistas pedem para que Moscou volte a integrar de forma ativa o Conselho Otan-Rússia, em colaboração a medidas de redução de risco e prevenção de escalada de tensões. Em 2021, ambos os lados romperam relações diplomáticas, mas recentemente, devido às crescentes tensões, voltaram a se reunir --ainda que sem grandes avanços.
O grupo de cientistas também cita os americanos ao pedirem que todos os países acelerem e coloquem em prática seus projetos de descarbonização. Já a China, em sua Iniciativa do Cinturão e da Rota, "deve dar exemplo ao buscar caminhos de desenvolvimento sustentável", evitando projetos com o uso intensivo de combustível fóssil.
O Brasil, incluído entre os motores do apocalipse pela primeira vez na atualização de 2020, por causa da política ambiental do governo Jair Bolsonaro (PL), não foi mencionado no relatório deste ano.
O Boletim foi formado em 1945 por Albert Einstein e pesquisadores da Universidade de Chicago que haviam participado do Projeto Manhattan, a criação da bomba atômica americana. Dois anos depois, alarmados com as possibilidade de o novo armamento ser utilizado em um conflito entre Estados Unidos e União Soviética, eles criaram o Relógio como forma de alertar a comunidade internacional de riscos.