SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Valery Gergiev, o maior maestro russo e um dos mais famosos do mundo, teve suas apresentações com a Filarmônica de Viena canceladas no Carnegie Hall, uma das mais tradicionais casas de espetáculos de Nova York.

A decisão da instituição foi interpretada como uma forma de boicotar o artista, amigo do presidente russo Vladimir Putin, que nesta quinta (24) promoveu uma invasão militar sobre a Ucrânia, iniciando uma guerra contra o país vizinho, o que tem provocado uma onda de condenações internacionais.

Gergiev não se pronunciou sobre a guerra, mas sua postura a favor das atitudes do presidente já é conhecida. O artista vinha apoiando os movimentos anteriores de Putin contra a Ucrânia, e foi alvo de protestos quando o governante russo aprovou uma lei que proíbe "propaganda de relacionamentos sexuais não tradicionais", numa tentativa de reprimir os movimentos LGBTQIA+ na Rússia.

No evento que comemorava seus 15 anos à frente do poder na Rússia, em 2014, o presidente Putin escalou o maestro para realizar o fechamento da cerimônia. Dois anos antes, na campanha presidencial russa, Gergiev gravou um vídeo em apoio a Putin.

Diretor geral do histórico teatro Mariinski, localizado em São Petersburgo, Gergiev tem no currículo trabalhos com as principais filarmônicas do mundo, como a de Munique, de Rotterdam, a Metropolitan Opera e a Orquestra Sinfônica de Londres.

Em outras instituições russas do campo musical, seu trabalho também é reconhecido pela união entre autoridade, o caráter visionário e habilidade política, que não só transformou a Filarmônica de São Petersburgo na principal instituição musical da cidade como ainda tornou o Teatro Bolshoi, de Moscou, o símbolo máximo da música clássica na Rússia.

Eleito em 2010 pelo periódico Time Magazine uma das cem personalidades mundiais do ano --reconhecido pelo "estilo de regência intenso e visceral"--, Gergiev é admirado pelo caráter enérgico de suas interpretações.

Em um artigo na revista "New Yorker", o crítico musical Alex Ross escreveu que Gergiev "alcançou um nível de poder mundial provavelmente não atingido por nenhum outro músico clássico vivo".

Em algumas de suas várias apresentações no Metropolitan, em Nova York, ele regeu o barítono paulista Paulo Szot. Outro brasileiro com quem ele tinha boas relações era o pianista Nelson Freire. Em novembro de 2021, em razão da morte do brasileiro, a ópera Mariinski publicou no YouTube um vídeo em que Gergiev homenageia Freire e reconhece sua importância para a música.