SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em posição geopolítica complexa e pressionada a condenar a Rússia, a China se recusou novamente nesta sexta-feira (25) a usar a palavra "invasão" para o conflito na Ucrânia.

A porta-voz do ministro das Relações Exteriores, Hua Chunying reconheceu que a situação "não é a que gostaríamos de ver", mas preferiu apontar o dedo para os Estados Unidos. Segundo ela, os americanos são responsáveis por inflamar a crise nas últimas semanas. O governo Joe Biden havia alertado que a invasão russa à Ucrânia era iminente.

"A China tem tido uma atitude responsável e tentado persuadir todos os lados a não aumentar as tensões ou incitar a guerra. Aqueles que seguem a liderança americana atiçam as chamas e depois culpam outros que são os verdadeiros responsáveis", afirmou nesta sexta-feira (25).

Apesar de afirmar acreditar no respeito à integridade territorial de todos os países, o regime chinês vê a questão da Ucrânia como tendo um próprio contexto histórico complexo e especial.

"Entendemos as preocupações legítimas da Rússia em questões de segurança", disse outro porta-voz da chancelaria, Wang Wenbin, em entrevista.

Aliados estratégicos da Rússia, dirigentes chineses têm tergiversado quanto a perguntas sobre sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia. Uma das questões é se o país está disposto a aumentar a compra de petróleo russo. Wang respondeu apenas que "sanções nunca foram uma maneira eficaz de responder problemas."

Em conversa telefônica, o líder chinês Xi Jinping disse ao russo Vladimir Putin apoiar os esforços russos para resolver a crise na Ucrânia com diálogo, segundo a televisão estatal CCTV, da China. Putin teria afirmado, segundo a emissora, estar disposto a manter conversas de "alto nível" com os ucranianos.

Horas depois da assistente do ministro empurrar a culpa para os aliados dos Estados Unidos, a chanceler britânica Liz Truss declarou esperar que a China defenda a soberania ucraniana. O governo do Reino Unido cobrou um posicionamento de Pequim sobre os ataques russos.

"Falei com [o chanceler chinês] Wang Yi sobre a invasão à Ucrânia e deixei claro que as ações russas são uma violação flagrante da Carta da ONU", disse Truss em comunicado. "Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, esperamos que a China defenda a soberania e a integridade territorial da Ucrânia."

Em reunião no Conselho de Segurança das Nações Unidas na última quinta-feira, enquanto acontecia a invasão, o embaixador chinês Zhang Jung não citou a Rússia, guerra ou invasão. Limitou-se apenas a pedir calma aos envolvidos.

Xi Jinping havia dado seu apoio a Putin em suas reivindicações de que a Otan deveria ficar fora do antigo espaço soviético. Ele também condenou o deslocamento de militares do ocidente para a região.

O líder da China e o presidente da Rússia se encontraram na abertura das Olimpíadas de Inverno, no último dia 4. Logo depois, os dois países divulgaram um comunicado conjunto se colocando contra a expansão da Otan e os pactos militares americanos na região Indo-Pacífico, uma região de interesse fundamental para os chineses.