SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após um hiato de mais de dez anos, a versão americana da série "In Treatment" ("Em Terapia") está de volta com uma nova terapeuta. No Brasil, os novos episódios estrearam no final de maio na HBO.

A trama agora passa a ser estrelada pela atriz Uzo Aduba, vencedora do Emmy por papéis em "Orange Is the New Black" e "Mrs. America". Ela dá vida à terapeuta Brooke Taylor, que tenta equilibrar a vida pessoal com o atendimento a pacientes cheios de traumas.

Produtora executiva responsável por ressuscitar a série, Jennifer Schuur conta por que decidiu trazer de volta o formato para a televisão. "Sou uma grande fã da série original", afirma em entrevista cedida pela HBO à reportagem. "E também sou uma veterana na terapia, com 17 anos de sessões semanais com o mesmo terapeuta."

"A terapia é uma das relações mais fundamentais da minha vida, é uma coisa que mantenho sempre muito perto do coração", diz. "Então, senti que havia uma oportunidade de explorar a minha própria experiência de vida neste âmbito e de fazer isso de uma maneira significativa, espero."

Schuur afirma que a nova terapeuta na qual a história é centrada foi fruto de muita pesquisa. "Tínhamos uma assessora, que é terapeuta, mulher e negra, de Nova York", revela. "Ela trouxe muitos insights sobre coisas que talvez nós não soubéssemos, já que somos do mundo do entretenimento."

"Estamos contando uma história humana, a de Brooke, com outras histórias humanas", avalia. "Ao fazer isso, a nossa intenção foi mostrar que todos passamos pelas mesmas experiências. Até o profissional de saúde mental mais brilhante e respeitado do planeta pode ter dificuldades na própria vida e, se não pedir ajuda, a questão se intensifica."

"Isso vale para ela e para todo mundo", afirma. "Quisemos falar sobre isso e mostrar que as pessoas não estão sozinhas, que todos vivemos isso, que todos em algum momento passamos por situações difíceis."

Sobre a escolha de Uzo Adubo para o papel, Schuur diz que foi um sonho tornado real. "Eu me lembro que, quando os nossos diretores de elenco contaram que a Uzo Aduba poderia estar disponível e que poderia estar interessada, meu coração quase explodiu."

"Eu não acreditava que teríamos a enorme sorte de tentar convencê-la a fazer este trabalho", afirma. "Surpreendentemente, ela entendeu o que queríamos. Também fez propostas fundamentais sobre o que queríamos falar na série. E contribuía com a própria experiência. Às vezes, coisas mágicas acontecem."

Além dela, estão no elenco Anthony Ramos, Quintessa Swindell, John Benjamin Hickey, Liza Colón-Zayas e Joel Kinnaman, seja como pacientes ou pessoas que gravitam ao redor de Brooke Taylor. "Ainda não sei como conseguimos colocar todas as peças do quebra-cabeça nos seus lugares", comemora a produtora.

"Criamos os pacientes antes de definir o elenco, e cada um dos atores escolhidos encarnou perfeitamente o que queríamos dos personagens", acrescenta. "O roteirista que criou o Eladio [personagem de Anthony Ramos] queria uma voz muito específica, com um certo ritmo", revela.

"Havia uma maneira de falar que não tínhamos certeza se alguém poderia fazer bem. Mas no exato momento em que fizemos uma reunião pelo Zoom com o Anthony, que estava em Budapeste gravando um filme, nos demos conta de que era ele. Foi como se tivéssemos encontrando Eladio, era impressionante como ele era o personagem."

"John Benjamin Hickey é um dos grandes atores dos tempos atuais, ganhou um Tony Award", continua. "Ele fez um episódio inteiro de uma vez. A ideia era gravar a metade. Mas ele e Uzo continuaram e a direção deixou que eles fossem em frente, claro."

"Eles fizeram um episódio inteiro em um único take", surpreendeu-se. "E todos da equipe aplaudiram. Eu nunca tinha visto isso. Foi como ver uma obra de teatro acontecendo diariamente. Contamos com estes atores muito talentosos, capazes de fazer isso."

Isso, aliás, foi uma das coisas que Schurr mais gostou ao retomar a série. "Foi de trabalhar com este nível de talento. São coisas que, provavelmente, só acontecem uma vez na vida."

"Para mim, isso inclui os produtores, diretores -todas as nossas diretoras foram mulheres, exceto um homem com quem ao longo da minha carreira sempre quis trabalhar", diz. "E foi uma questão de timing. A pandemia havia paralisado Hollywood durante muito tempo e pessoas, que, em geral, não se tem acesso, estavam disponíveis e eram fãs da série. O nível de talento reunido para fazer a série foi altíssimo, e espero que isso se reflita no produto final."

Entre esses talentos, está o coshowrunner Josh Allen, com quem ela tem uma longa relação. "Minha história com Josh vem de quando fizemos juntos um programa que era o primeiro trabalho dele como roteirista", recorda. "Ele tinha acabado de se formar na Julliard e estava chegando à Hollywood. Então, é uma relação de muitos anos."

"Na verdade, temos a mesma sensibilidade a respeito da história", celebra. "As coisas que eu propunha, porque para mim tinham sentido quanto ao que queríamos fazer com a série, também tinham sentido para ele, e vice-versa."

"Felizmente compartilhamos a mesma visão do que queríamos que a série fosse. Nem sempre isso acontece no trabalho com outra pessoa. Sentia que trazíamos perspectivas muito diferentes, mas, ao mesmo tempo, as visões se complementavam, digamos assim", prossegue.

Ela também afirma que a HBO deu bastante liberdade para os criadores trabalharem na nova versão. "Eles nos permitiam falar sobre coisas que são desconfortáveis e desagradáveis", diz. "E nos possibilitaram colocar diante da câmera atores que não estão tradicionalmente presentes na mídia. Eles, de fato, se propuseram a ir além conosco porque sabiam que para nós era importante. Não sei se poderíamos ter feito esta mesma série em qualquer outro lugar. Tenho muita sorte."

Apesar de ser uma série eminentemente dramática, há alguns momentos divertidos na trama. Schuur conta que isso não ocorreu por acaso. "Queríamos realmente tentar fazer isso, construir um enredo que pudesse incluir o humor de alguma maneira."

"E foi obra de um dos nossos roteiristas, o Zach Wheaton, que é meu amigo há muito tempo", conta. "Eu recebia os roteiros e dava gargalhadas -e me chocava também, me chocava muito. Eu pensava como ele conseguia fazer aquilo, me impressionava como podia canalizar aquilo."

"Foi da parceria dele com o John Benjamin Hickey que nasceram esses momentos de comédia, e de modo natural, como se não estivesse acontecendo nada", avalia. "Ele entendeu o que estávamos fazendo. Era gente realmente inteligente reunida para fazer coisas inteligentes."

Outro ponto forte da nova versão é a discussão de temas bastante relevantes na atualidade, como racismo, privilégios dos brancos e sexismo. "Isso é parte do que faz desta uma reinterpretação moderna da série", avalia Schuur. "Uma versão inspirada."

"Acredito que a 'In Treatment' original abordava mais o mundo interno dos personagens e o mundo externo não necessariamente entrava nas sessões, não além das questões pessoais e interpessoais", compara. "Havia muito sobre o que falar, tantas coisas importantes, que não queríamos perder a oportunidade de usar as vidas dessas pessoas."

"Não queríamos que esses personagens parecessem uma representação em um ato escolar", diz. "Queríamos que se sentissem com vidas plenas, uma ampla gama de experiências no coração e na mente, e que elas estavam ali. Mas, ao mesmo tempo, suas vidas foram tocadas por temas significativos que todos nós estamos enfrentando."

Para que a série ficasse o mais atual possível, alguns temas foram inseridos de última hora, enquanto as gravações já estavam ocorrendo. "Bem, foi uma correria", diz a produtora. "Uma corrida em alta velocidade, mais do que em qualquer outro programa em que eu trabalhei."

"Sabíamos que queríamos transmitir isso, que estávamos realmente registrando este tempo e espaço específicos", afirma. "Tínhamos poucos minutos para criar essas histórias e depois poucas horas para filmá-las. Filmamos cada episódio em dois dias, o que é realmente inédito."

"Não teríamos conseguido sem este elenco", elogia. "Eles se preparavam muito bem, faziam 15 páginas do roteiro por dia, em que só falavam um com o outro. Isso só foi possível graças aos atores que tivemos."

"Temos a sorte de estarmos estreando em um momento em que, mesmo passados oito meses [das gravações], as pessoas continuam falando sobre esses assuntos abordados na série", comemora. "Os temas são suficientemente importantes e amplos, e continuam atuais."

Ainda sobre as três primeiras temporadas da série, ela afirma que tentou equilibrar a reverência e as inovações. "Não queríamos nos afastar da série original", diz. "Somos muito fãs e queríamos garantir que o legado seria mantido de maneira realmente significativa."

"Pensamos em como conectar o passado com o presente", afirma. "Seria fácil ter o médico Paul Weston [Gabriel Byrne] da série original como supervisor de Brooke Taylor, como tivemos a Diane [Wiest] como supervisora nas primeiras duas temporadas."

"Pensamos que seria uma maneira muito orgânica de trazer a série original para o presente para os telespectadores que adoraram as outras temporadas. Ninguém precisa ter visto a série antes para gostar desta temporada", acrescenta.

Schuur diz também que espera que a série contribua para normalizar a terapia. "Eu adoraria que as pessoas entendessem que a terapia é para todos, que todos podem se beneficiar", afirma. "E que, se você está passando por um momento difícil, deve pedir ajuda."

"Existem muitas pessoas dispostas a ajudar e que são qualificadas para fazer isso de maneiras muito bonitas", conta. "Você não vai ficar louco, não vai ser internado em um hospital psiquiátrico. Tem alguém ali que pode te auxiliar e que quer o melhor para você."

"IN TREATMENT" - 4ª TEMPORADA

Quando Domingos e segundas, às 22h e às 22h30

Onde Na HBO

Classificação 16 anos

Elenco Uzo Aduba, Anthony Ramos, John Benjamin Hickey, Quintessa Swindell, Charlayne Woodard, Liza Colón-Zayas e Joel Kinnaman