SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro dia sem a tradicional bilheteria na estação Belém, da linha 3-vermelha do metrô, foi marcado por transtornos e queixas de usuários, além de pequenas filas para a confecção do cartão Bom, espécie de Bilhete Único aceito apenas em ônibus intermunicipais e na malha ferroviária.

O Bom era a salvação para quem tinha apenas dinheiro no bolso, já que as máquinas de recarga desse tipo de bilhete aceitam notas, diferentemente daquelas que emitem a passagem unitária para o metrô, restrita ao uso de cartões de débito.

Mesmo com esquema montado pela STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos), sob gestão João Doria (PSDB), com diversos funcionários, muitas pessoas estavam confusas sobre o funcionamento das máquinas que emitem o bilhete digital para ingresso aos vagões, com questionamentos se eram aceitas moedas e dinheiro e se os terminais de autoatendimento devolvem troco.

As estações Belém e Granja Julieta, da linha 9-esmeralda da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), foram as primeiras a terem as bilheterias fechadas. A intenção da STM é que todas as estações de Metrô e CPTM operem desta maneira em 2022.

O bilhete digital com o QR Code impresso também, algumas vezes, insiste em não ser lido e identificado pelo leitor instalado na roleta, o que faz o passageiro tentar por diversas vezes passar e não conseguir.

O comerciante Eduardo Henrique Barbosa, 19, que afirmou não ter sido a primeira vez que enfrentou dificuldade em conseguir acesso à plataforma. Diante de tanto desconforto, ele relatou que já criou um macete, que às vezes dá certo.

"Tenho um esquema de dobrar [o papel na altura do QR Code], que vai mais rápido. Muita gente está frustrada com esse bilhete digital. Muita gente tem dificuldade com essa tecnologia".

PASSAGEIROS PERDEM TEMPO E DINHEIRO

Na zona leste, uma das pessoas mais aborrecidas na manhã desta sexta-feira foi a dona de casa Silvana da Cunha Doméstico, 59 anos, que pretendia voltar para sua residência, em Mauá (Grande São Paulo), após passar por uma consulta em uma unidade médica no Belenzinho.

A mulher explicou que dificilmente deixa sua cidade em direção a capital, e, por conta disso, não sabia que a bilheteria havia sido fechada. Ela relatou que teve de esperar por 40 minutos até que um cartão Bom fosse emitido. "Cheguei, a bilheteria estava fechada. Tive que fazer o cartão. Fui dar moeda, não aceita. Tive que colocar R$ 6", afirmou.

Com o bilhete digital comprado há alguns dias, a autônoma Vera Lucia Lima Camargo, 60, não conseguiu com que o leitor identificasse a impressão do QR Code. Com isso, mesmo com a passagem, ela foi barrada.

"O QR Code não passou, está apagado. Agora as coisas estão difíceis. Está complicado. Uma vez fiquei na estação porque estava sem dinheiro. Foi um sufoco. Eu lembrei que estava com o cartão e foi minha salvação. É trabalhoso agora". Mesmo com o recibo da compra em mãos, a mulher teve que amargar o prejuízo ao adquirir nova passagem.

POSTO DE VENDA EXTERNA ABRE ÀS 10H

Diante das máquinas de autoatendimento para emissão do bilhete digital, em que é impresso o QR Code que dá acesso aos trens, não aceitarem dinheiro, moedas e nem emitirem troco, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos indica "estabelecimentos parceiros" para a compra da passagem unitária.

Apontado por um panfleto, entregue na estação Belém pelos próprios funcionários da empresa terceirizada que administra o novo sistema, como o endereço mais próximo para o serviço, a loja indicada estava fechada por volta das 9h50.

Localizada na rua Monteiro Caminhoá, o estabelecimento comercial está a cerca de 90 passos da entrada da estação, o que poderia auxiliar idosos, gestantes ou pessoas com mobilidade reduzida.

A reportagem retornou ao local às 10h15, quando a loja já estava aberta. Sem saber que conversava com um repórter, o responsável pelo estabelecimento afirmou abrir a loja às 10h.

TERMINAIS ELETRÔNICOS FUNCIONAM

Na última terça (19), a reportagem percorreu diversas estações do metrô e da CPTM com o intuito de checar o funcionamento dos terminais de autoatendimento, que serão responsáveis pela emissão das passagens com o gradual fechamento das bilheterias.

No geral, o sistema funcionava bem, com poucos equipamentos sem serviço. Na estação Jabaquara, da linha 1-azul do metrô, todos os terminais funcionavam sem qualquer tipo de falha. No entanto, o principal problema estava nas catracas, com demora na identificação do QR Code, o que ocasionava longas filas em alguns instantes, devido à grande quantidade de pessoas.

Por volta das 7h30, um rapaz demorou alguns segundos na catraca até que um funcionário fosse ao seu encontro e colocasse o papel em uma posição que a leitora permitisse a liberação. O jovem era o corretor Ruan da Silva Santos, que disse não ter sido a primeira vez que teve o acesso momentaneamente bloqueado.

"Esse novo QR Code toda vez é a mesma dificuldade. Não está ajudando em nada. Se você precisa comprar mais de um, a tinta perde fácil. Precisava comprar dois, mas só comprei um, porque pode perder a tinta".

Também na linha azul, a estação Sé tinha todas as máquinas para impressão de QR Code funcionando, exceção para uma máquina de recarga de Bilhete Único, que estava inoperante. O entorno da estação é bem servido de locais para emissão de bilhete digital e recarga de cartões, que podem ser realizadas em bancas de jornais espalhadas pela praça.

No mesmo percurso está Tietê, local em que centenas de pessoas vindas dos mais diversos estados passam diariamente. Ali, das sete máquinas disponíveis, apenas uma apresentava ausência de papel.

Diferente da linha azul, a linha verde, que liga a zona leste à zona oeste, enfrentava mais problemas naquele dia. Na Vila Madalena, das cinco máquinas em que era possível emitir o bilhete digital, uma delas estava sem operar. Entretanto, é possível emitir o papel com QR Code em uma banca a 170 passos da estação, na rua Cayowaa, 2.314. Na Vila Prudente, dos três terminais, um estava sem funcionar na terça-feira.

A reportagem também visitou as estações Camilo Haddad, Sapopemba e São Mateus, todas elas da linha 15-prata, do monotrilho. Nas três, todos os equipamentos instalados funcionavam perfeitamente.

Por fim, também foi percorrida as estações Água Branca, Pirituba e Perus da linha 7-rubi, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que também não apresentavam problemas nos autoatendimentos.

RESPOSTA

Em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos diz que a substituição das bilheterias tradicionais faz parte do plano de modernização dos meios de pagamento nos transportes iniciado em setembro de 2019. Além da opção de compra do bilhete para embarque nas máquinas de autoatendimento nas estações, existe o incentivo para que o cidadão adquira o hábito de comprar sua passagem antes mesmo de chegar na estação pelos meios digitais, WhatsApp (11 3888-2200) e Aplicativo TOP, e nos mais de 2.000 pontos comerciais parceiros distribuídos pela Região Metropolitana e capital paulista.

"Nosso objetivo é melhorar os serviços prestados aos passageiros. Qualquer reclamação, estamos à disposição em todos os canais de comunicação da STM."