SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pelo menos 3.500 pessoas foram detidas na Rússia por protestar contra a guerra na Ucrânia, segundo informações do Ministério do Interior.

De acordo com o órgão, 1.700 detenções aconteceram na capital, Moscou, 750 em São Petersburgo e mais de 1.000 em outras cidades. O ministério diz ainda que 5.200 cidadãos comparaceram aos atos.

Os números cresceram ao longo do dia no ritmo mais rápido desde o início da guerra. A OVD-info, ONG que atua na área dos direitos humanos, divulgou que os protestos se espalharam por 49 cidades da Rússia. Até a publicação desta reportagem, foram contabilizados 10.948 presos ao longo dos 11 dias de conflito.

Os protestos na Rússia vem acontecendo sob forte repressão da polícia. No sábado (5), o Ministério do Interior já havia avisado que manifestações não autorizadas pelo governo seriam reprimidas e seus organizadores, detidos.

Dito e feito. Ativistas de oposição ao presidente Vladimir Putin têm divulgado nas redes sociais vídeos de diversas detenções em atos pelo país. Em um deles, uma pessoa na cidade de Khabarovsk é filmada gritando "não à guerra" logo antes de dois policiais a deterem.

Na mesma cidade, outro vídeo mostra policiais usando um alto-falante para alertar um grupo de manifestantes: "Respeitáveis cidadãos, vocês estão participando de um evento público não autorizado. Ordenamos que vocês se dispersem".

O jornal independente Novaia Gazeta, onde trabalhar o jornalista Dmitri Muratov, ganhador do Nobel da Paz em 2021, divulgou neste domingo um vídeo que mostra cinco policiais segurando um jovem à força contra o chão, na cidade de São Petersburgo.

Também há registros de um mural com a imagem de Putin que foi vandalizado. Atos também foram vistos em outros países, como Cazaquistão (antiga república soviética), Alemanha, Inglaterra e Espanha.

O presidente da Ucrânia, que recentemente discursou para milhares de manifestantes pró-Kiev na Geórgia em um protesto contra a guerra, também declarou apoio aos atos russos.

"Para vocês, isso é uma luta não só pela paz na Ucrânia. É uma luta pelo seu país", disse na televisão, falando em russo, não ucraniano, e portanto se dirigindo diretamente ao país vizinho.

"Se vocês mantiverem silêncio agora, só a sua pobreza falará por vocês mais tarde. E a repressão vai responder", completou.

Mesmo diante de protestos, a guerra na Ucrânia parece ter aumentado ainda mais a popularidade do presidente Vladimir Putin, de acordo com institutos de pesquisa de Moscou.

De acordo com o VTsIOM, a aprovação de Putin cresceu 6 pontos percentuais desde a semana em que o conflito começou, chegando a 70%. Segundo o FOM, que faz pesquisas para o Kremlin, o crescimento foi de 7 pontos, alcançando 71%.

Ele também conta com o apoio da Igreja Ortodoxa Russa, que, por meio de uma porta-voz, afirmou que os valores russos estão sendo colocados à prova pelo Ocidente, que por sua vez oferece apenas uma ilusão de liberdade.

A agência de notícias russa RIA divulgou imagens de apoiadores do Kremlin caminhando por Moscou carregando as letras "Z" e "V", símbolos que os tanques russos usam na Ucrânia.

Enquanto isso, a Rússia vem aprovando leis que cada vez mais cerceiam a liberdade de expressão, por exemplo a que prevê até 15 anos de prisão para quem divulgar notícias "falsas" sobre as guerra —e quem determina o que é falso é o próprio governo.

A agência reguladora de comunicações do país determinou que a guerra deveria ser chamada só de "operação militar especial", não pelo seu nome ou por variantes como invasão ou agressão, o que tirou do ar a tradicional rádio Eco de Moscou e a TV Chuva.

A Rússia também limitou o acesso a uma série de sites estrangeiros (o da própria OVD, inclusive), o que causou uma reação de veículos de notícias como BBC e Bloomberg, que deixaram de operar no país.

Além disso, o Facebook e o Twitter foram bloqueados de vez no país, após dias de limitação de acesso, e outras redes sociais que mantiveram conteúdos considerados antiguerra pelo Kremlin deverão seguir a mesma rota.

"Os parafusos estão sendo totalmente apertados. Essencialmente, estamos vendo uma censura militar, afirmou Maria Kuznetsova, porta-voz da OVD, à Reuters.