SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - A Operação Calvary, da Polícia Federal, deflagrada nesta quinta-feira (18) para desarticular uma organização criminosa que atuava no tráfico internacional, descobriu que um navio atracado no porto de Santos foi utilizado para transportar cocaína. Segundo o jornal O Globo, a informação foi confessada pelo líder da quadrilha, um dos presos durante a ação, conhecido pelo apelido Don Corleone, como o famoso personagem do filme "O Poderoso Chefão".

O chefe revelou às autoridades que assumiu as dívidas da embarcação, de origem panamenha, e confirmou ser o atual proprietário dela. O navio em questão é o Srakane, encontrado em abril deste ano com 15 tripulantes vivendo em condições precárias. A situação foi descoberta durante uma operação de combate ao crime no mar e foi levada ao MPT (Ministério Público do Trabalho).

Com as investigações da Operação Calvary, foi revelado que a embarcação era utilizada para levar remessas de cocaína do Brasil para o exterior. Em entrevista ao Globo, o delegado Luccas Dathayde disse que havia uma logística de transporte até o porto e, a partir dali, uma nova movimentação para levar a droga a países europeus, como Portugal, Espanha e Bélgica.

Don Corleone, que não teve a identidade revelada, se comunicava com os outros integrantes da organização criminosa por meio de aplicativos de conversa criptografados, utilizando o apelido pelo qual é chamado. Doleiros também integravam a quadrilha, com a função de trazer dinheiro do exterior para o Brasil, assim como pagar operações logísticas. Outros envolvidos possuíam imóveis, espalhados por todo o país, em nome de pessoas jurídicas falsas. A base das operações, contudo, é no estado de São Paulo.

"Ele se comunicava com seus comparsas por meio desses aplicativos, tratavam sobre as empreitadas criminosas, sobre as remessas de droga, e o apelido dele nesse aplicativo era Don Corleone", disse o delegado.

"A droga não era fornecida por eles, mas eles se dispunham a fazer essa remessa do Brasil para o exterior por meio de embarcações. Eram eles que planejavam essa logística de transporte até o porto e, a partir do porto, até a Europa. Tudo era planejado por eles e comunicado aos proprietários do entorpecente", afirmou Dathayde.

Além do navio, os agentes da Polícia Federal apreenderam 28 imóveis e cinco carros de luxo. Durante a operação, foram emitidos 36 mandados de busca e apreensão e dez de prisões preventivas e temporárias. Até o momento, nove pessoas já foram presas, enquanto um suspeito segue foragido.

Isso foi o desfecho de uma investigação iniciada em janeiro deste ano, quando foi constatado que a quadrilha movimentou 2,7 toneladas de cocaína em outubro de 2020, usando o Porto de São Sebastião. Das 2,7 toneladas transportadas naquela ocasião, 1,5 foi apreendida no Brasil pela PF e pela Receita Federal. Já o restante foi interceptado na Espanha, destino da droga. Há suspeitas de ações em outros portos, como o de Salvador.