Presidente do Afeganistão diz que prioridade é remobilizar forças contra o Taleban
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sábado, 14 de agosto de 2021
GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - Sob suspeitas de que poderia renunciar ao cargo e com poucas declarações públicas desde que o Taleban retomou uma ofensiva no Afeganistão, o presidente Ashraf Ghani afirmou neste sábado (14) que está conversando com lideranças afegãs e parceiros internacionais e que tem como prioridade remobilizar as tropas do país, que sucumbem rapidamente ao avanço do grupo fundamentalista.
Durante breve discurso televisionado pela tarde -manhã no Brasil-, Ghani sugeriu que não participaria de eleições em um cenário no qual o Taleban concordasse em realizá-las.
"Como seu presidente, meu foco é impedir mais instabilidade, violência e deslocamento do meu povo", disse o presidente afegão. A retomada do Taleban, 20 anos após deixar o poder, reacendeu uma crise migratória na região.
Até o momento, o grupo já tomou 18 das 34 capitais provinciais do país e ameaça outras 16 enquanto avança em direção a Cabul, a capital nacional. Observadores internacionais projetam que, nesse cenário, o Taleban pode estar sob controle de todo o território em menos de um mês.
Na quarta (11), o presidente afegão viajou para um de seus redutos, a cidade de Mozar-i-Salam, ao norte, na tentativa de juntar forças pró-governo. Na quinta (12), de acordo com informações do jornal The New York Times, conversou por telefone com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e com o secretário de Defesa, Lhoyd Austin.
A atuação do mandatário tem recebido críticas, inclusive de ex-aliados, que o veem em uma postura isolada. "Ele se recusa a admitir a realidade. As notícias relatam uma coisa, mas isso chega para ele com um filtro", disse Torek Farhadi, ex-conselheiro de Ghani.
O avanço do Taleban faz também crescer o temor na comunidade internacional. O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, afirmou nesta sexta (13) que a ONU está avaliando a situação do país a cada hora e que enviou uma equipe para Cabul, além de ainda não ter evacuado seu contingente no país.
Guterres disse estar consternado com o avanço do grupo fundamentalista e com as denúncias de violações de direitos humanos que as Nações Unidas têm recebido e que, segundo relatos, seriam ameaças principalmente a mulheres e a jornalistas.
"A mensagem da comunidade internacional para aqueles em pé de guerra deve ser clara: tomar o poder por meio de força militar é uma proposta perdida", disse a repórteres. "Isso pode apenas levar a uma prolongada guerra civil ou a um completo isolamento do Afeganistão", completou.

