Presidente da Assembleia de SP negociou com condenado por desvios, mostram grampos
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Civil de São Paulo e reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que o presidente da Assembleia de São Paulo, Carlão Pignatari (PSDB), negocia a entrega da administração de dois hospitais para o médico Cleudson Garcia Montali, condenado pelo desvio de R$ 500 milhões em recursos de saúde por meio de organizações sociais ligadas a ele.
Pignatari é aliado do governador João Doria (PSDB) e integra o núcleo duro da campanha do tucano à Presidência da República.
Já Montali é apontado como líder da organização criminosa investigada pela Operação Raio-X, desencadeada em setembro de 2020 e que mirou o ex-governador Márcio França (PSB) em sua fase mais recente. O pré-candidato ao Governo de São Paulo foi alvo de busca e apreensão.
As conversas teriam ocorrido em 2019, portanto antes da operação da polícia e do deputado assumir o comando do Legislativo paulista. Em nota, ele diz que não é investigado nessa operação policial.
O esquema estendia-se a cidades paulistas e de outros estados como Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pará. Nesse estado, o próprio governador Helder Barbalho (MDB) estava entre os investigados e foi um dos alvos de operação desencadeada pela Polícia Federal em 2020.
Até agora, 48 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público e, dessas, 19 foram condenadas pela Justiça.
Tido como líder do esquema inicial, Montali, de Birigui (SP), foi condenado a 104 anos de prisão por uma série de irregularidades nos contratos com equipamentos de saúde de 27 cidades, incluindo Santas Casas. Ele também foi condenado a ressarcir os cofres públicos em R$ 947 mil.
Em nota, Pignatari afirma que as conversas são de 2019, antes das suspeitas contra Montali virem à tona e que ele não ocupava a presidência da Assembleia à época o tucano era líder do governo Doria à época. O deputado diz ainda não ser investigado na Operação Raio-X.
"Não houve qualquer ilegalidade em sua conduta e jamais teve interferência em qualquer processo de contratação", afirma a assessoria do deputado em nota.
Uma das conversas entre o médico e Pignatari ocorreu em 22 de maio de 2019. Pignatari sugere que alguma organização social ligada à Montali assuma a administração de um hospital em Santa Fé do Sul (SP).
Em junho daquele ano, em nova conversa, Pignatari se propõe a apresentar a Montali um deputado para intermediar a negociação do médico para administrar o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos. Em novas ligações naquele mês, Montali dá satisfações a Pignatari sobre ambos os negócios.
Segundo a reportagem, Pignatari e Montali também conversam, em 27 de junho, sobre o Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Carapicuíba. O presidente da Assembleia informa ao médico que "amanhã sai a publicação no Diário Oficial", e Montali agradece.
No dia 29 de junho, sai publicado o contrato para a administração do AME por organização social ligada ao médico. Dias antes, o grupo de Montali havia sido declarado vencedor da concorrência pela secretaria estadual de Saúde.
Em 2018, Montali foi ouvido na Assembleia pela CPI das Organizações Sociais da Saúde a respeito de investigações envolvendo a Santa Casa de Birigui e negou que houvesse irregularidades. Pignatari era suplente na comissão.
"O inquérito principal da operação inclusive já foi encerrado, resultando em mais de 160 novos inquéritos, sendo que o parlamentar não é investigado em nenhum deles. Não possui, portanto, qualquer relação com o caso", afirma a assessoria do tucano em nota.
A nota afirma ainda que o presidente da Assembleia "apoia a irrestrita investigação da Operação Raio-X e reitera sua correta conduta em sua trajetória parlamentar".

