Prédios e funcionários se adaptam ao aumento de entregas de comida e encomendas
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domingo, 20 de março de 2022
WESLEY FARAÓ KLIMPEL
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com a pandemia, não foram só os entregadores de comida que tiveram bastante trabalho. Na outra ponta, quem recebe os pedidos e encomendas nos prédios também viu o serviço aumentar -cresceu a demanda, mas não o salário.
Funcionários, sindicatos e construtoras concordam que já virou parte da rotina essa comodidade das compras pela internet chegarem em casa. E todos precisaram se adaptar.
Uma alternativa encontrada por grandes condomínios ou de alto padrão foi criar um cômodo para guardar as encomendas, seja comida ou caixas de compras. Fabricar uma salinha para encomendas, porém, não pode ser da noite para o dia.
"Você não pode, por exemplo, pegar um ateliê de pintura que não é usado e transformar em sala para estocar mercadoria, porque a convenção não permite ter alteração de destinação de área", explica o advogado e síndico profissional Sidney Spano.
A solução encontrada por ele foi aproveitar locais perdidos do condomínio. "Sabe aquela sala jogada no subsolo? Sempre tem um cantinho que não é usado e que não era nada e aí virou alguma coisa." Onde não tinha um cômodo desocupado, Spano aproveitou espaços vagos, levantou parede, colocou porta e fez drywall.
Prédios novos, porém, já estão sendo lançados com ambientes destinados às encomendas ou recursos mais práticos. A Luggo, braço da MRV dedicado ao aluguel de imóveis, tem adotado armários na entrada do prédio para armazenar as correspondências.
"O próprio entregador escolhe o apartamento e deposita a encomenda. O morador recebe push e, à noite, ao chegar em casa, busca", explica Rodrigo Lufty, gestor executivo de negócios e comercial da Luggo.
Num primeiro momento, os entregadores tiveram dificuldade em usar os lockers, e a empresa teve que criar uma comunicação visual com as instruções. E não são todos os profissionais e moradores que se adaptaram à funcionalidade. De acordo com Lufty, trabalhadores dos Correios preferem entregar tudo para uma pessoa só, enquanto empregados de outras empresas se acostumaram a distribuir as caixas no armário.
A Luggo também passou a adotar, durante a pandemia, uma entrada auxiliar em seus prédios, destinada ao delivery de comida. A medida surgiu após ser constatado um gargalo no início da noite, quando a fila de entregadores na portaria atrapalhava o fluxo dos moradores.
Outra tendência que a empresa monitora é o uso de drone por aplicativos de alimentação, e já se prepara para criar locais para o equipamento pousar.
Alguns administradores adotaram aplicativos para facilitar a comunicação com os residentes. A startup TownSq, responsável por apps de gestão de condomínios e que atende mais de 14 mil prédios no Brasil, além de EUA, Canadá e México, diz que houve um aumento, de 2020 para 2021, de 135% nas entregas, o que representa mais de 1 milhão apenas no Brasil.
De olho na segurança, funcionários de edifícios com dois portões na entrada para pedestres são aconselhados a orientar a pessoa com a encomenda a deixá-la na clausura, o espaço entre as duas grades.
"[Isso é] Para não ter o contato físico do empregado do prédio com o entregador, que pode ser o de verdade ou pode ser um que assaltou o entregador real ali na rua de trás e está se passando por ele", justifica Sérgio Meira de Castro Neto, diretor de condomínios do Secovi-SP (sindicato da habitação).
Mesmo com essas mudanças estruturais, os funcionários dos condomínios, tanto os menores quanto os de alto padrão, sentiram a demanda aumentar. "Ele [porteiro] tem que tomar conta das áreas comuns, da recepção, da guarita, fiscalizar as entregas, ligar para o apartamento, esperar a pessoa buscar, conferir se é um entregador ou se é um bandido", diz Paulo Ferrari, presidente do Sindifícios (Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Paulo).
Spano, o síndico profissional, conta que em alguns dos prédios sob sua responsabilidade já havia o serviço do courier. Em outros, trabalhadores eventualmente levam as encomendas para os apartamentos.
"A gente utilizou os recursos já disponíveis para não onerar o caixa do condomínio. O máximo que fez foi adquirir um telefone em algum prédio e criar um [número de] WhatsApp para avisar os moradores sobre a entrega", afirma.
Apesar desses recursos, ainda é comum haver reclamações por parte dos condôminos sobre demora ou falta de aviso da chegada da encomenda. "Às vezes não deu tempo da portaria fazer a recepção, catalogar, passar para a salinha [de estoque], o courier ligar para o morador ou passar um WhatsApp. É mais uma questão de logística do que erro, na verdade", conta o síndico.