<p>BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - Filha de um eletricista e uma enfermeira dentária que se casaram aos 21 e 17 anos, Nicola Ferguson Sturgeon também foi precoce na paixão. Pela política. Tinha 16 anos quando ingressou no Partido Nacional Escocês (SNP) e diz ter sido inspirada pela então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher --primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990, pelo Partido Conservador.

</p><p>Seu sonho não era seguir os passos da Dama de Ferro, mas combatê-los, porém. "Eu odiava tudo o que ela representava", disse mais tarde Nicola, que completa 51 anos em julho e deve se reeleger nesta quinta (6) como primeira-ministra da Escócia.

</p><p>"Muitos ao meu redor vislumbravam um futuro imediato de desemprego, e isso me deu um um forte sentimento de que era errado para a Escócia estar à mercê de um governo conservador que não havíamos eleito", contou à rádio BBC sobre sua entrada na política.

</p><p>Ao redor de Nicola estavam filhos de trabalhadores, que estudavam em escolas públicas e viviam em conjuntos habitacionais de uma vila à beira de uma mina de carvão fechada no começo dos anos 1960, segundo seu biógrafo, David Torrance. A região se transformou em subúrbio de Irvine, cidade que prosperou enquanto a garota crescia, baseada nas atividades portuárias.

</p><p>Nicola estreou nas urnas antes de chegar aos 22 anos e, aos 29, venceu a primeira eleição, obtendo um assento no recém-criado Parlamento regional, em 1999. Vivia cercada de homens de meia-idade que lhe apelidaram injustamente de "nippy sweetie" (alguém que chateia os outros por falar demais), censurando-a por "tentar imitar imitar a abordagem agressiva masculina", contou mais tarde. "É um duplo padrão. Se eu fosse homem, não receberia críticas."

</p><p>Sua ascensão no SNP foi rápida: em 2004 tornou-se vice-líder de Alex Salmond no partido e assumiu de fato a condução da sigla quando ele foi eleito para o Parlamento britânico. Em 2007, virou vice-primeira-ministra e secretária de Saúde da Escócia. Em 2011, liderou a campanha supervitoriosa que levou o SNP a uma maioria inédita no Parlamento regional.

</p><p>O jornalista escocês Peter Ross a descreve como "a menina esperta da cidade pequena, sensata e zelosa", com a qual seus conterrâneos adotaram uma relação informal, quase familiar. "Raramente ela é chamada de Sturgeon. É Nicola ou até 'pequena Nicola'."

</p><p>Seu sucesso não está em ser extrovertida. Interlocutores dizem que ela é séria e direta e transmite empatia e confiança aparentemente não ensaiadas. Tem também uma maneira autodepreciativa de falar, sorrir e franzir a testa "que esvazia qualquer acusação de arrogância ou vaidade", escreveu um analista.

</p><p>Uma de suas principais derrotas, a do plebiscito pela independência escocesa, em 2014, trouxe uma grande oportunidade, quando o então primeiro-ministro Alex Salmond deixou o cargo e a liderança do partido. Nicola assumiu o SNP e, dias depois, foi escolhida pela maioria do Parlamento regional como primeira-ministra.

</p><p>Seguiram-se duas vitórias acachapantes. Em 2015, o SNP levou 56 dos 59 assentos disponíveis para a Escócia na Câmara dos Comuns (equivalente à Câmara dos Deputados) no Parlamento do Reino Unido. No ano seguinte, a sigla ocupou o recorde de 59 das 73 cadeiras distritais no Parlamento regional, consolidando a liderança de Nicola.

</p><p>O partido também marcou sua vida pessoal. Conheceu seu marido --Peter Murrell, 56, atual diretor-executivo do SNP-- em um acampamento de jovens do partido, em 1988. Juntos desde 2003, casaram-se em 2010.

</p><p>O casal não tem filhos, mas em 2016 Nicola contou ter sofrido um aborto espontâneo em 2011. Ao jornal Sunday Times, descreveu a experiência como "dolorosa" e disse que mulheres, principalmente políticas, são injustamente julgadas por não terem filhos.

</p><p>"Algumas de nós simplesmente não querem tê-los, algumas nos preocupamos com o impacto em nossa carreira --e ainda há muito a fazer para garantir que não tenhamos que escolher entre um e outro. E às vezes simplesmente não acontece, por mais que queiramos", afirmou.

</p><p>Em 2012, apontou sapatos e livros como suas grandes paixões. "Estou sempre comprando sapatos --mas não muito caros, porque eles estão sempre destruídos pelos paralelepípedos de Edimburgo [a capital escocesa]", afirmou ao disse ao Daily Record.

</p><p>Sobre livros, disse ao jornal The Guardian gostar de ficção histórica e, na infância, ter se encantado por Nigel Tranter --historiador que estudou castelos e escreveu romances sobre reis escoceses.

</p><p>Nicola tenta ampliar sua margem para ganhar capital político e forçar a realização de um segundo plebiscito sobre a independência da Escócia --as urnas fecham às 22h e o resultado é previsto para sábado.

</p><p>Mas já foi notícia neste ano por vencer uma eleição inusitada. Em uma enquete de um aplicativo de namoro com 3 milhões de usuários, a líder nacionalista foi apontada como a figura política que a maioria dos britânicos solteiros gostaria de beijar.</p>