SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O preço das carroças usadas por catadores de material reciclável quase dobrou na pandemia. É que as barras de ferro, os pneus e a madeira usada na produção encareceram. E a demanda de pessoas em busca de trabalho informal na reciclagem também cresceu acompanhando o desemprego.

O serralheiro Frauzimar Rodrigues Torres, que trabalha em uma oficina no centro de São Paulo, afirma que cobrava cerca de R$ 700 por um veículo antes da pandemia, mas agora pede R$ 1.300.

“O meu preço de mão de obra continua o mesmo, ganho R$ 400 em média”, afirma.

Segundo ele, alguns desistem de comprar uma carroça quando ficam sabendo quanto custa. “Mas dão algum jeito de catar, com saco nas costas, lençol, puxando madeira. Não param”, diz Torres.

Beatriz Mansano, da ONG Pimp My Carroça, que auxilia catadores autônomos, afirma que as empresas que costumam ajudar no financiamento dos veículos têm questionado o valor.

"Tem moto pelo mesmo preço. Em São Paulo, os desmanches não estão tendo tanta disponibilidade de pneus e eixos de carros antigos para fazer as carroças", diz ela.

A Ancat (associação dos catadores) diz que o número de pessoas buscando materiais nas ruas cresceu, elevando a concorrência para as cooperativas organizadas.

Os novos catadores recolhem os materiais antes da coleta seletiva e derrubam a remuneração da categoria, segundo a entidade. As cooperativas, que antes trabalhavam cinco dias por semana em dois turnos, hoje operam durante dois ou três dias semanais e por menos tempo.

Desde o ano passado, o preço dos materiais recicláveis oscila. A Ancat diz que o papelão chegou a custar R$ 0,50 por quilo em 2020, subiu para R$ 1,30, mas agora caiu para R$ 0,90.

"Ouvimos muito dos catadores que o preço do material está cada vez mais barato. Para eles, essa cadeia é bastante exploratória, porque cada intermediário vai ficando com um pouco e o catador é o que fica com menos", diz Mansano.