SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Eram 9h deste sábado (26) de Carnaval quando os primeiros ambulantes estacionaram seus "pesados" na praça Olavo Bilac, na Santa Cecília, região central de São Paulo. A ideia era abastecer os foliões que chegassem a um bar com programação carnavalesca localizado na rua.

Aos poucos, pessoas fantasiadas e com o rosto pintado com glitter começaram a se juntar. O bloco improvisado tomou forma quando músicos de vários blocos apareceram para tocar marchinhas e outros hits do Carnaval. Alguns foram contratados para tocar em festas fechadas nas proximidades e levaram seus instrumentos para a praça entre uma apresentação e outra.

A praça foi escolhida porque se tornou o ponto de encontro de músicos de blocos que se reuniam para ensaiar durante a pandemia. A ideia de tocar no sábado foi passando de boca a boca e, então, o bloco foi improvisado.

Os ambulantes são os mesmos que costumam acompanhar os blocos que desfilam pelas ruas de Santa Cecília e arredores.

Um deles, que não quis se identificar, disse que o movimento foi espontâneo e uma forma de evitar o prejuízo de mais um ano sem Carnaval.

O editor de vídeo Caetano Brenga, 34, soube do bloco improvisado na praça Olavo Bilac por grupos de Whatsapp. "É hipocrisia liberar as festas fechadas e o Carnaval de rua, não. Não quero entrar em um covidário", disse.

A produtora Sofia Penha, 28, disse que fez questão de ir ao Carnaval na praça como uma forma de resistência. "Tenho medo que as festas fechadas prevaleçam no ano que vem também", disse.

Ela diz se recusar a pagar para ir à festa organizada pelo bloco que costuma frequentar. "Claro que eu poderia pagar o valor, mas me recuso. Carnaval é na rua", disse.

"Carnaval é improviso, não quero ficar preso a um lugar só porque paguei o ingresso. A graça é poder ir de um bloco ao outro", diz o analista de sistemas Guilherme Almeida, 34.

A maioria que foi prestigiar o bloco improvisado na praça apareceu a caráter. Mulheres usavam maiôs coloridos, tops de paetês e adereços na cabeça.

A Prefeitura de São Paulo chegou a anunciar o cadastramento dos blocos de Carnaval, mas recuou no começo de janeiro após o avanço da variante ômicron.

Antes do anúncio oficial, os blocos já haviam cancelado os desfiles por falta de um plano da administração municipal para garantir a segurança sanitária dos foliões.

Por outro lado, o avanço da vacinação e o advento do passaporte da vacina permitiram a organização de festas fechadas, que chegam a cobrar R$ 700 o ingresso.

Organizadores de blocos criticam o que chamam de "cancelamento seletivo", que, na prática, define quem tem e quem não tem direito à folia.