SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A praça da República, no centro, e a avenida Cruzeiro do Sul, na zona norte, se destacam entre as vias da capital paulista como pontos críticos de furtos e roubos de celulares. Os bandidos somam estratégias que misturam oportunismo e intimidação, o que leva as vítimas a andarem até em grupos para se proteger.

A dinâmica usada por ladrões para levar celulares na avenida Cruzeiro do Sul se diferencia da praticada no outro extremo da cidade, no Capão Redondo, bairro periférico em que bandidos ameaçam as vítimas com armas, geralmente se aproximando em motos.

A reportagem permaneceu a tarde toda de quarta-feira (16) ao lado dos acessos à estação Santana, da linha 1-azul do Metrô. A via é uma das campeãs de registros de roubo de celular na capital em 2021, com 506 casos, ficando atrás somente da República, com 539.

Ambas as regiões também estão entre as localidades com maior índice de furtos de celular, sendo 1.060 na avenida Cruzeiro do Sul e 471 na República.

Olheiros, muitas vezes crianças e adolescentes, circulam pela estação de Santana para verificar o movimento de passageiros, principalmente em horários de pico, como no início da manhã ou final da tarde.

Quando há concentração de pessoas, eles saem para avisar comparsas, que passam a circular de bicicleta pelo local, esperando algum alvo.

Os celulares são levados quando o passageiro se distrai, com o aparelho em mãos, em uma prática de furto chamada de "bote" -- na qual o item é arrancado da mão da vítima, com a bicicleta em movimento.

Durante a permanência da reportagem no local, não houve nenhum crime do tipo. A prática, porém, foi comentada por comerciantes e frequentadores da região.

A recepcionista de laboratório Isis Lichtenstein, 20 anos, já foi uma vez alvo de criminosos e também presenciou uma tentativa de roubo em Santana.

Em um dos casos, em 2018, ela viu um aparelho ser arrancado da mão de outra pessoa, por um jovem de bicicleta. A vítima gritou e testemunhas conseguiram retirar o aparelho do suspeito, que fugiu.

Já em novembro do ano passado, disse ainda, um casal tentou abrir sua mochila, enquanto ela caminhava perto da estação de metrô da zona norte. Ela só não perdeu o celular, guardado no compartimento manuseado pelos suspeitos, pois percebeu a ação. A dupla fugiu a pé em seguida.

"Ficam esses meninos andando de bicicleta observando as pessoas na estação. Agora evito usar meu celular na rua. Sinto que não há segurança na cidade, só nas regiões nobres", acrescentou.

Diferentemente do Capão Redondo, onde somente duas viaturas da PM foram vistas fazendo ronda na quarta, nas proximidades da estação Santana policiais são vistos com frequência.

Apesar disso, de acordo com um ambulante, os criminosos não ficam inibidos. Eles costumam fugir na contramão, para dificultar qualquer eventual perseguição.

Da mesma forma que na zona norte, a região da República, no centro, concentra muitos roubos e furtos de celular, feitos geralmente por suspeitos em bicicletas.

Pedindo para não ter o nome publicado, um funcionário de supermercado, de 60 anos, afirmou que, pelo receio de ser roubado, não caminha mais sozinho na região. Ele acrescentou manusear seu celular somente em ambientes fechados, longe dos riscos permanentes de assalto, segundo ele.

A tática usada por ele e seus colegas, para evitar eventuais roubos e furtos, é andar em grupo. Eles esperam o horário de ir embora e vão todos juntos, em bando, para inibir os bandidos, afirmou.

O analista criminal Guaracy Mingardi mora na região da República e afirmou que "faz anos" que criminosos usam bicicletas para levar objetos de vítimas, incluindo celulares.

"Este é um tipo de crime difícil de impedir. Se a polícia pegar [algum suspeito], a pessoa passará um tempinho presa e logo sairá. São muitos suspeitos, muita gente fazendo isso. Se a polícia pega um, amanhã já têm dez no lugar", afirmou.

Para o especialista, que também é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a polícia deveria focar seus esforços em investigar os receptadores dos aparelhos. Os roubos e furtos de celular ocorrem, salientou, justamente pelo fato de os criminosos terem para quem vender os equipamentos.

"A Polícia Civil precisa se dedicar a ir atrás do receptador, que é mais profissional, pois ele conta com as redes de contato, de compra, tem para onde vender. É preciso cortar esse elo. Identificando e prendendo receptadores, os roubos e furtos tendem a diminuir", ponderou.

Mingardi acrescentou que a GCM (Guarda Civil Metropolitana), da Prefeitura de São Paulo, poderia auxiliar nos patrulhamentos de rua, principalmente com agentes a pé. "Quando um criminoso avista um policial por perto, a tendência é ficar inibido e não agir naquela região. Acredito que, no centro, a GCM poderia fazer patrulhamento a pé com maior constância."

Na quinta-feira (17), o 7º Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), da Polícia Militar, cumpriu mandados de busca e apreensão, na região central, para combater a chamada "Gangue da Bicicleta."

A corporação afirmou que a ação foi feita para combater roubos e furtos de celular no centro. Duas pessoas foram presas.

Seguranças Pública e Urbana

A Secretaria de Estado da Segurança Pública afirma que, desde o início do ano, foram presos 45 suspeitos de roubar celulares no centro.

A pasta acrescentou que, em toda a capital, a Polícia Civil realiza operações para identificar comércios que compram aparelhos oriundos de roubo ou furtos, assim como quadrilhas especializadas em desbloquear os equipamentos.

No ano passado, as ações policiais resultaram em 530 prisões e na recuperação de 16 mil celulares na cidade, afirmou a secretaria.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana, da gestão Ricardo Nunes (MDB), afirmou que a GCM realiza policiamento preventivo com viaturas, motocicletas e com efetivo a pé "diuturnamente" em toda a capital.

Dentre os objetivos da guarda, acrescentou a pasta, está a diminuição dos "crimes de oportunidade e vandalismo."

As forças de segurança reforçam a importância do registro da ocorrência não só para a investigação e prisão dos criminosos, mas, principalmente, para a orientação do policiamento nas áreas com maior incidência de casos. A comunicação pode ser feita em qualquer delegacia territorial ou pela internet, por meio da delegacia eletrônica (www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br).