GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - A população da Guatemala voltou às ruas nesta quinta-feira (29) para pedir a renúncia do presidente Alejandro Giammattei e, pela primeira vez, da procuradora-geral Consuelo Porras. Ao menos 20 trechos de estradas em vários pontos do país foram bloqueados durante os protestos, que tiveram como bandeira principal o combate à corrupção.

Foram registrados atos em 10 dos 22 departamentos -forma de divisão administrativa do país-, de acordo com informações do jornal local Prensa Libre. Muitos foram liderados por indígenas, que hoje compõem 41% da população guatemalteca.

A nova onda de manifestações intensifica o histórico de deslegitimação popular do governo de Giammattei. Nos últimos meses de 2020, a gestão do presidente, um líder de direita, foi alvo de protestos massivos, durante os quais manifestantes chegaram a incendiar o Congresso.

Desencadeados pela aprovação de um plano orçamentário bilionário -o maior da história do pais- que privilegiava o apoio a empresas e construtoras, em detrimento de áreas como saúde e educação, os atos fizeram com que o plano foi posteriormente engavetado. O descontentamento popular, porém, não arrefeceu.

Já naqueles protestos, a população do país centro-americano apresentava queixas em relação à Corte Suprema de Justiça, que havia engavetado processos de corrupção contra membros da alta cúpula do governo. O tema se manteve e guiou os atos desta quinta.

A gota d'água foi a demissão, no último dia 23, do procurador Juan Francisco Sandoval, considerado figura-chave no combate à corrupção no país. A exoneração foi assinada pela procuradora-geral Consuelo Porras, cujo nome entrou na pauta dos protestos. Sandoval, que chefiava a Procuradoria Especial Contra a Impunidade, decidiu então se exilar do país, por temer represálias após acusar a procuradora-geral de dificultar investigações envolvendo funcionários do governo e o presidente Giammattei.

"Estamos pedindo a renúncia de Giammattei por todas as arbitrariedades que ele cometeu e a da senhora Porras por essa ação pouco transparente de demitir o promotor Sandoval", disse um manifestante à agência de notícias France-Presse no departamento de Totonicapán.

O caso levou os Estados Unidos a paralisarem a cooperação que vinham construindo com o Ministério Público guatemalteco, parceria intensifica no governo de Joe Biden, que tem entre suas bandeiras o combate à corrupção da América Central. Em nota, a porta-voz adjunta do Departamento de Estado americano, Jalina Porter, afirmou que, com a demissão do procurador, o país "perdeu a confiança nos esforços da procuradora-geral de cooperar com o governo dos EUA e lutar contra a corrupção".

Em comunicado dirigido à população, o presidente Giammattei disse estar preocupado com a retirada do apoio americano. "Considero necessário que não se encerre a comunicação com o Ministério Público e que tenhamos a possibilidade de discutir as razões para essa medida", escreveu o chefe de Estado.

Às reivindicações contra a corrupção política, se somam acusações de má condução de Giammattei no combate à pandemia. O país, de cerca de 16,6 milhões de habitantes, soma 358.798 casos de Covid-19 e 10.224 mortes pela doença.

Os casos, que apresentaram ligeira queda no início do ano, voltaram a crescer desde a última quinzena de maio e bater recordes. Nos últimos sete dias, o país apresentou média de 140 novos casos diários a cada milhão de habitantes.

A vacinação, por outro lado, é lenta. Apenas 1,76% do público-alvo de guatemaltecos recebeu as duas doses da vacina contra a Covid, enquanto 7% recebeu a primeira, de acordo com dados compilados pelo Our World in Data.