SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Policiais Militares da Bahia dispararam contra um homem rendido, que não esboçou reação, durante uma abordagem em Salvador na tarde desta quinta-feira (21) --o homem morreu em decorrência dos tiros.

A cena ocorreu na comunidade do Calafate, próxima à avenida San Martin, e foi registrada por câmeras de celular de moradores da região

Nem a polícia e nem o governo baiano informaram se os policiais que aparecem nas imagens foram afastados. As Corregedorias da Polícia Militar da Bahia e da SSP (Secretaria da Segurança Pública) instauraram procedimentos para apurar a conduta dos agentes, segundo nota da pasta comandada por Ricardo Mariano, que pediu rigor e celeridade na apuração do caso.

As imagens que circulam nas redes sociais contrastam com a versão apresentada pelos envolvidos no boletim de ocorrência, de que o homem abordado teria feito um movimento de sacar uma arma, "quando houve disparos de defesa contra o agressor, que caiu ao solo atirando".

Dois vídeos mostram um homem de camisa preta, em pé, de costas, cercado por policiais, próximo a um veículo branco, quando recebe um tiro na altura da nuca. Na sequência, é possível ouvir os sons de diversos disparos com a vítima já estendida no chão.

Na primeira imagem, de qualidade inferior, devido à distância, ouve-se o autor do registro descrever a ação policial. "Agora, a polícia metendo bala nos cara. Ó paí, ó. Mandando todo mundo embora. Ó pá ali. Aqui no Calafate. Derrubou um. E tão ali perto do carro, ali, ó".

A voz masculina prossegue, ao dizer que "o bicho tá pegando", para quem ouvir não ir para a comunidade. "Ó lá o cara no chão. Polícia metendo bala. Rondesp. E tem um lá do outro lado, derrubado", prosseguiu.

No segundo vídeo, também registrado do alto de um imóvel mais próximo da abordagem, com som de latidos ao fundo, o autor da filmagem resume: "matou", ao ver a cena do homem receber o primeiro tiro, seguido dos demais disparos.

O Ministério Público estadual instaurou um procedimento de ofício (quando o órgão não é provocado por terceiros) para acompanhar o Inquérito Policial Militar.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que, conforme informações da ocorrência registrada, policiais se preparavam para iniciar diligências na localidade do Calafate, em San Martin, por volta das 17h50 de quinta-feira, após informação de que havia indivíduos armados na região.

"Nesse momento um veículo modelo Classic, de cor branca, surgiu em alta velocidade na direção das guarnições e desobedeceu a ordem de parada, passando a efetuar disparos contra os PMs, inclusive atingindo uma das viaturas. Houve revide e o condutor acabou colidindo o veículo em um poste de iluminação pública", informa o comunicado.

De acordo com a nota, os ocupantes do veículo fugiam de um acompanhamento realizado por policiais militares da Operação Apolo, sob suspeita de roubo de carro. Após a colisão no poste, um dos suspeitos tentou fugir, mas acabou caindo, diz o texto da PM.

O segundo homem teria tentado escapar pela janela do carro, momento em que foi abordado pelos militares, quando um grupo armado que se encontrava em um morro próximo passou a disparar contra os policiais, que teriam dispersado e revidado o ataque, continua o comunicado.

"O indivíduo que estava sendo abordado realizou movimento de saque de arma de fogo da cintura, quando houve reação policial com disparos de defesa contra o agressor, que caiu ao solo atirando, conforme registro da ocorrência na Corregedoria da Polícia Militar", segundo a nota.

Ainda de acordo com o texto, ambos suspeitos foram levados para o Hospital Geral Ernesto Simões, que fica no bairro Pau Miúdo, diz o texto. Com eles, foram encontrados dois revólveres calibre 38, além de dois aparelhos celulares, segundo a polícia.

Também por meio de nota, o secretário Ricardo Mariano afirmou que a orientação da pasta é de "respeito à pessoa humana". "É nossa obrigação esclarecer, para a sociedade, com total imparcialidade, o que aconteceu nessa abordagem, que terminou com uma pessoa morta. Sem prejulgamento, mas esse tipo de coisa não pode acontecer", disse.