SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O comitê formado por órgãos públicos e pela concessionária Acciona, responsável pela construção da linha 6-laranja do metrô de São Paulo, afirmou nesta quarta-feira (2) que são estudadas providências para liberar, até a próxima sexta (4), a pista central da marginal Tietê, em direção à rodovia Ayrton Senna, na altura da ponte do Piqueri.

Caso não seja possível, a previsão é de que a liberação deverá ocorrer até o dia 11.

Nesta terça (1ª), uma cratera se abriu ao lado de um poço da obra do metrô, após o rompimento da tubulação de esgoto, quando o tatuzão, equipamento responsável pela escavação dos túneis do metrô, passava cerca de três metros abaixo.

O esgoto inundou o poço de ventilação da obra e fez ceder parte do asfalto da pista local da marginal, entre as pontes do Piqueri e da Freguesia do Ó. A causa do rompimento está sendo investigada.

Segundo o secretário de Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, a construtora Acciona apresentou duas soluções para a liberação da pista central da marginal, que está interditada desde o incidente.

O primeiro cenário exigiria a colocação de estacas de contenção para evitar desmoronamento, o que levaria à liberação somente no dia 11 deste mês.

Porém, existe uma alternativa, que será verificada ainda nesta quarta. Caso o preenchimento da vala seja suficiente, a liberação poderá ocorrer até a próxima sexta. "Talvez não precise do estaqueamento e, em 2 ou 3 dias, estaríamos liberando", afirmou Galli.

As decisões foram tomadas após uma reunião nesta quarta entre representantes do governo estadual, da prefeitura e da Acciona. O anúncio foi feito pelo governador João Doria (PSDB), no início da tarde, durante entrevista no Palácio dos Bandeirantes.

Diretor da Acciona, Lucio Matteucci detalhou o que se pretende fazer para devolver parte da marginal Tietê ao tráfego.

Segundo o representante da concessionária, a primeira medida foi dar estabilidade ao poço na esquina da avenida Santa Marina com a marginal Tietê. Para isso, estão sendo executadas três ações no momento.

A primeira é o preenchimento do poço com rocha, para impedir que perdesse mais solo. "Ontem [terça-feira] mesmo, mobilizamos nossos equipamentos. Colocamos mais de 50 caminhões para colocar pedras, mais de 30 betoneiras e 6 bombas para fazer o preenchimento. Isso se iniciou na tarde de ontem e segue 24 horas [por dia]", disse. "Até a manhã desta quarta, temos mais de 3.500 metros cúbicos de rocha lançada no poço."

Outra medida é a interrupção do fluxo de esgoto do interceptor. A Sabesp está desviando o esgoto de 2,2 milhões de moradores para outro interceptor nas proximidades, que passou a servir justamente para situações como essa após a inauguração, em 2020, do que rompeu próximo da obra da linha 6. Segundo o presidente da Sabesp, Benedito Braga, isso evita que o rio Tietê seja afetado.

A terceira ação é o completo preenchimento da cavidade que se formou no local. Por último, se necessário, será feito o estaqueamento nas bordas da cratera, para evitar novos desmoronamentos. "Se avançar bem, com o preenchimento da cratera, pode ser que a gente não necessite fazer o estaqueamento. A gente vai conseguir garantir a estabilidade dessa linha subterrânea e ter um avanço maior na recuperação da condição original", explicou.

Além da construtora, acompanham a movimentação do terreno órgãos do governo estadual e da prefeitura.

Matteucci ressaltou que as causas do incidente seguem em estudo. O governo estadual anunciou que o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) deverá participar das investigações sobre o que motivou o rompimento e a abertura da cratera.

O diretor da Acciona confirmou que a tuneladora (como também é chamado o tatuzão, o equipamento responsável pela escavação do túnel) estava a 1,80 metro, 2 metros da chegada do túnel ao poço da esquina com a avenida Santa Marina, e aproximadamente 3 metros abaixo do interceptor de esgoto.

Segundo Matteucci, foi feita uma proteção prévia no local onde se projetava o cruzamento do tatuzão com a tubulação de esgoto. Com essa afirmação, o representante da Acciona pretende explicar que medidas foram tomadas para evitar problemas nesse ponto, onde houve o rompimento. "Havia um tratamento, com duas linhas de enfilagem, que protegiam a chegada dessa tuneladora [tatuzão] para qualquer problema, qualquer carreamento de material que ocorresse ali", disse.

Especialistas afirmaram nesta terça que a análise de risco durante o projeto ou a execução da obra deveria levar em consideração trechos como esse, onde o tatuzão passa nas proximidades da tubulação.

O diretor da Acciona ressaltou que não houve ruptura de nenhuma estrutura da obra. "Os túneis estão intactos, bem como o poço", disse.

Segundo Matteucci, um túnel de estacionamento dos trens já estava concluído, o que gerou um vaso comunicante com o outro poço, na margem oposta do rio Tietê. "Todo esse esgoto que caiu ali foi carregado para lá", disse.

O representante da construtora disse que, às 8h, foi feita uma leitura e o terreno seguia estável. Cerca de 15 minutos depois, começou a ocorrer o problema. "Em pouco mais de cinco minutos, o esgoto já estava adentrando o poço", afirmou. Segundo Matteucci, havia 120 pessoas trabalhando no local. "Conseguimos tirar todos sem nenhum incidente, sem nada mais grave."

A avaliação de Matteucci é que o plano de contingência, com isolamento das áreas próximas e acionamento de concessionárias de serviços públicos, entre outras, funcionou como previsto.

Durante a apresentação, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou que a interrupção da circulação em duas pistas da marginal gera um grande transtorno para a cidade. Citou, também, que cinco linhas de ônibus, que transportam 40 mil pessoas por dia, foram desviadas. Ressaltou ainda que a interrupção da pista local, principalmente, afeta a mobilidade de motociclistas.

Segundo Nunes, a CET identificou a possibilidade de fazer um desvio, que amenizaria o problema na marginal. "Atenderia principalmente a questão das cinco linhas de ônibus e também os motociclistas", afirmou. "É uma pista que, inclusive, teríamos que fazer a solicitação administrativa de alguns imóveis para poder abrir essa rua em paralelo à pista local. Já está publicada a minha autorização no Diário Oficial de hoje [quarta] para que a Procuradoria tome as providências", explicou.

Nunes também afirmou que a defesa civil não identificou a necessidade de interdição dos imóveis que estão no entorno do poço. "É importante que as pessoas tenham essa tranquilidade", disse.

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INTERVENÇÕES

A cratera aberta nesta terça aumentou de tamanho durante o dia. Após a abertura da pista central da marginal para veículos, o asfalto cedeu mais, atingindo três faixas da pista local, em direção à rodovia Ayrton Senna.

A pista local da marginal está com o trânsito desviado para o corredor das avenidas Ermano Marchetti e Marquês de São Vicente, na altura da Ponte do Piqueri, e retornam para a marginal pela praça Pedro Corazza, na altura da ponte da Freguesia do Ó.

Já os veículos que trafegam pela pista central estão sendo desviados para a expressa na altura do canteiro de obras, somente, retornando para a pista central a seguir.

Os veículos que chegam à capital vindos das rodovias Presidente Dutra, Fernão Dias, Bandeirantes, Anhanguera e Castello Branco estão sendo direcionados para o Rodoanel e o minianel viário, formado pelas avenidas Salim Farah Maluf, Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello, Juntas Provisórias, Presidente Tancredo Neves e dos Bandeirantes.

Em razão da interdição, a CET suspendeu o rodízio de veículos e de caminhões, bem como Zonas Máximas de Restrição de Caminhões e Fretados, até sexta.