NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) - Morreu na manhã do último domingo (20), em Tel Aviv, Israel, a geneticista Chana Malogolowkin-Cohen, 97, em decorrência de um acidente vascular cerebral.

Filha de imigrantes judeus russos e nascida em Minas Gerais, em 1924, a pesquisadora deixou importante legado para a genética brasileira e mundial.

Suas pesquisas abriram caminho para experiências que contaminam o mosquito Aedes aegypti com uma bactéria que o impede de transmitir os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.

A cientista foi uma das pioneiras em genética de drosófilas (moscas da fruta) no Brasil. As moscas são utilizadas como animais modelo nas pesquisas em genética.

Nas décadas de 1940 e 1950, ela atuou nas universidades de São Paulo (USP) e na federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Continuou sua carreira nos Estados Unidos e em Israel.

Foi a primeira brasileira a publicar artigo na prestigiada revista científica Science, em 1957. No estudo, de repercussão mundial, ela descreveu um fator que reduzia a proporção de nascimento de machos, em relação às fêmeas, nas proles das drosófilas. Descobriu que essa alteração poderia ser transmitida para outras moscas.

Anos depois, desvendou-se que esse fator era, na realidade, uma bactéria que infectava as moscas, explicou o biólogo e historiador Miguel Oliveira, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

A descoberta abriu um novo campo de pesquisas, afirmou o biólogo. Bactérias semelhantes, do gênero wolbachia, estão sendo atualmente injetadas em fêmeas do mosquito Aedes aegypti. Elas se espalham entre os mosquitos e bloqueiam a multiplicação dos vírus da dengue, zika, e outros, nos corpos dos insetos, contribuindo para a redução da transmissão dessas doenças.

As experiências são realizadas em 11 países por meio do consórcio World Mosquito Program. No Brasil, a Fiocruz conduz o projeto em quatro estados.

Selma Ciornai, sobrinha da geneticista, contou que quando era criança sua tia a levava para ver as drosófilas nos microscópios do laboratório no centro do Rio (atual UFRJ). "Ela tinha umas botas compridas, de couro, que usava para acampar e buscar moscas e nos pedia para coletar moscas em casa, atraindo-as com bananas", lembra Selma.

Malogolowkin-Cohen foi também a primeira mulher a obter doutorado em história natural no país, em 1951. Em 1958, foi trabalhar na Universidade de Columbia (EUA), a convite do renomado biólogo Theodosius Dobzhansky, a quem depois substituiu após ele se aposentar.

Casou-se em 1964 e mudou-se para Israel, onde continuou suas pesquisas e ajudou a criar o departamento de genética e o instituto de evolução na Universidade de Haifa.

Embora tenha contribuições muito relevantes para a ciência nacional e internacional, seu legado é pouco conhecido no Brasil. Chana Malogolowkin-Cohen deixa filha e netos.