BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Embora Jair Bolsonaro (PL) dirija suas críticas a Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, as decisões nos inquéritos relatados pelo ministro que miram o presidente e seus apoiadores, entre elas o bloqueio do Telegram, foram solicitadas pela Polícia Federal.

Na segunda (21), Bolsonaro voltou a criticar Moraes e disse que o ministro promove uma "perseguição implacável" contra ele. "Sabemos da posição do Alexandre de Moraes. É uma perseguição implacável para cima de mim."

No dia 18, logo após a determinação de bloqueio do aplicativo, o ministro da Justiça, Anderson Torres, também atacou a decisão, sem citar que o pedido havia partido do órgão que está atrelado à sua pasta. "Milhões de brasileiros sendo prejudicados repentinamente por uma decisão monocrática", disse.

No domingo (20), o senador Marcos Rogério (PL-RO) divulgou um vídeo em que afirmou ter procurado o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e classificou como "muito grave" a informação de que não teria havido pedido da PF para o bloqueio da plataforma.

Uma análise dos inquéritos relatados pelo ministro, entretanto, mostra que as decisões que resultaram em críticas do presidente e de seus aliados foram tomadas após pedidos feitos pela Polícia Federal, órgão sob a aba do Ministério da Justiça e no qual o governo já efetuou quatro trocas de comando.

Além do bloqueio do Telegram, a PF já solicitou, por exemplo, a desmonetização de canais bolsonaristas, nesse caso pedido feito ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral); a prisão, extradição e inclusão do influenciador Allan dos Santos na lista vermelha da Interpol; e a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson.

Em casos diretamente relacionados ao presidente, Moraes também autorizou, a pedido da PF, a inclusão de Bolsonaro no inquérito das milícias digitais, apuração que deu origem ao bloqueio do Telegram, pela sua atuação nos casos da live com ataque às urnas eletrônicas de 29 de julho de 2021 e no vazamento da investigação sobre o ataque hacker do Tribunal Superior Eleitoral.

No caso do vazamento, Moraes, a pedido da PF, autorizou que Bolsonaro fosse ouvido -ele não compareceu e criticou a decisão.

A PF também pediu e o ministro concordou com a detenção de Jason Miller, ex-assessor de Donald Trump e próximo a família Bolsonaro, no aeroporto de Brasília para que fosse ouvido pela delegada Denisse Ribeiro em 7 de setembro de 2021.

A delegada, em licença maternidade desde 14 de janeiro e atualmente substituída pelo investigador Fabio Shor, foi escolhida por Moraes para conduzir o caso porque já atuava no inquérito das fake news, que apura fatos parecidos com o tratado no inquérito das milícias digitais --antiga investigação dos atos antidemocráticos.

Em julho de 2020, após desentendimento com a cúpula da PF, a investigadora chegou a deixar o caso, mas retornou e conduz a apuração desde então.

Na época, ela havia feito outro pedido que causou tensão entre o governo e a PF. Ela solicitou busca dentro do Palácio do Planalto, na Secom (Secretária Especial de Comunicação da Presidência), à época comandada por Fabio Wajngarten.

O pedido não chegou a ser apreciado por Moraes porque a PF desistiu após a Procuradoria-Geral da República, no entendimento da investigadora, demorar para analisar a solicitação e diligência.

A solicitação para o bloqueio do Telegram foi um dos últimos atos da delegada Denisse Ribeiro antes da licença maternidade.

Além dos pedidos feitos a Moraes, a delegada também efetuou diligências dentro das investigações que foram criticadas por apoiadores e aliados do presidente.

Na apuração sobre a live em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas, a investigadora ouviu o próprio ministro da Justiça, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretária de Governo) e o diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem.

No caso do vazamento do inquérito sobre o ataque hacker aos sistemas do TSE foi a vez do ajudante de ordens de Bolsonaro, o militar Mauro Cid, entrar na mira e ser ouvido.

A PF ainda quebrou o sigilo de Cid e utilizou informações para indicar a possível atuação dele na live em que o presidente atrelou a vacinação ao desenvolvimento de Aids. A fala também é alvo de inquérito da PF, mas conduzido por outro investigador.