BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O general do Exército e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi interrogado pela Polícia Federal nesta quinta-feira (29) em dois inquéritos relacionados à compra da vacina indiana Covaxin.

No primeiro, o militar respondeu a questionamentos sobre as suspeitas de irregularidade no processo de compra do imunizante.

O outro abordou a denúncia de prevaricação atribuída pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão Luis Ricardo Miranda, servidor da Saúde, ao presidente Jair Bolsonaro.

Pazuello chegou à sede da PF em Brasília por volta das 9h45 e deixou as dependências do órgão às 14h. Entrou e saiu pela garagem sem falar com a imprensa. Ele estava acompanhado de representante da AGU (Advocacia-Geral da União).

Quando a vacina foi negociada com o laboratório Bharat Biotech, ele era o titular da Saúde. Após as suspeitas de irregularidades, que envolvem o alto escalão da pasta na gestão Pazuello, o Ministério da Saúde anunciou a suspensão do contrato.

A compra foi intermediada pela Precisa Medicamentos. Há indícios de favorecimento a ela nas tratativas com o governo. Além da PF, o Ministério Público Federal e a CPI da Covid no Senado investigam o caso.

A Precisa tem como sócio o empresário Francisco Maximiano, apontado como pessoa próxima ao líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Maximiano é dono também da Global Gestão em Saúde, empresa que já teve contratos com o Ministério da Saúde.

A Global é alvo de ação de improbidade administrativa apresentada pela Procuradoria da República no Distrito Federal à Justiça sob a acusação de vender medicamentos de alto custo, mas não entregá-los. Foi apontado um prejuízo de R$ 20 milhões aos cofres públicos.

As irregularidades ocorreram no período em que a pasta era comandada por Barros, entre 2016 e 2018, no governo Michel Temer (MDB). O deputado é alvo também da ação de improbidade do MPF e da CPI.

O jornal Folha de S.Paulo revelou em 18 de junho o teor do depoimento do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda à Procuradoria da República no DF. Ele relatou pressão atípica recebida de superiores hierárquicos para a concretização do negócio.

A suspeita é que a aquisição da vacina, concretizada em fevereiro, foi feita em tempo recorde, em um momento em que o imunizante ainda não tinha tido todos os dados divulgados, e por prever o maior valor por dose, em torno de R$ 80 (ou US$ 15) a dose.

Meses antes, o ministério já tinha negado propostas de vacinas mais baratas do que a Covaxin e já aprovadas em outros países, como a Pfizer, que custava US$ 10 a dose.

A crise chegou ao Palácio do Planalto após o deputado Luis Miranda dizer que o presidente fora alertado por eles em março sobre irregularidades.

Bolsonaro teria respondido, segundo o parlamentar, que iria acionar a PF. A CPI, no entanto, averiguou e constatou que não houve solicitações nesse sentido para a polícia.

No depoimento prestado à PF neste mês, Luis Ricardo Miranda afirmou que não tem cópia de segurança das mensagens de WhatsApp cujo teor, sustenta ele, mostra pressão recebida por dirigentes da pasta pela compra da vacina indiana. Ricardo disse que trocou o celular e não providenciou backup.

Ele reforçou na polícia o relato feito no mês passado à CPI, segundo o qual durante o processo de compra recebeu diversas mensagens e ligações de seus superiores.

O servidor público também forneceu aos investigadores detalhes sobre a conversa de março com Bolsonaro. Ele disse que o chefe do Executivo fez anotações, inclusive nomes.