SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dificuldades nos avanços nas negociações para um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia começam a soterrar o otimismo que, nos últimos dias, vinha contribuindo para a queda do petróleo no mercado internacional.

Nesta quinta-feira (17), a cotação da matéria-prima voltou a disparar após cinco quedas em seis dias. O barril do petróleo Brent saltou 8,88%, a US$ 106,72 (R$ 541,68). Investidores começam a enxergar um horizonte de retomada econômica pós-pandemia no qual a redução prolongada da oferta de derivados de petróleo da Rússia poderá resultar em escassez.

A guerra na Ucrânia entrou na quarta semana e, apesar de anúncios de progressos nas negociações, bombardeios russos continuaram castigando áreas civis das maiores cidades do país.

"Isso mostra que não estamos no fim desse conflito, que a situação dos preços das commodities não vai melhorar, o que dificulta o sentimento", disse Esty Dwek, diretor de investimentos do FlowBank, ao The Wall Street Journal.

No Brasil, a Bolsa de Valores subiu 1,77%, a 113.076 pontos. O dólar caiu 1,08%, a R$ 5,0370. O movimento do mercado doméstico teve expressivo suporte do setor de commodities.

A petrolífera privada PetroRio disparou 8,16%. A estatal Petrobras, porém, não se beneficiou da alta do petróleo nesta sessão. A companhia recuou 2,66%. O mega-aumento dos combustíveis voltou a colocar o presidente Jair Bolsonaro (PL) em rota de colisão com a diretoria da empresa.

Apesar da pressão exercida publicamente pelo presidente, a cúpula da Petrobras tem dito internamente que não há prazo para baixar o preço dos combustíveis.

Compensando o peso negativo que a Petrobras exerceu sobre a Bolsa nesta quinta, a Vale subiu 3,48%. A mineradora, assim como outras produtoras de commodities metálicas, foi impulsionada pela alta dos preços do minério de ferro.

Investidores estrangeiros costumam buscar lucros no setor de commodities brasileiro, o mais importante do Ibovespa, quando percebem que há tendência de valorização global dos materiais básicos. Esse movimento de entrada de dólares na Bolsa também resulta em alívio na taxa de câmbio.

A renda fixa também é atrativa. Um dia após o Banco Central ter anunciado uma alta de 1 ponto percentual da taxa Selic, agora em 11,75% ao ano, o Brasil continua a oferecer a investidores uma relação muito vantajosa entre juros e a expectativa de inflação anual, estimada em 6,45%.

Isso significa que, para investidores internacionais, vale a pena até mesmo tomar crédito barato no exterior para lucrar com os juros brasileiros. Esse mecanismo é chamado de carry trade.

"O tom mais duro do Banco Central, indicando que o aperto monetário [alta dos juros] vai continuar, associado à alta das commodities, contribuiu para mais um dia de valorização do real", disse a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.

As ações do Itaú e do Bradesco subiram 2,19% e 0,38%, respectivamente. Devido à importância que esses bancos possuem no Ibovespa, eles deram as maiores contribuições para a alta da Bolsa nesta quinta, depois da Vale.

Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 1,23%, 1,23% e 1,33%. Na véspera, o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) anunciou a primeira elevação da sua taxa de juros desde 2018. O aumento de 0,25 ponto percentual era esperado por analistas. Também houve a indicação de mais seis altas até o fim do ano.

Apesar de confirmar o fim de uma era de política expansionista, o comunicado do Fed deu certa previsibilidade sobre os próximos passos da autoridade monetária na sua estratégia para tentar frear a maior inflação no país em 40 anos.

Elevações dos juros nos EUA podem resultar na saída de investidores do Brasil, uma vez que o retorno do investimento no Tesouro americano melhora.

Analistas avaliam, porém, que os juros americanos seguem muito baixos –entre 0,25% e 0,5% ao ano– e isso não deverá provocar fuga de capital no curto prazo.

A perspectiva de aquecimento das cotações das commodities não está relacionada apenas às questões da guerra na Ucrânia. Esse segmento produtivo também ganhou fôlego nos últimos dias porque a China anunciou medidas de apoio ao mercado.

Os contratos futuros de minério de ferro também subiram 4,01% nesta quinta. A China é o principal consumidor desse material, além de maior produtor de aço do mundo.

A promessa de uma política expansionista de Pequim provocou forte recuperação nas principais Bolsas da Ásia, que vinham afundando devido ao avanço dos casos de Covid-19 em algumas das principais cidades chinesas.

A Bolsa de Hong Kong disparou 7,04%. O índice que acompanha ações de empresas chinesas listadas em Xangai e Shenzhen subiu 1,96%. No Japão, a Bolsa de Tóquio ganhou 3,46%.