SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A queda de aproximadamente 10% do preço do petróleo no mercado internacional ditou o ritmo do câmbio e da Bolsa no Brasil nesta segunda-feira (28). Um lockdown em Xangai devido ao avanço da Covid-19 na China e a expectativa de novas conversas entre Rússia e Ucrânia criaram a atmosfera para a desvalorização da matéria-prima devido a preocupações sobre redução de demanda por paralisações nas cadeias de suprimentos em um remoto cenário de aumento da oferta russa em caso de um cessar-fogo.

Ao lado dos juros altos, o setor de matérias-primas é um grande atrativo do Brasil para os dólares de investidores estrangeiros.

Às 17h11, antes do fechamento pós-mercado, o Ibovespa caía 0,28%, a 118.746 pontos. A estatal Petrobras perdia de 2,63% nas suas ações mais negociadas e, com isso, era a principal responsável pela baixa do índice de referência da Bolsa após oito pregões no azul.

No final da sessão, o mercado também passou a digerir a demissão do presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, após uma série de desgastes com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em razão do mega-aumento dos preços nos combustíveis.

Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, afirmou que a demissão de Silva e Luna foi um forte "vetor de pressão" sobre as negociações dos papéis da petrolífera, mas ressaltou que o preço real do desligamento só será conhecido após um pronunciamento do governo sobre o futuro da companhia.

"O mercado está esperando o Bolsonaro falar qual vai ser o próximo presidente, qual será a tomada de decisão, daí sim o mercado entende que deve fazer algum preço", comentou.

A Vale avançou apenas 0,24%, apesar do dia de alta nos contratos de minério de ferro. Preocupações com a China tendem a prejudicar o desempenho da mineradora, que tem no país asiático o principal destino para suas exportações. Ainda assim, a companhia deu a principal contribuição positiva ao Ibovespa.

Refletindo esse cenário de baixa na Bolsa, o dólar fechou em alta de 0,56%, subindo a R$ 4,7740. A moeda americana teve a primeira alta após as oito quedas consecutivas que a tinham colocado na menor cotação desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020.

A alta do dólar não é só resultado da queda do petróleo nesta segunda. A moeda americana também ganhava valor no exterior devido ao movimento de investidores em direção ao crescente rendimento dos títulos soberanos de dez anos dos Estados Unidos, que chegou a superar 2,5% pela manhã, indo ao pico em três anos.

Depois de o banco central norte-americano ter elevado os juros em 0,25 ponto percentual neste mês, pela primeira vez desde 2018, os mercados monetários passaram a precificar ajuste mais agressivo, de 0,5 ponto, no próximo encontro do Fed (Federal Reserve), o que é visto como fator de impulso global para os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e para o dólar.

Na agenda da semana, o mercado aguarda a divulgação do índice de inflação norte-americano PCE —preferido do Fed para a alta dos preços— e do relatório de emprego do governo dos EUA, "ambos dados que poderão intensificar o forte movimento de abertura dos juros (nos EUA) que temos acompanhado recentemente", disse em nota Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

Após um dia de oscilações, o mercado de ações dos Estados Unidos fechou em alta. O índice de referência S&P 500 subiu 0,71%. O Dow Jones avançou 0,27%. A Nasdaq ganhou 1,31%.

Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em queda de 0,14%. Paris e Frankfurt subiram 0,54% e 0,78%, nessa ordem.

PETRÓLEO DESABA COM AVANÇO DA COVID NA CHINA

O preço do barril do petróleo Brent afundava 9,46%, cotado a US$ 109,24 (R$ 521,90), no encerramento da tarde desta segunda. Restrições impostas pela China à circulação de pessoas em Xangai, cidade com 25 milhões de habitantes, reavivaram temores de que o avanço da Covid-19 possa criar transtornos à cadeia global de suprimentos.

O centro financeiro chinês de Xangai informou neste domingo que fará um lockdown na cidade em duas etapas para realizar testes de Covid-19 durante o período de nove dias, após ter reportado um novo recorde diário de infecções assintomáticas.

O principal índice das empresas listadas em Xangai e Shenzhen caiu 0,63%.

Além disso, também há preocupação no mercado de petróleo com uma eventual ampliação da oferta, hoje ameaçada pelas restrições impostas à produção da Rússia. Barreiras que poderiam cair ou ser amenizadas em caso de um cessar-fogo na guerra da Ucrânia.

Ucrânia e Rússia se preparam para as primeiras negociações de paz a serem feitas de forma presencial em mais de duas semanas, que devem ocorrer a partir desta terça-feira (29) na Turquia. Autoridades ucranianas disseram, porém, que não há expectativas de um grande avanço.

O fato de a próxima rodada de negociações ocorrer presencialmente, no entanto, pela primeira vez desde uma reunião tensa entre ministros das Relações Exteriores dos dois países em 10 de março, sinaliza uma mudança de tom, à medida que a Rússia tem encontrado dificuldade em avançar e ganhar território.

RISCOS DIFICULTAM QUEDA DO DÓLAR A R$ 4,50

A moeda norte-americana vem de uma sequência de oito sessões seguidas de desvalorização, a maior desde uma série de mesma duração finda em 5 de março de 2010. No período, o dólar perdeu 7,98% frente ao real, depois de fechar a sexta-feira em R$ 4,74.

Participantes do mercado já vinham alertando desde a semana passada que havia possibilidade de eventual correção no preço do dólar, já que é normal ver movimentos de ajustes após oscilações expressivas da moeda.

"Com mais força cambial ficando para trás, poucos argumentos convincentes para redução considerável do prêmio de risco e o real sensível à possível piora no sentimento global de risco, a recompensa pelo risco de posições compradas em real parece menos atraente agora do que há muitas semanas atrás", disse o Goldman Sachs em relatório, embora enxergue possibilidade de a moeda atingir níveis em torno de R$ 4,50 por dólar no curto prazo, apoiada, entre outros fatores, pela disparada recente nos preços das commodities.

O banco também citou preocupações com as perspectivas de crescimento do Brasil —cuja economia deve ser afetada pela crise na Ucrânia— e desafios fiscais domésticos como possíveis empecilhos para valorização adicional do real no médio prazo.

A possibilidade de o Banco Central encerrar seu ciclo de aperto monetário em maio, com o presidente Roberto Campos Neto sinalizando alta da Selic a 12,75% ao ano, também foi destacada pelo Goldman Sachs, que, assim como várias outras instituições financeiras, esperava elevação adicional dos juros em junho.

Custos de empréstimos mais altos têm sido apontados como importante fator de impulso para o real, já que tornam a moeda mais atraente para investidores que buscam lucrar com a tomada de empréstimos em países de juro baixo e aplicação desses recursos num mercado que oferece maiores rendimentos. Atualmente, a Selic está em 11,75%.

Apesar da recuperação desta manhã, o dólar ainda cai mais de 14% no acumulado do ano frente ao real, cujos ganhos em 2022 são os mais acentuados do mundo.

Na última sexta (25), a valorização do real em relação ao dólar completou um ciclo de quatro semanas. A última vez que a moeda brasileira perdeu para a americana no fechamento semanal foi em 25 de fevereiro, um dia após tropas da Rússia invadirem a Ucrânia.

O dólar fechou o pregão desta sexta valendo R$ 4,7470. O tombo foi de 1,77% em relação ao dia anterior. Essa é a menor cotação desde os R$ 4,72 registrados no encerramento da sessão de 11 de março de 2020, dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a pandemia de Covid-19.

Na semana passada a divisa dos Estados Unidos afundou 5,38%. No acumulado de 2022, o mergulho atingiu 14,86%.