RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O novo plano de investimentos da Petrobras prevê a distribuição de US$ 60 bilhões a US$ 70 bilhões (R$ 336 bilhões a R$ 392 bilhões, pela cotação atual) em dividendos pelos próximos cinco anos, uma média de R$ 67 bilhões a R$ 78 bilhões por ano.

A empresa estabeleceu ainda um valor mínimo obrigatório de US$ 4 bilhões (R$ 22 bilhões) por ano, independente do resultado, desde que o petróleo esteja acima dos US$ 40 (R$ 224) por barril. A nova política de remuneração prevê a distribuição trimestral dos recursos aos acionistas.

Em 2021, a empresa bateu recorde na distribuição de dividendos, com o anúncio de R$ 63,4 bilhões como retorno pelo lucro de R$ 75,1 bilhões acumulado no primeiro semestre. O elevado pagamento em meio à escalada dos preços dos combustíveis foi alvo de críticas da oposição e até de aliados do governo.

O próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou semanas se queixando da gestão da empresa, chegando a afirmar ter desejo de privatizá-la, declarações que se tornaram alvo de investigações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A Petrobras justifica as mudanças na política de dividendos por ter alcançado no terceiro trimestre de 2021 sua meta de redução de dívida bruta para US$ 60 bilhões (R$ 336 bilhões), que era esperada para o final de 2022.

O valor máximo previsto para a distribuição de dividendos é maior do que os investimentos projetados pelo plano, de US$ 68 bilhões (R$ 381 bilhões), que serão focados na exploração e produção de petróleo, principalmente no pré-sal.

Em conferência com analistas nesta quinta (25), o diretor Financeiro da companhia, Rodrigo Araújo, disse que a melhora na situação financeira permite que a Petrobras seja "uma empresa que retorna seus ganhos à sociedade e aos acionistas em geral".

A empresa calcula um retorno de US$ 100 bilhões (R$ 560 bilhões) a governos com o pagamento de impostos e da parcela da União nos dividendos, que deve ficar entre US$ 20 e US$ 25 bilhões (R$ 112 a R$ 140 bilhões).

Na nova política de remuneração aos acionistas, a estatal mantém a marca de US$ 60 bilhões para sua dívida ótima, mas admite trabalhar em alguns períodos com US$ 65 bilhões. Com a dívida abaixo da primeira marca, a empresa distribuirá 60% da diferença entre o fluxo de caixa e os investimentos.

Na conferência para detalhar o plano de negócios, o diretor de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Petrobras, Roberto Ardenghy, rebateu críticas de que a empresa tem negligenciado alertas sobre os impactos da transição energética no setor de petróleo.

"Temos consciência do papel da Petrobras e das empresas de petróleo no contexto da transição energética", afirmou, argumentando que o mundo ainda precisará de petróleo por muito tempo. "Essa transição não vai se dar da noite para o dia."

A companhia argumenta que o mercado vai começar a precificar as emissões sobre a produção de petróleo, o que dá vantagem ao pré-sal. "Temos que ter pé no chão para entender que melhorando nossos processos podemos dar uma alta contribuição [para a redução das emissões]", disse o executivo.

A estratégia ambiental da Petrobras será, portanto, focada em reduzir as emissões de suas operações. Para isso, prevê US$ 1,8 bilhão (R$ 10 bilhões) em medidas para descarbonização das atividades. Em setembro, frisou Ardenghy, a empresa se comprometeu a zerar as emissões líquidas até 2050.

A visão é questionada por especialistas, principalmente após os duros alertas da COP26, da Agência Internacional de Energia e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas sobre a necessidade imediata de reduzir a produção de combustíveis fósseis.

Ardenghy disse que a Petrobras vai estudar tecnologias de energias renováveis, como eólicas offshore (no mar), hidrogênio e energia geotérmica. Mas não há previsão de investimentos em projetos de geração no horizonte do plano de negócios.

O plano separa a maior parte dos recursos para a implantação de 15 novas plataformas e seus respectivos equipamentos submarinos, que elevarão a produção de petróleo e gás da companhia para 3,2 milhões de barris por dia em 2026.

Um desses sistemas será instalado nas reservas gigantes descobertas na última década nas águas ultraprofundas de Sergipe, área apontada como a próxima fronteira petrolífera do país após pré-sal, que havia sido preterida em planos anteriores.

Com início de operações previsto para 2026, a primeira unidade da região vai produzir 120 mil barris de petróleo e entregar 4 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.

A empresa separou também recursos para a exploração de novas fronteiras no litoral das regiões Norte e Nordeste, que hoje enfrentam desafios no licenciamento ambiental, e em pesquisa para recuperar mais petróleo dos reservatórios já em operação.

Um programa de recuperação de reservatórios foi lançado com expectativa de ampliar em 20 bilhões de barris as reservas brasileiras de petróleo, volume equivalente aos 23 bilhões já produzidos até agora.

"A empresa segue focando no que faz de melhor, que é a exploração e produção de ativos de óleo e gás em águas profundas e ultraprofundas, em especial os ativos do pré-sal, onde a Petrobras tem vantagens competitivas e consegue gerar maior valor", disse o presidente da companhia, Joaquim Silva e Luna.