RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Com um balanço impactado positivamente pelos elevados preços do petróleo e dos combustíveis, mas com efeitos negativos da desvalorização do real, a Petrobras registrou lucro de R$ 1,2 bilhão no primeiro trimestre de 2021.

Desconsiderando efeitos não recorrentes, como o efeito do dólar caro sobre sua dívida, o lucro teria sido de R$ 1,6 bilhão, informou a empresa nesta quinta (13). No primeiro trimestre de 2020, com revisões contábeis no valor dos ativos após o início da pandemia, a empresa teve prejuízo de R$ 48,5 bilhões.

“Os números demostram a capacidade do nosso time de gerar resultados sustentáveis para os nossos investidores e para a sociedade em geral, mesmo em um contexto desafiador", disse, no balanço, o presidente da estatal, o general Joaquim Silva e Luna.

Silva e Luna assumiu o comando da Petrobras em abril, já após o fim do trimestre, em uma conturbada troca de comando que derrubou as ações da empresa e gerou debandada inédita no conselho de administração, com cinco membros declinando de convite do governo para permanecer nos cargos.

Entre janeiro e março, ainda na gestão do então presidente Roberto Castello Branco, a Petrobras promoveu uma série de reajustes em suas refinarias, com alta acumulada de 35% e 28% nos preços da gasolina e do diesel, respectivamente, gerando um movimento de insatisfação entre caminhoneiros e na base de apoio do governo.

No balanço divulgado nesta quinta, a estatal diz que operou no primeiro trimestre em um cenário de preços do petróleo melhores do que no mesmo período do ano anterior e vendeu os combustíveis que produz a um preço médio de R$ 350 por barril, 22,1% acima do verificado nos primeiros três meses de 2020.

Assim, sua receita subiu 14,2%, para R$ 86,1 bilhões e seu Ebitda, indicador que mede a geração de caixa, avançou 29,3%, para R$ 47,7 bilhões. O desempenho, diz a estatal, reflete as maiores margens de lucro tanto nas vendas de petróleo quanto nas de combustíveis, apesar dos menores volumes comercializados.

O desempenho favorável nos preços do mercado interno durante o primeiro trimestre, porém, foi parcialmente compensado pelo impacto negativo de R$ 18,7 bilhões da variação cambial sobre sua dívida, 123% acima do registrado no mesmo período de 2020.

A Petrobras fechou o trimestre com dívida bruta de de US$ 70,9 bilhões (R$ 388 bilhões, pelo dólar médio de vendas no período), queda de 20,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.

“São números muito fortes e que demonstram que estamos no caminho certo", disse no documento entregue à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) o diretor Financeiro da companhia, Rodrigo Araújo Alves.

"Vamos continuar com foco total nas estratégias estabelecidas em nosso Plano Estratégico, gerando valor em todas as nossas operações e projetos e administrando nosso portfólio com o objetivo de maximizar retornos para nossos acionistas e demais stakeholders [públicos de interesse].”

No primeiro trimestre, a Petrobras produziu 2,765 milhões de barris de petróleo e gás por dia, queda de 5% em relação ao primeiro trimestre de 2020, resultado de vendas de ativos de produção e declínio natural de campos produtores. Na comparação com o quarto trimestre de 2020, houve alta de 3,1%.

A área de exploração e produção de petróleo e gás teve lucro de R$ 21,5 bilhões, contra prejuízo de R$ 30,2 bilhões no mesmo trimestre de 2020, também sob o efeito de reversão nas expectativas de receita futura com a queda do preço do petróleo após o início da pandemia.

Já área de refino, que é responsável pelas venda de combustíveis e exportação de petróleo, lucrou R$ 6,9 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 3,4 bilhões nos primeiros três meses de 2020.

Embora tenha sido nomeado em meio a críticas sobre a política de acompanhamento das cotações internacionais do petróleo, Silva e Luna afirmou em sua posse que respeitaria a paridade internacional de preços e que o desafio da empresa é "conciliar interesses de consumidores e acionistas".

Em sua manifestação no balanço do primeiro trimestre, ele voltou a sinalizar continuidade em relação à gestão anterior: "A Petrobras continuará a trajetória de geração de valor, com uma gestão pautada na transparência, no diálogo e na racionalidade e com investimentos concentrados nos ativos em que somos reconhecidos como líderes mundiais”.

Ligado aos sindicatos de petroleiros, o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) ressaltou que a companhia recuperou participação de mercado nas vendas internas dos principais combustíveis, antes atacadas por importadores privados.

“A Petrobras abocanhou 73% do mercado de diesel e de gasolina neste primeiro trimestre de 2021, enquanto no mesmo período do ano passado foi de 65,6%. A possibilidade de contar com um amplo mercado interno dá à Petrobras flexibilidade para gerenciar o destino de suas vendas”, comentou o pesquisador do instituto William Nozaki.